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Além da estatística – por Marta Tocchetto

Uma ciência exata, mas que não mede os sentimentos e as inspirações

A estatística é uma ciência exata, talvez por isso, ela não consiga medir e definir uma escala para os sentimentos e as inspirações.

A estatística trata da coleta, análise, interpretação e apresentação de informações e dados numéricos. Permite quantificar e nivelar, a partir de uma série de dados, aspectos relacionados a satisfação, preferência, acessos, rejeição, frequência, influência, desigualdade, pobreza, tendência, incidência, melhoria, crescimento, desenvolvimento, desemprego, aprovação, para citar alguns.

A área é ampla e é cada vez mais utilizada para compreender, interpretar e projetar ações que permitam o alcance de melhores resultados, desempenhos e/ou expliquem dificuldades e fracassos. É uma ciência exata, talvez por isso ela não consiga medir e definir uma escala para os sentimentos e as inspirações.

Mensalmente, são publicadas as estatísticas do site do Claudemir – número de acessos, perfil dos inscritos, matérias mais lidas e comentadas, temas de maior interesse, abrangência dos acessos, sessões mais procuradas, artigos de maior interesse e muito mais.

Os números oferecem um panorama do site e dos leitores permitindo corrigir rumos, assim como planejar caminhos. Porém, há fatos que a estatística não consegue mensurar o significado. São fatos que vão além das estatísticas. Talvez não falte quem afirme:  – Está puxando a brasa para o seu assado! Pode ser mesmo. Porém é bom destacar que, a humildade não exclui a valorização, no meu ponto de vista.

Há algumas semanas fui procurada por uma ex-colega de trabalho, se dizendo tocada por um dos meus artigos que tratou sobre a crise climática e suas consequências. Depois dela refletir e pensar o que poderia fazer ante ao grave momento – o texto evocava a responsabilidade individual – entrou em contato comigo para me contar sobre o turbilhão de ideias e sua resolução.

Decidiu criar o Grupo Oxigenar Santa Maria e estava catalisando participantes. Assim como o oxigênio é essencial, é urgente oxigenar nossa cidade por meio da educação e de ações ambientais. As palavras do artigo serviram de inspiração para inquietar, movimentar, desacomodar, transformar.

A estatística é incapaz de mensurar o significado dos efeitos que se agrandam com elasticidade quase ilimitada à medida que novas ideias surgem, se ampliam os objetivos e o desejo de fazer mais pelo coletivo.

O Grupo é um movimento emanado da sociedade e se amplia, diariamente, com a construção de parcerias que acreditam que qualidade de vida depende da saúde e da qualidade ambiental, que, por conseguinte, depende da maneira com que nos relacionamos com a natureza e com todos os elementos que a compõe.

A estiagem que assola o estado é a mais grave que o Rio Grande do Sul já viu e está sentindo. Ela não é um fenômeno natural, tampouco obra dos santos rebeldes que resolveram impor um castigo apocalíptico.

A estiagem é fruto da destruição das matas nativas e ciliares, da poluição dos rios e da atmosfera, do uso dos combustíveis fósseis, do envenenamento das nascentes, da crescente liberação de agrotóxicos, da derrubada das florestas, do descumprimento e da flexibilização da legislação ambiental, enfim é fruto de todas as ações desmedidas e predatórias do homem.

Ações que resultam de um sistema que confunde destruição com desenvolvimento, com boiada solta, com desrespeito à cultura e aos povos originais, com desmatamento, com garimpo ilegal, com grilagem de terras, com ausência de leis e regras.

É este modelo que está levando o Brasil e o planeta à exaustão – consumimos e destruímos mais do que conservamos. A realidade é de desesperançar. É de desacreditar na vida em harmonia. No encerramento de uma das reuniões do Grupo Oxigenar, uma colega entusiasmada com a efervescência de ideias e de propósitos, usou uma palavra cheia de significado, ainda não presente nos dicionários formais – reencantamento.

Não segurei minha emoção com o novo vocábulo. Disse a ela que, a partir daquele momento, passaria a integrá-lo ao meu vocabulário e mais, aos meus propósitos – os novos tempos requerem reencantamento. Precisamos voltar a nos encantar, ou seja, a nos reencantar com rio que corre limpo, com a chuva que cai e nutre a terra, com os pássaros e os insetos que polinizam as plantas, com a água que aflora, com toda a biodiversidade, com o alimento saudável que aplaca a fome, enfim com a vida.

