Contos

Milena – por Francisco Ricardo Brugni Cruz

Da caverna do nosso castelo na praia (a muralha de areia que havíamos erguido nos abrigava do açoite do vento que vinha do mar) onde nos escondíamos das perseguições da avó, vimos quando os dois homens (um branco e um mulato) jogaram o negro para fora do saveiro e ele caiu de bruços a se debater na água rasa da maré vazante; como não conseguia levantar-se, os dois passaram a chutá-lo na direção das dunas, aproveitando-se os dois do movimento das ondas para rolá-lo com o menor esforço possível, até quando ele acabou de rolar igual rolaria um tronco de coqueiro ao sabor das ondas naquela praia deserta, iluminada apenas por uma tênue fatia da lua nova e pelo longínquo brilho das estrelas; vimos quando eles o ergueram e o negro tinha uma máscara a lhe encobrir o rosto e vimos que ambos os braços dele estavam voltados para suas costas nuas e as mãos estavam amarradas por uma corda que dava uma volta inteira em torno da sua cintura negra, e um outro negro ou mulato — que desembarcara em seguida, não o havíamos notado até então — esticava-o pela outra extremidade da corda, o que parecia servir para guiá-lo na direção dos outros dois que iam mais à frente, ao mesmo tempo que, se aproximando do homem subjugado, da outra extremidade da corda, dela se valia ele para usá-la como chicote, sendo que este mesmo mulato (ou negro) não cessava de açoitá-lo, e assim obrigava-o a manter-se de pé e seguir adiante apesar dos seus passos trôpegos, como se não passasse aquele homem de um animal selvagem que tivessem capturado e daquela maneira impiedosa era como o conduziam; vimos quando os dois outros homens (o branco e o mulato) conferenciaram entre si e arrebataram a corda das mãos do outro mulato (ou negro) e o mandaram de volta para o barco e um deles disse elevando a voz fique lá tomando conta da porra do saveiro, e depois de ter falado assim os dois arrastaram o negro para cima da duna onde começava a fila dos coqueiros e o outro disse aqui está bom, só queria ver a cara daqueles filhos-duma-puta quando encontrarem ele de manhã, e vimos quando mais uma vez o derrubaram, dessa vez utilizando-se do que parecia ser uma estaca, e usando-a como um porrete o espancaram espancaram espancaram ali mesmo e o chutaram chutaram chutaram onde bem quiseram e vimos que chutavam mais no rosto e nas costas e no peito e novamente no rosto — o tempo do massacre durou uma eternidade se medido pelo esforço que eu fazia para não respirar, ou para que minha respiração entrecortada se confundisse com o murmúrio ininterrupto e cadenciado do mar — até quando se deram eles por satisfeitos e o abandonaram caído na areia e pareciam felizes por ter feito o que fizeram e diziam coisas que eu não entendia direito (o medo de sermos descobertas me fazia urinar e tremer sem parar, mas eu nem me preocupava com isso e sim em não fazer o menor ruído) e ao mesmo tempo eles riam-se riam-se riam-se escancaradamente e entendi bem claro quando disseram só assim ficamos livres de filhos-duma-puta dessa espécie, o sacana teve o que merecia, vai servir de lição pros outros, agora vai ficar aí e virar pasto pros caranguejos e urubus, e falando o que eles bem queriam e sem parar de rir, afastaram-se e voltaram a entrar na água e embarcaram e partiram gritando ordens ásperas para o mulato (ou negro) que ficara tomando conta do saveiro, e só quando se distanciaram, saímos do nosso esconderijo, eu e Milena, então nos aproximamos do corpo do homem negro tombado na areia e fiz com que Milena tocasse nele e ele não se mexeu.

