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A luz do passado – por João Luiz Vargas

O que fez Brizola, o que fazem os atuais e consequências para os mais pobres

Logo que assumiu como Governador do Estado, Leonel Brizola atacou dois gargalos que limitavam o desenvolvimento do Rio Grande do Sul: a infraestrutura e a educação. Segundo Brizola, o ambiente de negócios não era favorável por falta de estradas, de energia elétrica e comunicação, que resumia-se na telefonia.

Nas primeiras semanas, o Governo já buscava acordos com as concessionárias para extensão das redes de energia, que resultou em debate com a concessionária americana Bond & Share. Como os entendimentos não avançavam, Brizola deu por encerradas as negociações e, alegando ineficiência da empresa e prejuízo ao desenvolvimento do estado, anunciou a expropriação da empresa americana e a criação de uma estatal (que chamou de CEEE) para assumir suas atribuições.

A ação repercutiu internacionalmente, por ser ousada e inovadora, e abalou as relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos – até aquele momento, nem mesmo Fidel Castro e Che Guevara, os revolucionários de Cuba, haviam se atrevido a tanto. Na imprensa americana, o jornal “The Washington Post” – um dos mais importantes impressos do mundo – ofendeu Brizola como “demagogo perigoso, hábil e infinitamente ambicioso”.

O velho político tinha razão em trazer para a asa do Estado a concessão da energia elétrica. Isso despolarizou o desenvolvimento do Rio Grande do Sul. Atualmente, a maioria dos analistas e técnicos que estudam gestão diz que privatizar setores do chamado “monopólio natural”, ou seja, onde não existe concorrência permanente, é colocar o interesse privado na frente do interesse público. Como disse, sou de um tempo antigo, de um Estado que era servidor, de um momento político em que a encampação da multinacional mostrou para o mundo que o umbigo que a iniciativa privada vê é sempre o dela.

Passaram-se os anos, e a CEEE foi novamente privatizada. Uma chuvarada em Porto Alegre deixou a região metropolitana sem luz e mostrou a fragilidade da empresa que assumiu a operação da companhia. Muitos dias de casas sem luz. Se a CEEE seguisse pública, certamente atenderia a população da periferia da região metropolitana com energia elétrica a qualquer custo, porque o serviço é essencial.

As chuvas sempre virão e cabe a concessionária estar preparada para isso. A CEEE privada está deixando as áreas menos lucrativas do sistema sem manutenção, retornando com mensagens automáticas no telefone de reclamações, imagino que para não pagar funcionários para fazer esse atendimento.

Não é ser contra o investimento privado. Ao contrário disso: é saber o que é estratégico para melhorar o serviço com investimento de fora e em que lugar a gestão deve ser exclusivamente controlada pelo Poder Público.

A CEEE privatizada pelo Governo Estadual não melhorou seu serviço para o povo, principalmente nas comunidades mais pobres. Pelo que dizem, foi um bom negócio para injetar dinheiro nos cofres do Estado, que agora se apresenta nos EUA como exemplo de gestão financeira.

Se não olhar para o lado social, daquelas pessoas que estão há quase uma semana sem luz, nada vale acumular dinheiro na guaiaca para gerar cifras financeiras e jactar-se como bom gestor lá no estrangeiro. O Poder Público serve para atender o povo e torço para que o Governo do Estado aprenda com esse erro do processo da CEEE e que recue das privatizações em setores estratégicos, como no caso da Corsan e do Banrisul.

(*) João Luiz Vargas, prefeito de São Sepé (ex-deputado, ex-presidente da Assembleia Legislativa e ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado), escreve no site às sextas-feiras.

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