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Educação especial como projeto integral e de longo prazo – por Demetrio Cherobini

Prática na perspectiva ‘social’, que aborda o sujeito em seus múltiplos aspectos

Há poucas semanas, a mãe de um menino com necessidades especiais me procurou, dizendo ter tido boas referências sobre meu trabalho como educador especial. Por esse motivo, pretendia transferir o filho para uma das escolas onde trabalho. A deferência foi inesperada, me trouxe surpresa, mas tão logo a assimilei propus algumas reflexões para essa mãe.

A primeira foi esta: na educação especial, mais importante que a competência didática individual do professor são as condições de trabalho disponíveis. Por exemplo: se um educador especial trabalha sozinho numa escola com muitos alunos incluídos, as inúmeras tarefas tenderão a sobrecarregar seu trabalho e tornar restrito o tempo relativo para ensinar e acompanhar o desenvolvimento de cada um dos estudantes.

Em segundo lugar: não basta oferecer à criança somente os esforços da educação especial, mas sim a interação complementar dessa disciplina com o trabalho de diferentes outras áreas educativas e terapêuticas, tais como: pedagogia, psicopedagogia, psicologia, medicina, terapia ocupacional, fisioterapia, fonoaudiologia, serviço social, educação física, educação artística, teatro, música, dança, entre outras.

Esse trabalho articulado, feito sob a regência pedagógica da educação especial e direcionado ao objetivo da formação integral, possibilitará à criança maiores chances para aprender, se desenvolver, construir sua autonomia e participar significativamente dos múltiplos espaços sociais à disposição.

Tais considerações significam que o caminho do desenvolvimento da pessoa com necessidades especiais não permite “atalhos” – por exemplo: apenas trocar a escola e/ou educador. Deve-se, isto sim, organizar permanentemente atividades complementares interligadas, em boas condições de trabalho, para que o sujeito receba uma educação de qualidade. Trata-se, enfim, de enriquecer as relações da criança com o mundo e não simplesmente esperar que um único professor faça a diferença.

A educação especial, portanto, não atua sozinha, nem se reduz a indivíduos isolados adjetivados com o rótulo arcaico de “deficientes”. Ao contrário, consiste numa prática educativa fundamentada em perspectiva rigorosamente social, que aborda o sujeito em seus múltiplos aspectos e trabalha com a totalidade do coletivo escolar, num processo onde todos devem avançar e ninguém é deixado para trás. Cumprir esse propósito exige, pois, planejar bem e a longo prazo, bem como agir com inteligência, lucidez e paciência.

Mas, cabe perguntar, afinal: são dadas aos pais essas opções? A escola atual possibilita um trabalho assim? A própria sociedade, em sua totalidade, se organiza para proporcionar a seus membros constituintes uma educação integral? O que é preciso mudar para que isso ocorra? Essas são algumas das questões e desafios a serem resolvidos se pretendemos que a educação especial comece a ser praticada de forma verdadeiramente coerente, abrangente e eficaz.

(*) Demetrio Cherobini, professor da rede municipal de Santa Maria, é licenciado em Educação Especial e bacharel e Ciências Sociais pela UFSM, mestre e doutor em Educação pela UFSM e pós-doutor em Sociologia pela Unicamp.

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