ELEIÇÕES 2022. Disputa é fraticida no MDB gaúcho para definir candidato do partido ao Palácio Piratini
Grupo volta a falar em Cezar Schirmer, para “evitar” vitória de Gabriel Souza
Reproduzido do Site do Correio do Povo / Texto assinado por Flavia Bemfica
Maior partido do RS em número de filiados, detentor da segunda maior bancada na Assembleia Legislativa e à frente de 135 prefeituras, o MDB gaúcho enfrenta uma disputa fratricida para definir seu pré-candidato ao governo do Estado. Após idas e vindas na qual uma prévia chegou a ser marcada e desmarcada, e a sigla trocou o comando, a legenda decidirá o nome no próximo domingo, 27 de março, mas o modo como foi determinada a escolha, pelo diretório, de novo, expôs os rachas internos. Na corrida pela indicação estão o deputado federal Alceu Moreira e o deputado estadual Gabriel Souza. Ambos mantêm seus nomes na competição e, de público, adotam tom cordial.
“Mantenho a pré-candidatura, respeitarei as decisões que os órgãos partidários adotarem e percebo uma vontade muito grande da base de tomar esta decisão no mês de março”, resume Gabriel. “Com certeza, continuo pré-candidato. E, se vencer, é quase certo, é uma possibilidade concreta, o Sartori ser candidato a senador, se esta for a vontade de todos que estiverem na nossa coligação. Porque não adianta oferecer uma candidatura ao Senado para o partido X se ele não tem candidato para ganhar”, elenca Alceu.
As manifestações dos dois embutem recados expressos aos adversários internos, que se digladiam nos bastidores. Neles, apoiadores de Alceu acusam Gabriel de estar “a reboque dos caprichos” do governador Eduardo Leite (PSDB) e de já ter negociado a vaga do Senado para a secretária Ana Amélia Lemos (que assinou ficha no PSD na semana passada), conforme vontade de Leite, e à revelia do partido.
Já apoiadores de Gabriel afirmam que Alceu está “sendo usado” por lideranças que miram a eleição nacional e que corre o risco de ser ‘abandonado’. Ou seja, apontam que parte do grupo aparentemente fechado com o deputado federal estaria tentando protelar ao máximo a definição do candidato emedebista ou lançar um terceiro nome (o do secretário de Planejamento de Porto Alegre, Cezar Schirmer) na disputa.
O objetivo seria inviabilizar a formação de uma aliança encabeçada pelo MDB e, assim, acabar “empurrando” o partido para uma das coalizões bolsonaristas no RS. Ou a do ministro Onyx Lorenzoni (que assina ficha no PL nesta terça), ou a do senador Luis Carlos Heinze (PP).
Da mesma forma, apoiadores de Alceu garantem que o ex-governador José Ivo Sartori está disposto a concorrer ao Senado e, como de costume, aguarda um cenário mais claro que mostre a união do partido em torno de sua candidatura. Mas interlocutores de Gabriel dizem que o ex-governador, apesar de ser um nome bastante competitivo, mostra ressalvas em entrar em uma disputa que terá o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) e a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB). E que carrega todos os ingredientes necessários para a briga “voto a voto”.
Quem é quem no processo
Alceu Moreira: o deputado federal disputa a indicação e, internamente, seu grupo assegura que tem maior densidade e é mais conhecido entre filiados e lideranças municipais. Por isso, preferia um processo com a participação de todos os filiados ou, se isso não fosse possível, que pelo menos se desse no colégio ampliado, de modo a aumentar sua possibilidade de vitória. Parte de seus articuladores acredita que a pressão da base possa alterar o cenário atual.
Gabriel Souza: o deputado estadual tem maioria na executiva e no diretório estadual. Por isso, a definição tomada pela executiva na sexta aumenta suas chances de vitória. Ele também tem articulação com a bancada estadual, o que lhe dá canais de inserção em diferentes regiões do Estado que não a sua própria base, no Litoral. Também é pública sua proximidade com o governador Eduardo Leite (PSDB), que não esconde a preferência pelo nome do parlamentar.
Cezar Schirmer: tem o nome ventilado há meses por alas do MDB como possibilidade para o governo. É elogiado publicamente por Sartori e próximo do deputado federal Osmar Terra, tendo ocupado uma secretaria no Ministério da Cidadania durante parte do tempo que Terra comandou a pasta, na primeira metade do governo Bolsonaro. Os desafetos o chamam de ‘anticandidato’ e dizem que o pleito não pode servir para “passar a limpo” a injustiça que o secretário julga ter sofrido no caso da boate Kiss.
José Ivo Sartori: diferentes alas do MDB asseguram que, mais uma vez, o ex-governador “joga parado”, aguardando por um cenário que lhe seja bastante favorável, para então se colocar à disposição e ocupar a vaga ao Senado, ou então simplesmente ficar de fora de qualquer contenda. Tem a preferência da ala bolsonarista do partido e é apontado como contrário a uma aliança com Eduardo Leite. Mas, dentro da legenda, são conhecidas as desavenças com Alceu Moreira. Na reunião da executiva na sexta-feira, o deputado estadual Carlos Búrigo (que pertence ao grupo de Sartori) votou para que a escolha do candidato fosse pelo diretório, beneficiando Gabriel Souza.
Marco Alba: trabalha fortemente nos bastidores contra uma aliança com Eduardo Leite e está entre os que de modo recorrente defendem a escolha de José Ivo Sartori para o Senado. Apesar de ser incluído por adversários como integrante da ‘ala bolsonarista’, seus movimentos têm como pano de fundo principalmente a eleição para a Câmara Federal e as desavenças com o atual secretário estadual de Logística e Transportes, Juvir Costella.
Osmar Terra: defensor ferrenho do presidente Jair Bolsonaro, o deputado federal defendia que a escolha do pré-candidato ao governo gaúcho fosse feita com a participação de todos os filiados e apenas no final de abril. A tese aumentou as especulações de que seu objetivo principal era de que o partido acabasse com alianças inviabilizadas e, assim, integrasse uma das coalizões de Bolsonaro no RS.
Sebastião Melo: o prefeito evita manifestações públicas, mas, nos bastidores, é um dos principais articuladores de decisões. Um dos exemplos foi a que resultou no cancelamento das prévias, em fevereiro. Na pandemia, protagonizou diversas disputas com o governador e é nome carimbado para a corrida ao Piratini em 2026 caso consiga se reeleger ao Paço em 2024. Na visão de parte da sigla, será ainda mais beneficiado no próximo pleito ao governo caso o MDB não vença o atual.
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