Olhei bem de perto para o que antes havia pensando fosse uma máscara a esconder-lhe o rosto, mas não havia máscara nenhuma e sim uma grossa mordaça feita de trapos que tinha começado a se desfazer em franjas e farrapos misturadas a coágulos de sangue e areia a lhe encobrir o rosto deformado, e aquele rosto, sim, era como uma máscara com olhos inchados projetados para fora das órbitas como os de um peixe morto, enquanto sua cabeça sangrava bastante: toquei nele (no rosto) e senti o sangue esguichar num jorro pegajoso por entre meus dedos: riscou o ar e circunscreveu um longo e ríspido arco e com avidez foi sorvido, sugado, mal pousou na areia, e no ponto exato em que nela pousou, ali, naquele ponto, a areia ficou subitamente opaca, sem refletir o brilho da lua nem das estrelas, então assustei-me quando o homem produziu um som, um longo estertor borbulhante e entrecortado por outros sons e silvos, como se das suas entranhas fosse brotar súbita explosão e viesse a recair sobre minha, nossas cabeças, um castigo que descesse dos céus ou emergisse dos infernos e nos atingisse e nos marcasse o corpo (e a alma) com o emblema malévolo daquela noite, marcando-nos assim para sempre pela nossa ousadia, e senti de novo a mesma sensação de medo que me fizera silenciar e tremer e urinar sem parar e Milena também teve medo, eu juro que teve, então nos agarramos num abraço e nos afastamos dali como dois grauçás assustados, a correr desorientadas e descalças sobre a areia, açoitando-a sem querer com o movimento brusco dos meus pés, sobre o corpo do homem morto, ou melhor, do homem que julgávamos estivesse morto, e eu nem sentia que podia sufocar Milena, apertando-a daquele jeito contra meu peito, ao mesmo tempo em que lhe pedia por tudo de mais sagrado e que mais amasse nesse mundo ficasse calada, jamais dissesse para ninguém ninguém ninguém o que tínhamos visto nem o que fizéramos naquela noite, e Milena não dizia nada, somente me olhava (um par de olhos azuis que só sabiam olhar e piscar por detrás de suas longas pestanas de seda), tampouco ela disse coisa alguma quando desfiz com os pés a muralha do castelo que havíamos construído para nós duas naquela noite, o mesmo castelo tantas vezes construído, destruído e reconstruído, (não passava de um buraco cavado na areia molhada da praia) onde nos refugiávamos da ira da avó, e somente quando não houvesse vestígio algum de que estivéramos lá, o abandonávamos — daquele nosso castelo, por uma última vez, antes que o destruíssemos, olhamos para além dele e de novo olhamos e vimos o quanto era real, real como um pesadelo, aquele vulto negro e imóvel estendido ao pé do coqueiral —, portanto apressamo-nos em vestir nossos vestidos, porque eu estava nua e Milena também estava, era assim que nos refugiávamos no interior de nossa muralha, nuas, para que a areia não penetrasse nas dobras do tecido (os vestidos de Milena eram sempre iguais aos meus, modelados e costurados pela mãe com retalhos que sobravam quando ela os costurava para mim) e não nos denunciasse, sim, estávamos nuas porque era como preferíamos ficar quando estávamos a sós sem que ninguém pudesse nos ver e censurar, e era assim, nua, que tantas vezes eu a mantinha apertada contra meu corpo e a sentia úmida e quente pousada entre minhas coxas, ou comprimida contra meu sexo, ou apertada contra meu peito, contra minha carne nua suave e macia e dourada pelo sol e tocada pelo vento —, ou melhor, depois que eu a vesti (era sempre eu que a vestia), voltamos correndo, esfogueadas, furtivas e silenciosas como duas sombras, para meu quarto, o quarto da nossa casa na vila, onde a velha e rabugenta avó não cessava de nos perseguir, isto é, cessou de nos perseguir, sim (mas não a mim), somente quando achou que havia definitivamente nos separado, e achamos melhor que ela acreditasse que sim, que conseguira, e tudo o que tínhamos a fazer era esperar para que ela acreditasse que eu a esquecera em definitivo (a Milena), era a única maneira dela (da avó) jamais descobrir e assim impedir aquelas escapadas noturnas para o nosso refúgio no castelo de areia da praia agora tão distante, porque ela, a velha, insistentemente nos vigiava e nos separava, a implicar comigo pelo hábito de andar comer brincar dormir juntas, eu e Milena, abraçadinhas, cúmplices e confidentes como desde que me entendo éramos, as duas — a mãe, jamais nos separou —, até quando ela, a velha, entendeu que não era mais possível ficarmos juntas porque pecávamos contra Deus, contra a igreja, contra os homens, contra tudo, arrebatando-a de mim e para que eu a esquecesse, a Milena; desde então me obrigava a ajoelhar-me com ela (com a avó) todas as noites antes de dormir, e a rezar as rezas do seu infindável rosário de contas e eu era obrigada a ouvir suas lamúrias e queixas e súplicas e graças e hosanas e salve-rainhas e atos de contrição e creio em Deus-padre e dezenas de Ave-Marias e agora e na hora da nossa morte, amém, e depois me repreendia, eram longos sermões e ameaças, eu não teria salvação, era uma perdida, perdida como minha mãe, uma perdida, está ouvindo, todas as outras crianças da vila se afastariam e não brincariam comigo jamais, eu, indigna, tudo isso entrando por um ouvido e saindo pelo outro, enquanto só olhava em volta, aflita, sem atinar em qual lugar da casa ela a havia escondido; mas sem que ela soubesse eu a havia reencontrado (a Milena) no fundo do velho armário do quarto transformado em socavão de guardados que antes pertencera a minha mãe, em meio aos trastes mofados e quase decompostos pelo tempo foi onde a avó a escondera, de maneira que, após percorrermos todas as rezas de seu rosário e fingir que dormia, eu a retirava de lá e escapávamos, as duas, para nosso refúgio, o nosso castelo de areia, onde ficávamos a salvo dos olhos vorazes da velha avó que viviam a buscar-me pelos quatro cantos da casa, também naquele socavão dos seus guardados, no quintal, ou por onde quer que fosse que eu estivesse, e vigiavam-me, a cada instante, mesmo quando eu estava entretida com os outros meninos e meninas, como ela mesma me incentivava, a correr e brincar com elas, os meninos e as meninas da vila, como ela queria, a velha — enquanto Milena jazia esquecida entre trastes mofados e imprestáveis no fundo daquele socavão, ela julgando que eu de fato a houvesse esquecido, lá onde ela achava que o medo do pecado ou minha falta de argúcia não a reencontrariam nunca mais —, embora ela não soubesse que enquanto brincava tinha o pensamento voltado unicamente para Milena, somente Milena, muito mais que antes, e cada passo que dava, cada sorriso, cada brincadeira consentida, tudo era, em pensamento, intensamente compartilhado com Milena (como esquecê-la?).

