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Volto às hortas – por Marta Tocchetto

As múltiplas razões da articulista. Mas há uma, bastante específica

Volto às hortas para que elas inspirem a comunidade e o poder público de Santa Maria a implantá-las e a incluí-las nas metas e objetivos para 2022.

Volto às hortas porque elas são um laboratório ao ar livre, uma sala de aula, um espaço para reflexão e de conexão com a natureza. Volto às hortas porque elas são espaços de generosidade, paciência, calma, alegria, harmonia, equilíbrio.

Volto às hortas porque elas são exuberância, pureza. Volto às hortas porque elas são natureza pulsante, viva. Volto às hortas porque nelas o coletivo sobrepõe o individual e o individualismo. Nas hortas todos os seres vivos têm seu espaço e sobrevivem em harmonia. A vida de um depende da vida do outro.

Volto às hortas porque elas exalam perfumes, exibem cores de todos os nuances, emitem sons de todas as frequências e amplitudes. Volto às hortas porque elas fornecem alimentos para o corpo e para a alma. Volto às hortas porque elas são educação. Volto às hortas porque a natureza nos ensina a dividir, a compartir, a respeitar e a amar.

Volto às hortas porque nelas não há solidão, vazio. Volto às hortas porque elas nos ensinam solidariedade. Volto às hortas porque elas são ambientes de paz, de encontros e reencontros. Volto às hortas porque nelas a beleza não é única, é plural e diversa. Volto às hortas porque nelas há espaço para todos, indistintamente.

Volto às hortas porque nelas não há preconceitos. Todas as formas de vida se conectam e se complementam. Volto às hortas porque elas são sinônimo de saúde. Volto às hortas porque elas representam fecundidade, fertilidade. Volto às hortas porque elas são espaços de fartura. Volto às hortas porque nelas não cabem fome e doença.

Volto às hortas pela abundância e ausência de miséria. Volto às hortas pela inspiração ao cuidado e à dedicação. Volto às hortas pela biodiversidade. Volto às hortas porque elas são espaços políticos onde se exercitam escolhas e liberdades. Volto às hortas porque elas são espaços de justiça e de brotação. Volto às hortas porque elas são espaços de crescimento.

Volto às hortas porque elas não combinam com morte, com veneno. Volto às hortas porque elas nos conectam à circularidade, aos ciclos da vida. As sementes germinam, crescem, se desenvolvem e voltam a ser sementes. Voltam ao ciclo da vida.

Volto às hortas porque elas são recomeço, resiliência. Volto às hortas porque elas são espaços de transformação. Volto às hortas porque elas são importantes políticas públicas. E não devem ser apenas leis no papel.

Volto às hortas porque elas possibilitam o exercício da cidadania, da dignidade e da soberania. Volto às hortas porque elas são mais do que espaços de produção de alimentos.

Volto às hortas porque elas são espaços de sonhos, de amor, de troca, de comprometimento, de doação, de carinho, de conexão, de evolução, de crescimento, de oração, de gratidão, de contemplação, de reação, de mudança, de bondade, de acompanhamento, de responsabilidade, de espiritualidade, de luz, de valorização, de devoção, de inspiração, de vida. Volto às hortas para que elas inspirem as cidades.

Volto às hortas para que elas inspirem Santa Maria, condomínios, escolas de todos os níveis, universidades, instituições, empresas, associações a implantá-las, integrando-as às metas e aos seus objetivos para 2022. Não importa o tamanho, se em canteiros ou em vasos. Não importa o local, se em terrenos baldios, parques, pátios, um cantinho qualquer. Não importa.

Volto às hortas para que elas inspirem prefeitos e câmaras de vereadores a incentivarem e a valorizarem iniciativas ambientais reduzindo taxas públicas, como IPTU, para ações proativas que resultem no bem de todos.

Volto às hortas para que elas inspirem ações contra a fome, a miséria e a favor da soberania alimentar. Toda ação em prol do meio ambiente se reverte em melhoria da qualidade de vida de todos; em saúde das pessoas e do meio ambiente; em economia financeira; em transformação socioambiental; em educação; em justiça social, ambiental, financeira e climática; em pertencimento; em sustentabilidade; em responsabilidade socioambiental; em transformação da imagem; em humanização das relações; em oportunidades de crescimento, desenvolvimento e autonomia e em resiliência climática.

Volto às hortas porque acredito nas transformações operadas pelo comprometimento de cada um. Volto às hortas porque acredito que pequenas ações transformam o mundo e constroem um futuro mais justo, mais harmonioso e mais amoroso para todos.

(*) Marta Tocchetto é Professora Titular aposentada do Departamento de Química da UFSM. É Doutora em Engenharia, na área de Ciência dos Materiais. Foi responsável pela implantação da Coleta Seletiva Solidária na UFSM e ganhadora do Prêmio Pioneiras da Ecologia 2017, concedido pela Assembleia Legislativa gaúcha. Marta Tocchetto, que também é palestrante em diversos eventos nacionais e internacionais, escreve neste espaço às terças-feira

Nota do Editor: a foto de uma horta urbana, que ilustra este artigo, é uma reprodução obtida na internet.

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Um Comentário

  1. Anos atrás foi comentado o assunto ‘hortas comunitárias’ no blog. Mote era o que acontecia em Chicago nos EUA. Terrenos baldios utilizados de maneira produtiva. Pessoal da esquerda acha que o poder publico, tudo tem que sair dai, tem que ‘incentivar’. O que leva dinheiro publico para ‘campanhas de conscientização’. Primeiro há que se disseminar a informação do cultivo das hortaliças, depois a utilização dos terrenos baldios (talvez com incentivo no IPTU) e finalmente, o mais dificil, encontrar gente disposta a pegar no cabo da enchada e na pá. Porque esfregar a barriga na mesa e escrever textos é bastante confortável. Pessoal oriundo da academia, ‘Mutley faça alguma coisa!’, poderia deixar a teoria de lado de vez em quando e dar exemplo.

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