Artigos

Guerra cibernética, desinformação e regulação de conteúdo – por Michael Almeida Di Giacomo

Ação dos gigantes da internet nos conflitos é objeto da análise do articulista

O conflito que acontece no leste europeu, Rússia x Ucrânia, nos apresenta uma forma inusitada de comportamento do chamado “esforço” de guerra. Refiro-me à atuação do Facebook, Youtube, Google e outras gigantes da rede, que estão a aproveitar o confronto para criar uma imagem de que podem ser úteis contra governantes despóticos, regimes iliberais e ditaduras.

Na ideia de coibir máquina de desinformação de Putin, uma das formas utilizadas é o bloqueio em toda a Europa de canais do Youtube ligados à rede de TV Russia Today e ao portal Sputinik, ambos estatais e financiados pelo governo.

A medida foi seguida pelo aplicativo de mídia Tik Tok, pelo Twitter – que cancelou anúncios relacionados ao Kremlin, e também pelo Facebook, que além de restringir os canais de TV, os desmonetizou nos demais continentes.

Aliás, o Facebook que há muito tem por característica influenciar a opinião pública acerca dos seus governantes – principalmente em períodos eleitorais – foi além. A plataforma de Zuckerberg autorizou que seus usuários possam elogiar o Batalhão de Azov, unidade paramilitar neonazista ucraniana.

As gigantes da internet, penso, acreditam que poderão “deletar” do seu histórico a participação ativa que tiveram em momentos não menos trágicos de nações em situação de conflitos internos ou externos, como por exemplo no genocídio da população mulçumana rohingyas, em Mynmar.

À época, o Facebook somente baniu as contas de líderes militares das Forças Armadas, após a Organização das Nações Unidas concluir de que a plataforma foi usada para incitar a violência na região.

A jornalista Tatiana Dias, dedicada a analisar direitos digitais e direitos humanos, assinala que “as ‘big techs’ são, cada vez mais, atores políticos e econômicos […] capazes de aprofundar crises geopolíticas se tomarem decisões erradas”.

A afirmação da jornalista faz sentido à medida em que não há, na grande maioria dos países, normas reguladoras da atuação das referidas empresas, no que se refere a sua forma de moderação de conteúdo.

Ou seja, mesmo com legislações esparsas sobre conteúdo na internet, as gigantes do meio mantém um elevado grau de autonomia para interpretar – a seu modo – o que é desinformação ou discurso de ódio praticado pelos usuários.

É nesse ponto que ficamos na tênue linha entre a liberdade de expressão e opinião – em simetria com as restrições constitucionais de cada país, uma vez que não são absolutas, e a interpretação dada por empresas privadas – de grande poder econômico, sobre o que o usuário pode ou não expressar na rede.

No limiar do presente século, esse é um dos gargalos a serem enfrentados pelo mundo digital. Por enquanto, convivemos com a desmedida atuação das plataformas on-line de comunicação, que por meio de seus algoritmos continuam a influenciar ações de governantes e, por consequência, na vida de todos nós. 

(*) Michael Almeida Di Giacomo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Mestre em Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público. O autor também está no twitter: @giacomo15. Ele escreve no site às quartas-feiras.

Nota do Editor: a imagem que ilustra este artigo é uma reprodução obtida na internet e sem autoria determinada. Para conferir o original, clique AQUI, no blog de Paulo Filho – Liderança e Geopolítica.

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

2 Comentários

  1. Vermelhinhos sonham que controlarão como a historia sera escrita no futuro. Algo que para os atores atuais não tem importancia nenhuma. Alás, pelo texto existe ‘máquina de desinformação do bem’, a do ‘ocidente’ é ‘moralmente justificada’. Tatiana Dias tem direito a opinião dela que tem o mesmo valor do dono da pulperia da esquina. Esquerda tupiniquim (e alhures) quer o monopolio do ‘o que é desinformação ou discurso de ódio praticado pelos usuários’. Alás, Molusco com L., o honesto, já afirmou que quer ‘regulamentar’ a midia e a internet. Duvido que alguma sociedade aceite ser tutelada por cabeças de bagre. E tentar apagar incendio carregando agua em peneira tende a não dar certo.

  2. Facebook, Youtube, Google estão bloqueados na Russia e na China e têm equivalentes locais. A mesma empresa chinesa do Tik Tok tem uma aplicativo similar (mas diferente no algoritmo) para a China, o Douyin. Dizem, não tem como verificar, que o conteudo permitido é bem diferente, mais cultural e menos ‘entretenimento’ digamos assim. Ianques, ao menos alguns, acusam os chineses de largarem uma maquina de fabricar retardados no ocidente.
    Existe uma narrativa criada pela esquerda e pelos jornalistas para tentar controlar a informação como era antes. A desinformação teria que voltar aos profissionais. Estatisticas das redes sociais impedem o controle total, obvio. São mais de 450 tweets por minuto e 300 milhões de fotos publicadas no FB por dia. Ajustes são sempre reativos. E para tudo se arruma um jeito. Exemplo? Escrever ‘n4z1st@’. Inteligivel, mas o numero de possibilidades de alteração é grande.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo