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2022, um ano para ficar na história – por José Maria Pereira

Uma análise econômica que não nega (ao contrário) a questão político-eleitoral

Recebi a difícil incumbência de escrever um texto para “reflexões docentes” sobre as perspectivas do ano que se inicia. Óbvio que com o olhar do economista. Não sou de acreditar em previsões, muito menos nas formuladas pelos economistas, mas, ainda se fosse para um ano qualquer, seria possível delimitar algumas coordenadas. Mas não para 2022.

Este será um ano decisivo na nossa história. E não apenas pelos 200 anos da proclamação da Independência. Mas porque, nunca antes na história, o resultado das eleições será tão importante para retirar o país da situação de descalabro em que se encontra, governado pelo “centrão”.  Como dizia o Barão de Itararé, “ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos”. 

Justifico o meu ceticismo em relação aos prognósticos dos economistas (e de videntes, em geral), usando como exemplo as previsões do final de 2020 para o ano de 2021. O Banco Central divulga semanalmente o Boletim Focus – uma espécie de bússola do mercado financeiro, com a média das opiniões de dezenas de economistas, analistas e estrategistas do que vai acontecer com o PIB, a inflação, os juros, o câmbio, etc.  Na verdade, são meros palpites na base do que eles acham que deveria acontecer e não o que vai acontecer de fato. Mas, como essas opiniões têm o “carimbo” do Banco Central, o mercado acredita piamente nelas.

No último Boletim Focus de 2020, a previsão para a inflação para o fim de 2021, era de um IPCA de 3,32%. Como todos sabem, a inflação do ano passado superou os dois dígitos. Um erro monumental, portanto! Outro erro, que tem relação com o erro citado anteriormente, foi nos juros. Como todos sabem, quando a inflação sobe, o Banco Central aumenta a taxa de juros para diminuir o consumo e trazer a inflação para mais próximo da meta.

É uma visão estreita porque pressupõe um mercado concorrencial e ausência de capacidade ociosa, o que está longe de ser verdade. De qualquer maneira, é com base nela que os analistas de mercado fazem suas previsões. Em dezembro de 2020, o Boletim Focus previu uma taxa de juros para 2021 de apenas 3%. No final do ano passado, a Selic chegou a 9,25%, ultrapassando a previsão dos entendidos em 6,25 pontos percentuais a maior. A previsão do PIB (3,4%) foi menor (4,5%); a do dólar (R$ 5,00) também foi inferior (R$ 5,60).

Depois de erros dessa magnitude, o normal seria que o Boletim Focus encerrasse suas atividades. Que nada! Já têm prontas as previsões para 2022: atividade econômica ou PIB de 0,42% (recessão); taxa de juros ou Selic de 11,5%; inflação ou IPCA de 5,03%; dólar igual a R$ 5,60. Em 2022, essas previsões têm tudo para dar errado porque não levam em conta a variável “política”.

Presos nos gráficos do dia-a-dia, nossos analistas econômicos “miram as árvores sem reparar na floresta”. Que “varinha mágica” irá fazer o IPCA cair pela metade e trazer a inflação para o teto da meta? Qual o limite da alta dos juros? Sem falar no câmbio, que afeta a inflação e o comércio externo. Ninguém sabe.  Claro que, ao longo ano, eles irão ajustando suas previsões. Mas, sendo assim, o melhor seria não fazer previsão nenhuma!

A questão principal é que “modelos” de previsão, por mais sofisticados que sejam, são uma representação da realidade. E a realidade está sempre mudando. A política também. Já dizia o mineiro Magalhães Pinto (banqueiro na época da ditadura militar) que a “política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”.

Em 2022, por exemplo, a questão política será determinante para a definição das variáveis econômicas. Como prever inflação, juros, câmbio ou atividade econômica num ambiente totalmente tóxico, com todo tipo de “baixaria” como se supõe vai haver?

(*) José Maria Pereira é Doutor em Economia, professor aposentado do departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSM. O artigo acima foi publicado originalmente no site da Seção Sindical dos Docentes da UFSM (AQUI) e reproduzido com a autorização do autor.

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Um Comentário

  1. Restaurar a moralidade com um candidato recem saido da cadeia é dificil. Modelos representação da realidade é novidade, no máximo uma tentativa. Mas a aldeia é assim, criatura ganha um diploma de doutor da cumpanheirada em Floripa e sai a falar do curriculo dos outros. André Mendonça foi ‘escolhido para o STF principalmente porque era evangelico’. Sujeito tem mestrado e doutorado em direito na cidade de Salamanca na Espanha. Outro, duble de escritor e de mordomo de filme de suspense, ‘não me meto em politica mas o juiz que se dizia honesto blábláblá’, como se a esquerda não usasse de mentiras, meias verdades, teorias da conspiração, desqualificações e o bom e velho assassinato de reputações. O mais provável é que ocorra em 2022 uma gatopardice, mudas as coisas para que continuem o mesmo. Establishment não é fácil. Moro e Molusco com L., o honesto, vão ganhar votos majoritariamente porque ‘não são’, a boa e velha negação. Dos males o menor não significa apoio popular.

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