Por Ricardo Bonfanti e Vitória Parise / Da Agência de Notícias da UFSM
O Relatório de Gestão 2018-2021 da UFSM, com a relação das principais atividades desenvolvidas durante a gestão dos professores Paulo Afonso Burmann, enquanto reitor, e Luciano Schuch, vice-reitor, foi apresentado em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (16), na sala dos conselhos, prédio da Reitoria. O relatório está dividido em 13 tópicos que abarcam todas as áreas que envolvem gestão na universidade, bem como a evolução e a expansão universitária que ocorreu nesse período, incluindo os efeitos da pandemia de coronavírus nas ações desenvolvidas dentro da UFSM.
Burmann afirmou que, não só nos últimos quatro anos, mas também em sua primeira gestão na Reitoria, tendo com o vice-reitor Paulo Bayard, a UFSM, assim como as demais universidades federais, sofreu uma série de restrições severas de orçamento. Ainda assim, com readaptação e trabalho coletivo, foi possível fazer muita coisa. “Fomos forçados a nos readaptar, redimensionar projetos e prioridades. Soubemos, com a participação de toda a comunidade acadêmica, nos adaptar, nos reinventar, uma reengenharia orçamentária, acadêmica e de gestão que viabilizou o funcionamento da Universidade, levando-a ao nível em que se encontra hoje, o que é resultado do trabalho de muita gente. A Universidade tem uma equipe de administração, mas a responsabilidade final é da comunidade, professores, estudantes, técnico-administrativos e comunidade em geral, que acompanha os passos de uma Universidade que é pública, precisa continuar sendo pública, e precisa prestar contas à comunidade”, afirmou.
O reitor destacou que a UFSM finalmente tem um plano de gestão alicerçado no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), que passou a ser o guia da gestão, orientando todos os passos, com visão de futuro, planejamento e transparência, a partir dos sete desafios institucionais: internacionalização; educação inovadora e transformadora com excelência acadêmica; inclusão social; inovação, geração de conhecimento e transferência de tecnologia; modernização e desenvolvimento organizacional; desenvolvimento local, regional e nacional; e gestão ambiental. “A Universidade e todas suas ações estiveram exatamente alicerçadas neste conjunto de desafios estabelecidos no âmbito do PDI”, ressaltou.
O primeiro ponto destacado por Burmann foi o avanço em indicadores de qualidade, especificamente dos cursos de graduação, apontada pelos órgãos de controle. Afirmou que a previsão para 2022 é alcançar o conceito 5, de excelência, conforme estabelecido pelo PDI. “Apenas alguns décimos nos separam da faixa do conceito 5, para termos a UFSM entre as universidades de excelência do Brasil, o que é resultado de um trabalho muito intenso, de muita gente”, disse. O número de cursos com Conceito Preliminar de Curso (CPC/MEC) com nota máxima também já se aproxima da meta prevista no PDI. No quesito pesquisa, a meta para 2022 é chegar ao 20º lugar entre as universidades brasileiras – algo que também a Instituição deve atingir, na previsão do reitor. Como exemplo, ele lembrou que em 2017 a UFSM ocupava a 31ª posição em pesquisa.
Referiu-se também a conquistas importantes relacionadas a ingresso e permanência, recordando da mudança no sistema de ingresso, a partir de 2016, para o Enem/Sisu, que “vem se mostrando seguro e inclusivo, proporcionando o ingresso das mais diferentes classes sociais. Grupos que outrora tinham dificuldades imensas agora se fazem mais presentes neste espaço”, observou. Com o Enem/Sisu, o preenchimento das vagas oferecidas pela UFSM subiu para uma média de 93% nos últimos anos, enquanto que com o vestibular ficou na faixa de 80%. Já a evasão, que era outra preocupação, diminuiu.
Burmann disse que o sistema de ingresso precisa permanentemente de reavaliação, também por conta das instabilidades no Inep/MEC. “Isso nos traz preocupações, e estamos estudando um plano B para o sistema de ingresso, com responsabilidade e seriedade”, afirmou, acrescentando que a UFSM sente cada vez mais necessidade de integrar-se com o sistema educacional brasileiro, e há a possibilidade até mesmo de ser rediscutido o modelo do antigo Programa de Ingresso no Ensino Superior (Peies).
Ainda sobre ingresso e permanência, o reitor enfatizou a importância da política de ações afirmativas da Universidade, com processos seletivos específicos para indígenas, migrantes e refugiados em vulnerabilidade social, além do programa de assistência estudantil, considerado um dos mais amplos da América Latina, com quase 5 mil estudantes contemplados com o Benefício Socioeconômico.
Burmann afirmou que, mesmo em meio a uma das maiores crises orçamentárias que a Universidade já viveu, foi possível aumentar o número de alunos, de cursos oferecidos e concluir obras importantes, como o Centro de Convenções e prédios nos diferentes campi. “Isso é resultado de trabalho, de compromisso, de seriedade na condução de todos os processos. Precisamos compreender que recurso para educação não é gasto, é investimento. A Universidade vem se sustentando em diversas frentes, é patrimônio da sua própria sociedade, é por isso que se sustenta, se mantém e cresce, é pelo conjunto de atores, mas especialmente por esta linha de defesa que se forma a partir da sociedade, que se sente parte dela. Há um sentimento de pertencimento”, comentou.