Porque era impossível que alguém me separasse da minha querida Milena, mesmo sendo a avó, portanto era bom que ela continuasse pensando que assim escondida onde a escondera, estaríamos, ambas, protegidas e a salvo do meu amor; por causa desse amor Milena fora violentamente arrancada dos meus braços, eu me desfazendo em súplicas e lágrimas enquanto ela, a avó, apenas lembrava-me de todos os castigos e dos ferros e das brasas dos infernos a consumir por toda eternidade o meu pobre corpo de menina frágil tomado pela febre e por todos os tormentos consequentes daquela separação: meu sono por noites seguidas foi inquieto, cheio de terrores e temores, o pensamento continuamente avassalado por imagens de todos os castigos que por dias e noites povoavam meus sonhos, e não satisfeita vinha ela, a avó, arrancar-me dos meus delírios (estaria eu possuída?), para que não pecasse mais, e me obrigava a ficar de joelhos com ela para exorcizar-me e arrepender-me do meu amor por Milena, ou do que quer que fosse de impuro e maldoso conforme ela entendia, que me levara mais de uma vez a escondê-la sob os lençóis de minha cama, quando tudo o que desejava era o consolo de somente sentir seu corpo colado na almofada macia do meu corpo, senti-la a compartilhar da minha carne e do pulsar do meu sangue para só assim preencher-se e animar-se o seu pobre corpinho mirrado com o calor do meu, ou para deliciar-me, enrubescida, sentindo que minha umidade a deixava também úmida e que meu rubor a aquecia, então éramos levadas por lembranças de mangabas e cajus suculentos, e de pinhas colhidas ao sol e do gosto agridoce das mangas e pitangas do quintal que sangravam abundantes ao baterem contra o solo, rachando-se em feridas como minha boca ferida rachada pela febre, aquelas pitangas rubras como o rubor das minhas faces, não, não, manchadas de negro, não, como as negras manchas de minha alma, assim dizia-me a avó, sua voz áspera repetindo repetindo repetindo você é parecida nessas coisas com sua mãe o mal se corta pela raiz não vai crescer dentro da minha casa como uma perdida igual a ela, coitadinha, cuidado ela pode ouvir é só uma criança abandonada pela mãe — outra voz dizia, em minha defesa —, ela que ouça a mãe se foi pelo mundo como uma qualquer, sem saber jamais distinguir entre o bem e o mal — fosse lá o que queriam dizer com tudo isso, como mais tarde fui aos poucos entendendo e encaixando nos seus devidos ou indevidos lugares, mas pouco importando nada disso agora.

