O enredo do samba – por Orlando Fonseca
Já se disse que, no Brasil, o ano começa depois do carnaval. Poderia ser uma quaresma à brasileira, mas não, o espírito tropical não é muito dado ao recolhimento e à contrição. No entanto, ao que tudo indica (incluindo aí os gráficos da Covid-19), nem o carnaval aconteceu dentro da época e se anuncia para mais adiante, pelo menos os desfiles. Sem essa referência, tenho minhas dúvidas de que a vida normal siga o seu ritmo histórico. O enredo do samba, este ano, indica outras cadências e outras alegorias. Aliás, a vida política e a vida cultural em nosso país continuam mesmo sua marcha, em carros alegóricos muito esquisitos. E para complicar um pouco mais, tem uma guerra no Leste Europeu.
Ainda que a sociedade brasileira esboce em todas as suas dimensões o caráter carnavalesco, que antropólogos, sociólogos e observadores em geral têm apontado, ao que tudo indica, este ano será diferente. Aliás, o ano passado já o foi, especialmente porque os folguedos de Momo também não rolaram. A pandemia fez, por aqui, um estrago na ordem temporal também. E assim é que, mesmo começando um ano de eleições presidenciais e, pasmem, de copa do Mundo (que nem será em junho ou julho) o ano segue em recolhimento, junto com as medidas sanitárias de isolamento, ainda necessárias. Máscara mesmo, só as cirúrgicas, e libações alcoólicas só mesmo se for com álcool gel.
O calendário escolar, ainda que com adaptações, se insinua na vida de crianças e adolescentes. Após dois anos de aulas remotas ou híbridas, voltam outra vez para as salas de aulas e bancos escolares. Os professores têm observado que esse grupo esboça características muito diversas daquela que havia antes da perturbação pandêmica. Acostumados à interface tecnológica, a gurizada deixou a espontaneidade das perguntas e das intervenções intempestivas que justificam estarem todos, professores e coleguinhas, em um mesmo ambiente natural. A virtualidade deixou sequelas que ainda precisam de tempo, paciência e a antiga tecnologia da empatia, do afeto, do calor humano para resgatar.
Nesse carnaval fora de época e de propósito, não tem marchinhas, mas marchas e contramarchas. O governo do Estado resolveu atravessar o samba com um decreto liberando o uso de máscara para crianças, ainda que a lei federal continue a indicar a obrigatoriedade. Aos governadores só restaria fazer decretos com maior restrição, não com flexibilização. Desse modo, o que acontece no Rio Grande do Sul, neste momento, só confunde a cabeça da meninada e dos pais. E o pior, só dá argumento para negacionistas de plantão, os quais, mesmo com parentes e amigos indo parar nas UTIs por não se vacinarem ou não completarem a esquema vacinal, continuam a reafirmar bobagens de falsas “autoridades”.
Por falar em autoridades, o calendário eleitoral já começou há alguns meses. Embora a legislação só defina que candidatos possam se apresentar após as convenções, no país da jaboticaba e do jabuti no alto das árvores, a propaganda corre solta. Essa é mais uma alegoria do carnaval em que a política brasileira se transformou, tropical e desgraçadamente. Talvez haja pressa em buscar uma solução para a crise que se abateu sobre o país nos últimos anos: um impeachment, um governo-tampão, que, de acordo com sua ilegitimidade democrática, só tornou mais aguda a situação, trazendo para o palco da política um ator – canastrão – para dar toques de comédia ao nosso drama nacional. E falo isso olhando os índices de rejeição ao atual governo nas pesquisas de opinião. No mais, amigo leitor, prefiro o carnaval de rua, tão brasileiro quanto espontâneo, não este desfile de horrores em que se transformou a nossa conjuntura, que em outras épocas já inspirou o Stanislaw Ponte Preta, mas que, na atualidade, não há criatividade que amenize a sua falta de cores e diversão. Vai passar, como cantaria outro menestrel esperançoso. Eu só completaria: que assim seja!
(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.
‘antiga tecnologia da empatia, do afeto, do calor humano’ não passa de baboseira ideologica, funciona só com as cabeças fracas.
Idem para o ‘negacionistas’. Sem problema, os cuscos ladram e a caravana passa. Atitude de Dudu, o impostor, escancara que o papinho de ‘ciencia’ era cascata mesmo, politica não estava longe. Impeachment foi muito bem feito, evitou um caos economico maior. Alas, Dilma, a humilde e capaz, deu entrevista no final da semana e voltou a virar meme. Total falta de articulação, mal consegue falar. No mais, politica pela politica e não para resolver problemas. Ou seja, outra eleição, as mesmas medidas com os mesmos resultados. Vai passar, mas o mundo esta aí para acabar com expectativas irrealistas. E, obvio, o Ceifador faz sua parte, os velhos morrem para que a humanidade possa ir adiante.
Janes, tradicional publicação sobre defesa, disponibilizou um artigo revelando que a OTAN já havia treinado tropas especiais ucranianas e estava em processo de certifica-las, ou seja, avaliando o desempenho para que pudessem operar junto com tropas ocidentais. Alas, do Mexico para baixo é latino-america e não ‘ocidente’ acima do equador. Civilização ocidental é a Europa do oeste, ianques, canadenses, neozelandeses e australianos. Bom lembrar também que em 2014 quando caiu o governo pro-Russia uma funcionaria do Depto. de Estado Americano, Victoria Nuland, foi fotografada (quase 50 fotos) distribuindo comida para os manifestantes (há quem diga que não foram só tortas). A mesma funcionaria teve uma gravação vazada, conversas um tanto conspirativas. Cereja do bolo é que o resto do mundo vai passar necessidades por conta das sanções (inuteis?) em uma guerra onde não há santos.
Carnaval já não é mais como era antes mesmo antes da pandemia. Pais afora muitas festas de ‘carnaval’ começam com uma ou duas musicas compativeis e depois viram baladas normais ou festas rave. Guerra é mais um freio de arrumação, muitas Dorothy por ai tiveram que abandonar o Mundo Magico de Oz e voltar para o Kansas. Nem todas, obvio, frequentadores de museu em NY jogaram aviãozinhos de papel em protesto contra a guerra (o nivel de retardamento mental não é pouco).