O Grupo Oxigenar que surgiu de uma simples inspiração, cuja estatística é incapaz de mensurar, pretende e será um caminho para o reencantamento. Reencantamento que acredito ser, necessariamente, coletivo. Reencantamento que emana da sociedade e que é capaz de operar transformações

– transformações profundas como as que o país necessita para voltar a se encantar, a se reencantar e ser feliz.

(*) Marta Tocchetto é Professora Titular aposentada do Departamento de Química da UFSM. É Doutora em Engenharia, na área de Ciência dos Materiais. Foi responsável pela implantação da Coleta Seletiva Solidária na UFSM e ganhadora do Prêmio Pioneiras da Ecologia 2017, concedido pela Assembleia Legislativa gaúcha. Marta Tocchetto, que também é palestrante em diversos eventos nacionais e internacionais, escreve neste espaço às terças-feiras.

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5 Comentários

  1. Sentimentos, inspirações, reencantamentos, discurso pollyanico que funciona com criaturas com idade (fisica ou mental) proxima a 10 anos. Alás, esquerda gosta de apelos emocionais porque pensando bem ninguém vai atras. Voltando a vaca fria, docente de faculdade local reune um grupo de pessoas e juntos produzem mudas de arvores. Deslocam-se e plantam. Mudas são arrancadas, presume-se que foram roubadas. Grande indignação! E razoavel presumir que tenham sido plantadas em outro lugar, donde vem a questão: estão querendo contribuir com o meio ambiente ou querem um lugar com uma placa na frente dizendo que contribuem com a natureza? Por que não fizeram mais mudas e plantaram de novo ou começaram a distribuir? Quanto ao novo grupo, é um pais livre. Cada um curte a ‘melhor idade’ como bem lhe aprouver.

  2. Se consultarmos os dados do INPE veremos que as taxas consolidadas de desmatamento na Amazonia atingem o pico historico em 2003/2004. O segundo lugar fica com 1995/1996. Fim do governo Collor e governo Molusco com L, o honesto. Retratos do Brasil, problemas que só são problemas dependendo do calendario eleitoral. Caveat, afirmar que a seca atual não tem a ver com aquecimento global não significa que o problema não exista e que não deva ser enfrentado. Caveat segundo, meio ambiente é um bem com valor proprio e tem que ser preservado indenpendentemente de aquecimento global.

  3. Se os agrometereologistas afirmam que ‘é a maior seca dos ultimos 70 anos’, para quem não entendeu, significa que ha 70 anos aconteceu algo parecido. Com menos gente no planeta e meio ambiente bem menos degradado. Alás, atlas do IPCC preve que, se a temperatura media do planeta subir 1,5ª C, a do RS subirá 2ªC e a media de chuvas justamente nesta época aumentara. Alás, se acontece é natural, não sobrenatural, obra de magia. Resumo da ópera: não adianta criticar os ‘negacionistas’ da vacina e negar a ciencia em outros contextos.

  4. Busilis é que antigamente as criaturas faziam doutorado em algum assunto obscuro e saiam a palpitar sobre tudo como se oniscientes fossem. A civilização avança e o populacho descobre que não é bem assim. Senão vejamos, afirmar que estatistica é uma ‘ciencia exata’ já é controverso. Alguns diriam que é parte da matematica, porem não é isto que importa. Estatistica tem sua margem de erro. Existe justamente porque não é possivel (ou é inviavel) obter os numeros exatos. Alás, existe um livro da decada de 50 chamado ‘Como mentir com estatistica’. Em alguns lugares é leitura obrigatoria.

  5. É um festival. Santa Maria tem uma benção que também é uma maldição. Primeira universidade federal no interior do pais. Criou-se uma certa reverencia ao corpo docente da instituição. Lembra o filme ‘Os deuses devem estar loucos’, uma comedia. Alguém joga uma garrafa de Coca Cola pela janela de um Teco Teco (um avião de pequeno porte) no céu da Namibia. Recipiente cai perto de uma tribo isolada que acredita ser um presente dos céus. Eventualmente vira objeto de disputa e conflito.

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