Tudo porque gostava de deitar-me nua com Milena, porque nuas nos divertíamos, como nos divertíamos naquela noite antes de assistirmos o homem ser espancado quando nos aconchegamos escondidinhas no nosso castelo de areia, e depois da visão do homem morto voltamos furtivas para meu quarto e nos atiramos juntas na cama, e na manhã seguinte não mais a encontrei ao meu lado, tampouco a encontrei no fundo do socavão onde ela (a avó) a escondia de mim, como nunca mais a encontrei em parte alguma da casa, inútil toda a procura, jamais voltei a vê-la depois daquela noite e muito menos voltei a tê-la nos meus braços, e na manhã seguinte, e por dias e dias depois daquela noite, nossa casa, a vila, todas as casas da vila, todas elas, transpiravam um ar estranho e estranhos movimentos dos seus moradores eram pressentidos: não nos deixavam (as crianças) sair para brincar e os homens e as mulheres da vila pareciam evitar-se uns aos outros, embora quando conversavam o faziam entre sussurros, e a estranheza entre eles faziam-nos — assim me parecia — moverem-se como bonecos e bonecas amedrontados dentro das suas próprias casas, e desse mesmo jeito se comportavam nas ruas quase vazias da vila, e nada diziam nem comentavam diante de nós, ou melhor, diante de nós (as crianças) silenciavam e não nos davam nenhuma resposta nem explicavam o por quê de não podermos ir brincar fora de casa, nem chegar até a praia, muito menos colher os frutos selvagens dos quintais, cajus, pinhas, araçás e mangabas, e por dias e dias continuaram do mesmo jeito, insensíveis aos nossos apelos, como se conjurados pela premência do medo, refratários ao sentimento de indignação que nos avassalava e determinados ao silêncio diante de algo tão terrível que perturbava e ameaçava o recatado equilíbrio do cotidiano de suas vidas.

De maneira que, diante desse algo terrível, tudo que achavam que precisavam e deviam fazer era dominar e controlar nossa agitação e curiosidade infantis, quando tudo o que conseguiram não foi outra coisa senão deixar-nos mais intrigadas, irrequietas e curiosas, a suspeita percorrendo cada olhar, a invenção habitando cada pensamento, menos para mim, que do meu esconderijo no castelo de areia (não estará a própria vida sempre à espreita, vigilante, por sobre os muros de um castelo de areia?) tinha visto o homem negro ser assassinado — essa a palavra maldita que todos pronunciavam entre sussurros, primeiro os adultos, os homens, as mulheres, chegando depois até às crianças aquela palavra quase impronunciável —, de modo que continuei fingindo que de nada sabia, de nada entendia, aquele segredo foi jamais revelado (nem por Milena), embora continuasse sem compreender, como ainda hoje é difícil compreender, tantas recriminações e ameaças e a evocação da avó de pecados e culpas por causa do meu amor por Milena, o íntimo elo entre uma menina e sua boneca, e mais o quanto terem eles se calado, a ponto de nenhuma voz ter jamais se levantado para exorcizar a violência que ceifara a vida de um deles,como também por nenhum deles ter se erguido contra o pecado e a culpa de se deixarem intimidar e nada terem feito diante do assassinato de um homem, o homem negro que vi ser assassinado naquela praia (como tantos outros homens negros e brancos e mulatos que todos os dias são assassinados e cujos corpos jazem sobre areias, ou encobertos pela lama dos barrancos, ou tombados sobre a neve, ou em qualquer outro lugar desse mundo que a avó dizia ser de Deus), ou melhor, vimos, eu e Milena.

E é por ela, a quem jamais esqueci, por ela a quem revejo perpetuada em cada novo encontro meu, ela, ressuscitada em carne e osso e desejo, em mim incorporada e exaltada de prazer em cada ritual para expiação dos meus pecados e das minhas culpas, as cometidas e as por cometer; por ela que está presente na convocação de cada novo pecado e de cada nova culpa; por ela que sinto como um ente próximo que vem comungar comigo o ímpeto fugidio de cada reparação, no sabor indizível de cada carícia insana e em cada doação do meu corpo; por ela que me refaço em cada
homem negro branco ou mulato por quem me apaixono como uma perdida e a eles me entrego, sedenta pelo jorro de vida que brota de seus corpos cansados suados, jorro que sorvo avidamente com o meu próprio corpo (igual vi naquela noite o sangue esguichado espojar-se e ser sorvido pela areia morna e generosa da praia), sedenta como sempre vivi tomada pelas lembranças daquelas noites da infância já tão distante.

O conto
Milena
, de Francisco Ricardo Brugni Cruz, de Salvador/BA, conquistou o 1º lugar na categoria Contos no 39º Concurso Literário Felippe D’Oliveira, em 2016. A publicação foi autorizada pela Secretaria Municipal de Cultura de Santa Maria. Crédito da imagem que abre a página: Dimitris Vetsikas / Pixabay.

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