Bonobos x bondosos – por Orlando Fonseca
Já percebemos, ao menos os mais atentos, que a humanidade aprende aos saltos. Por vezes aos empurrões, morro acima ou morro abaixo. E os tempos pandêmicos entram neste programa educativo com que a natureza submete os seres racionais que habitam o planeta. Os irracionais – ou ao menos com uma inteligência mais rudimentar que a nossa – já entenderam o processo por estarem na escola há mais tempo. Vai daí que um dos sintomas importantes da pandemia Covid 19 é colocar para fora do armário o negacionismo. Foi assim que a ignorância se viu travestida ao dar as caras, com todos os acessórios que costumam a aparecer nesses casos patológicos (uma doença pela falta de humanismo): o preconceito, a intolerância e a beligerância. Assim como o coronavírus e suas variantes se espalham nesse terreno fértil, os boatos e falsas notícias têm livre curso pelas redes sociais. Se não aprender nada com os solavancos é melhor deixar que os bonobos (sem demérito aos primatas) assumam o poder.
Olhando as notícias de que 70% dos internados hoje, com sintomas de Covid, pela variante Ômicron, não se vacinaram ou não fizeram a segunda dose, cheguei à conclusão de que os negacionistas estão chegando às estatísticas hospitalares da pandemia. Em outros países, mais desenvolvidos que o nosso, inclusive, esse número estarrecedor chegou a 90%, no caso de óbitos. É uma pena que não se exige certificado de negacionista, porque, se estão mostrando as caras, nada mais lógico do que também apresentarem o crachá. Se não estivéssemos falando em termos de humanidade, não seria o caso de exigir que, para ser internado, o sujeito apresentasse o comprovante de vacinação? Acontece que os hospitais e postos de saúde são emblemas da evolução humana, tanto em termos científicos quanto em termos humanitários. A isso se chama civilização, que os negacionistas fazem questão de esquecer.
É fácil ocupar uma rede social e espalhar bobagens sem compromisso com a verdade. É fácil fazer uma “live”, mesmo na condição de autoridade, e dizer inverdades de modo irresponsável. É fácil colocar em xeque os avanços da ciência, colocar em dúvida pesquisas científicas e desacreditar o ensino superior, usando o lugar comum como base. Difícil é abrir mão de correr para um atendimento especializado aos primeiros sinais de doença grave. Um dos espaços em que se observa com mais nitidez o avanço do método científico no mundo é justamente um Hospital. Todos os protocolos de atendimento, desde a portaria até o bloco cirúrgico, passando por procedimentos de enfermaria, higiene e hotelaria, foram aperfeiçoados de modo metódico ao longo dos anos. Todo medicamento aplicado passa por testagem minuciosa, alguns com anos de experimentação até que cheguem à prateleira da farmácia. Ao negacionista não deveria ser dado o direito de exigir esse tratamento oriundo de cuidadosa evolução científica, porque, com palavras vazias, procura desacreditar justamente esse valor.
O negacionista atenta contra o humanismo que existe na essência dos bons profissionais desta área. Em nome de seu egocêntrico senso de direito por liberdade, vilipendia a democracia e a vida republicana. Vacinação em massa é um programa de saúde pública que visa preservar a vida, contando com a cidadania, ou seja, proteção não apenas do que se vacina, mas de toda população imunizada. Querer ou não se vacinar atenta contra a ordem na vida em sociedade. Não é possível pensar que exerço meu direito de estar desprotegido sem pôr em risco o direito do outro em se proteger. A vida é o bem maior, quando se pensa em bem comum, a base da democracia. Por isso alimento a expectativa de que, assim como revelou o sintoma de agravamento do negacionismo, a pandemia possa produzir um efeito colateral de trazer lucidez a, pelo menos 70% da população (para usar o número ideal de imunização). Aí não vamos precisar que o bonobos assumam, mas que os bondosos estejam no controle.
*Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.
Bonus 1. governo chines quer meninos mais viris. https://www.youtube.com/watch?v=UusyVaWqKGw
Bonus 2: os ratos abandonam o navio na Argentina, governo de esquerda. https://www.youtube.com/watch?v=Vv4z5CYd2LM
Há quem não tenha se vacinado por motivos diferentes dos ideologicos. Comodidade, medo, ‘depois eu vou’, muitos são os motivos. Quanto aos que não o fizeram por motivo ideologico que sofram as consequencias, paguem o preço. Esta historia de ‘fake news’ tem dois objetivos, impedir os cavalistas de utilizar as redes para se comunicar no pleito e utilizar os mesmos como desculpa para interferir nos direitos do resto da população. Para um vermelhinho o canal pelo qual a ralé se informa tem que ser centralizado e, se não pode ser controlado pelo Estado, no minimo tem que ser comprado. Pandemia nem vale a pena mencionar, no inicio as mascaras não adiantavam (mentira descarada por conta da falta de mascaras adequadas) e depois se tornaram obrigatorias. Ciencia, o metodo cientifico, vive de contestação, de mudança de paradigmas (Thomas Kuhn?). Problema é que ao menos no discurso implantaram um stalinismo. Talvez porque a discussão saiu dos gabinetes e foi para a massa. Resumo da ópera: se algum outro primata tiver que assumir que sejam os chipanzes, bonobos são literalmente bunda moles.
Negacionismo é uma palavra relacionada ao negacionismo historico. Exemplo mais comum, os que negam o holocausto. Pandemia virou ferramenta politica, vermelhinhos tentam transformar tudo em ferramenta politica, negacionistas são os oponentes na proxima eleição. ‘Humanismo’ é mais uma palavra cooptada, se ser ‘humano’ é ser vermelhinho prefiro renunciar à humanidade. Alás, os que defendem a ‘inclusão’ vivem inventando adjetivos para afastar/alienar. Menos mal que não tem o poder, ao menos por aqui, para mandar pessoas para o Gulag. Vivem da negação. Não têm a capacidade de construir. Os ‘negacionistas/fascistas/homofobicos/racistas/coxinhas’ cairam de Marte.
Historia é, na melhor das hipoteses, ciclica. Observando os discursos de Pericles, pré guerra do Peloponeso, sobre o excepcionalismo ateniense há 2400 anos atrás e os de Woodrow Wilson, presidente americano pré Primeira Guerra, verifica-se grandes coincidencias. Tempos dificeis tornam as pessoas resilientes, fortes. Pessoas resilientes e fortes trabalham para tempos fáceis. Tempos fáceis produzem pessoas sensiveis, lenientes e indolentes.