Mais um ensaio sobre o racismo estrutural – por Elen Biguelini
Mais um domingo, mais um homem negro violentamente em solo brasileiro.
O sangue negro escorrendo após a violência branca faz parte de nossa história. Como país, não podemos esquecer deste fato, bem como não podemos negar o racismo estrutural que esta história ocasionou.
O racismo estrutural tem sido debatido atualmente, não por teóricos reais que estudam raça e preconceito, mas sim por pessoas sem conhecimento algum sobre o assunto, majoritariamente brancas, que veem no autêntico desejo por igualdade uma suposta vontade de retribuição histórica desproporcional. Na verdade, não há possibilidade de uma retribuição histórica proporcional, visto que o movimento negro jamais iria pedir pela escravidão, preconceito e total destruição da raça branca. Logo, não existe racismo reverso, pois não há a possibilidade de brancos serem colocados em calabouços, tacados nos porões dos navios e vendidos pelo preço mais barato para serem animal de carga ou máquina agrícola. O que existe, no entanto, é a percepção de que pessoas brancas podem vir a trazer o mal das pessoas, baseado em fatos como estes que temos acompanhado: um homem negro é morto a pauladas por ter requerido seu salário e outro homem negro é morto pelo vizinho que o confundiu com um ladrão.
Como pessoas brancas (a articulista aqui se inclui) não podemos conceber o que é ser negro. Jamais teremos nossos corpos confundidos com o de ladrões, jamais seremos perseguidos em um mercado por carregarmos uma mochila, jamais perceberemos alguém atravessando a rua com medo de nós. Nunca fomos esculachados em sala de aula, apenas devido a nossa cor. Não perdemos vagas de emprego porque somos negros. A universidade não nos é vetada por uma situação social causada por no fim da escravidão não termos sido auxiliados, como não foram os ex-escravizados, para entrarmos na sociedade de forma digna. Cortiços e favelas surgiram como forma de englobar o excedente populacional que chegou as cidades após a abolição, mas não foram lhe destinado auxílios, saneamento básico, escolas, …
Foi escolha das elites mantê-los em um patamar de subalternidade. Assim como hoje ainda é escolha das elites manter estes preconceitos raciais (os mesmos que eram usados como justificativa a algo injustificável) tão enraizados em nossa sociedade.
A mudança é lenta e felizmente as gerações mais recentes tem dado grande avanço no sentido de diminuir o preconceito (em grande parte devido ao triunfal início do estudo da história e cultura afrodescendentes e africanas nas escolas, por meio da lei 1039 de 2003), mas infelizmente ainda nos deparamos com semanas como estas, que criam nomes a serem berrados alto, em manifestação!
Viva Durval! Viva Moïse! Viva Mariele! Viva tantos outros que pereceram por culpa do preconceito.
*Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.
Racismo institucional (os dois conceitos andam juntos) é uma expressão cunhada por Stokely Carmichael e Charles V. Hamilton, dois militantes dos direitos civis no livro ‘Black Power: The Politics of Liberation’ em 1967 no EUA. No livro investigam a origem do racismo por lá. Porém existem duas situações diferentes. Uma é o racismo. Outra são movimentos de esquerda ‘monopolizando’ o problema com finalidade politico-eleitoral (como aconteceu com os direitos humanos). Alás, ianques vivem uma ‘guerra cultural’ aberta, Gramsci, Escola de Frankfurt, desconstrução cultural, etc. e a reação contra as ideias podres. No mais, semana que vem a pauta é outra.