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Eleições limpas – por Orlando Fonseca

Ministro Barroso, em um longo discurso, na sua despedida do TSE, fez uma defesa das instituições democráticas, em especial que se tenha eleições limpas neste ano. Gostaria de acreditar na honestidade das suas palavras, gostaria de acreditar na influência que elas poderiam exercer sobre a cidadania, seja a parcela composta por eleitores, seja a composta por gente que se organiza para espalhar fake news. Lembrei-me de uma conversa que tive com meu irmão, há algum tempo. Contava a ele que, após minha aposentadoria, estava dedicando mais tempo a olhar jogos de futebol na TV, acompanhar os comentários e as repercussões das partidas e negociações de jogadores. Ao que ele retorquiu, dizendo que tinha abandonado o futebol, porque, no fundo, é tudo negociação, está tudo arranjado, não vale a pena perder tempo. Na intenção de defender a minha nova diversão, ponderei que não podia acreditar que 22 jogadores, 11 de cada lado – mais as substituições – o árbitro e os auxiliares, mais três ou quatro que ficam na sala do VAR, diante de milhares, milhões de pessoas, poderiam estar fraudando alguma coisa. É muita gente junta para estar envolvida – só aí são quase trinta – em uma fraude. Mas ele não se deixou convencer: – Sei não! Ao que eu tive de arrematar como último argumento: em alguma coisa eu tenho de acreditar. Diante da fala do ministro, faço o mesmo, agora, com o TSE, ainda que considerando haver muito mais gente em campo – e em cabines escusas por aí – tentando solapar nossa crença na democracia e na vida republicana.

As bases de uma república democrática são um executivo atuante, um parlamento vigilante e ativo, um judiciário isento e a imprensa livre. No toca ao cidadão, é preciso que tenha consciência de seu papel na construção da nacionalidade. Para isso, é importante que lhe esteja assegurado o básico para viver e pensar. Quando cada um desses agentes esteja operando por outro objetivo que não seja o bem comum, a coisa pública (res publica), só o que se pode esperar é a decadência. O Brasil viveu nas últimas décadas em sobressaltos: amargou uma ditadura que durou mais de duas décadas; encaminhou através de muita pressão popular uma redemocratização; viveu de muitas crises sociais e econômicas, tendo dois impeachments, e um governo oriundo do último impedimento da primeira mulher na presidência, o qual não conseguiu vencer as sequelas daquele evento. A vida republicana está doente, e não por causa da pandemia do coronavírus. E para que tenhamos eleições limpas este ano, senhor ministro, precisamos encaminhar a cura dessas feridas.

Será preciso recuperar o valor da ciência – que tem feito um excelente trabalho, ao evitar mais mortes pela Covid 19, nocauteando de vez o negacionismo que acompanhou, na ascensão do atual grupo ao poder federal, a subversão do conceito de nacionalismo. É preciso que a verdade dos fatos ganhe a devida relevância, para que a fábrica de fake news, que atuou ostensivamente na campanha eleitoral de 2018 e continuou ao longo desse longo mandato do presidente atual, seja ridicularizada. É preciso dizer, alto e bom som, que os que negam a vacina estão ocupando os leitos de UTI e muitos desses, assim como os que defendiam o tratamento precoce com um vermífugo e um antiparasitário, estão morrendo. E que se conceda a devida importância ao poder judiciário, como um dos poderes da República, e que este também se dê a devida importância, não tomando atitudes erráticas, como no caso da Presidenta Dilma, senhor ministro Barroso, avalizando a decisão do Congresso e depois anulando o processo por falta de fundamentação. O que também se pode dizer em relação às instâncias inferiores dos tribunais federais, como no caso do pré-candidato em primeiro lugar nas pesquisas, e do ex-juiz que também postula eleição. Só assim, com tanta gente envolvida, e à vista dos milhões de brasileiros, – os quais não podem ser apenas expectadores nas arquibancadas – é que se vai promover a recuperação da fé na democracia. Sem o que não poderemos ter limpeza alguma no processo eleitoral que se aproxima, nem comemorar a vitória da cidadania ao final.

*Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.

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6 Comentários

  1. Manchete G1 março de 2020 ‘Supremo nega pedido da ex-presidente Dilma para anular o impeachment’. Como é esta historia de Fake News mesmo? Alás, com direito a marqueteiro e tudo, comercial mostrando a comida sumindo na mesa para atacar a então candidata Marina Silva, Jogo eleitoral vai ser sujo como sempre foi. Mais ou menos como no cenario internacional, Viktor Yanukovych era pro-Russia na Ucrania, foi derrubado por revolta de parte da população em 2014. Dizem as mas linguas que ocorreu mais que uma maozinha americana no caso. Alas, Hunter Biden, filho boemio do presidente ianque, logo depois da deposição ganhou um assento no conselho de administração de uma empresa de gas natural ucraniana. O mesmo que foi expulso da marinha por testar positivo para cocaina. Obviamente é tudo uma grande coincidencia.

  2. Ciencia, sim, quimica, fisica, biologia, matematica. Coisas que podem ser testadas em laboratorio, não mimimi. Alás, tratamento nos casos mais graves é tratado com corticoide (que chegou a ser contra-indicado uma epoca) e anti-coagulantes. Corticoide é anti-inflamatorio. Hidroxicloroquina tem efeito anti-inflamatorio também. Azitromicina é antibiotico, mas também tem efeito anti-inflamatorio. Ivermectina aparentemente também tem algum efeito anti-inflamatorio. Alás, em um podcast ianque o Dr. Michael Osterholm, infectologista de Minnesota, informou que existem 5 grandes estudo em andamento com a ivermectina. Alás, repetiu muitas vezes a expressão ‘não se sabe’.

  3. Trudeau, premier canadense, levanta em sessão do parlamento e afirma que os conservadores se alinhavam com agitadores de suasticas. Uma parlamentar, lesbica e judia, levanta e exige pedido de desculpas. Perdeu parentes no holocausto. Pouco depois outro parlamentar levanta e repete a exigencia, o avo lutou na Segunda Guerra e um tio-avo morreu combatendo nazistas. Premier fez cara de paisagem e respondeu o que quis, não pediu desculpas. Imprensa ianque noutro dia chamou os antivax de ‘fascistas que defendem uma definição deturpada de liberdade’, uma óbvia asneira. Busilis é vermelhinhos usando semantica como ferramente politca. Negacionismo já encheu o saco e o controle remoto é para isto mesmo.

  4. Republica? Palavras e teorias bonitas não resolvem. Depois de um certo tempo ficam parecendo enrolação. Tupiniquim medio, até por ter outras preocupações, não liga mais para ditadura, crises passadas e impeachments. Estes são assuntos para uma bolha que gravita em torno da atividade politica. Alás, a midia no pais observa o estamento politico e tenta pautar a sociedade. Confortável, menos trabalhoso. Não olha, como deveria, os problemas da sociedade e não pauta a atividade politica. Resumidamente ‘aperta na moleira que eles gemem’. Vide as jornadas de junho de 2013. No inverno tivemos uma ‘primavera’.

  5. Biden em discurso no congresso americano disse ‘Nos temos que provar que a democracia funciona. Que nosso governo ainda funciona- e pode entregar ao povo’. Lá, como aqui, a conclusão é a mesma, paga-se muito imposto, a situação não melhora e os problemas não são resolvidos. Eleição parece não ter efeito nenhum. Conclusão é logica, para que pagar tanto imposto e votar?

  6. Ministro Terra Encharcada que falou que o Cavalão mandou caças sobrevoarem o STF para quebrar vidraças. A fonte seria o comunista Raul Jungmann. Algo que de fato aconteceu, governo Dilma, a humilde e capaz, 2012. O mesmo que ‘combate’ Fake News.

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