Ainda sobre as obras executadas nos últimos anos, Burmann citou a criação do Campus de Cachoeira do Sul, que, dos R$ 129 milhões previstos inicialmente, foram recebidos pouco mais de R$ 25 milhões. “Foi possível com participação muito intensa das pró-reitorias e unidades acadêmicas. O Campus já teve formaturas e o preenchimento de vagas surpreendeu. Onde a Universidade se aproxima da comunidade, quando estabelece vínculos e pontes, as coisas acontecem mais rapidamente. Esta tem sido a tônica de todos os campi”, assegurou. Relatou ainda a inauguração do Espaço Multidisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão, em Silveira Martins, a entrega do Restaurante Universitário reformulado e a pista de atletismo de padrão olímpico que está sendo construída no Campus Sede, entre outras obras.
Obras na antiga Reitoria
Também anunciou que uma equipe da UFSM está trabalhando na recuperação do prédio da antiga Reitoria, no centro de Santa Maria, que deverá se constituir em um espaço para utilização da comunidade. Já um grupo técnico avalia o destino do garajão, que fica atrás do prédio, na Rua Astrogildo de Azevedo. Com estrutura comprometida, o garajão deverá ser demolido, e uma das possibilidades é que dê lugar um espaço de circulação, até mesmo com ligação à Rua Alberto Pasqualini. O estudo que está sendo feito por um grupo da Universidade vai levar em conta a opinião da comunidade santa-mariense. “Será uma intervenção importante no centro e precisa ser discutida com a comunidade local”, afirma.
Burmann ainda fez especial referência a projetos de extensão desenvolvidos pela UFSM, como os dos Geoparques Quarta Colônia e Caçapava do Sul, de grande impacto regional, e apontou outros avanços obtidos pela Universidade no período, como o fomento à inovação e empreendedorismo, com a criação do Parque de Inovação Científica e Tecnológica, programas de incubação e outras iniciativas que fazem da Universidade uma das mais avançadas do país neste campo, além da expertise em ciências agrícolas, de grande relevância para o setor produtivo.
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UFSM na corrida espacial e no combate à pandemia
A internacionalização foi outro avanço apontado – citou como exemplo acordos firmados com universidades chinesas, além de relações profícuas com inúmeros países. Também além fronteiras tem sido a participação de destaque da UFSM na exploração do espaço, com dois nanossatélites já em órbita – considerados eventos épicos para a Universidade – e um terceiro em produção. “São ações que pareciam muito distantes, participar da corrida espacial, mas entramos”, afirmou.
O trabalho de enfrentamento à pandemia de Covid-19, que mobilizou diversos setores da UFSM a partir de 2020, também teve espaço na fala do reitor, que citou a realização de testes RT-PCR e outras ações. “Conseguimos reduzir em vários níveis a gravidade da pandemia”, enfatizou. A colaboração com o Hospital Universitário (Husm) não se limitou ao enfrentamento da pandemia. Burmann reiterou a importância do Husm, que é administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), e lembrou que foi entregue um tomógrafo para o pronto-socorro do hospital.
Com a gestão a encerrar-se no dia 23 de dezembro, o reitor afirmou que deixa a Reitoria com tranquilidade, satisfeito por ver a UFSM como a 14ª melhor universidade brasileira no ranking do MEC, mas ciente de que ainda há muito a ser feito. Agradeceu ao vice-reitor pela parceria e disse ter certeza de que “o trabalho vai ter continuidade com esta equipe que está se estruturando para seguir em frente, levar a Universidade para rumos ainda mais altos”.
A universidade e a questão orçamentária
Ao final da apresentação, Burmann respondeu algumas perguntas realizadas pela imprensa presente no local. Uma das principais questões foi da restrição orçamentária severa da universidade e como será o desafio de administrar esse fato durante os próximos anos. Segundo Burmann, a luta junto ao Congresso Nacional ainda está em andamento, juntamente com a Comissão Mista de Orçamento, para recuperar o orçamento, pelo menos, nos patamares de 2019. “Queremos ir além, estamos contando com o fato de que, neste ano de 2021, a inflação está atingindo entre de 10 a 12%, então podemos imaginar que teremos uma facilidade de operação da universidade com um orçamento nos níveis de 2019. Nós pelo menos precisamos chegar ao patamar de 2019, que desde então foi reduzido de forma muito impactante”, comentou.
O reitor também foi questionado sobre a relação entre a universidade e as gestões que passaram pelo do Governo Federal durante os últimos oito anos, especialmente pelo governo ter sido ocupado por campos políticos tão opostos. Em oito anos de gestão, nove ministros já passaram pela pasta da Educação. Para Burmann, os governos vêm e vão, assim como as gestões na universidade, pois são processos transitórios e que precisam de adaptação com o fechamento de ciclos e a abertura para aqueles que virão. “O governo não dura para sempre. Este certamente não vai durar para sempre. Nos trouxe grandes dificuldades, sem dúvida alguma, talvez as maiores dificuldades. Mas, o descuido com a educação não é uma exclusividade do governo atual, talvez estamos enfrentando o pior cenário nesses oito anos. Por conta da falta de recursos para a educação e a tentativa de destruição da imagem da universidade. Isso realmente traz preocupações para o atual momento e o futuro da universidade. De fato, é lastimável de todos os aspectos. Precisamos trabalhar muito duramente para a recuperação deste patrimônio nacional, já que muitos talentos brasileiros foram embora por conta da falta de investimento na área de ciência. Formamos pesquisadores e profissionais com recurso público e os entregamos gratuitamente para outros países”.
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