Senhores da guerra – por Marcelo Arigony
“Não há justificativa para um conflito armado que destrói e mata em 2022”
O assunto é lugar-comum, mas a situação é muito incomum.
Nos últimos dias tenho pensado muito numa fala de Mario Sérgio Cortella sobre quem somos, afinal, na fila do pão. Cortella constrói estratosfericamente a resposta para essa pergunta, em perspectiva, mostrando o tamanho da terra, dos planetas, do sol, das galáxias e do universo. Utilizando a linha de raciocínio humana, tenho que concordar com Cortella. Tendo a escala planetária como referência, somos um nada cósmico.
Todavia, se pensarmos a questão por uma perspectiva científica ampliada, agregando vieses filosóficos e religiosos, a resposta pode ser outra. Cada vida deste pequeno grande planeta encerra um valor absoluto incalculável. Fazemos parte de um magnífico ecossistema, cada qual com um papel único, que sequer temos capacidade de entender. E penso que seja muita pretensão querer explicar Deus.
No mesmo passo, Carl Sagan ilustra a terra como um pálido ponto azul, em seu livro que trata do futuro da humanidade no espaço. Nesta obra refere que a terra é nossa casa, onde todos a quem amamos, conhecemos – qualquer um sobre quem ouvimos falar, ou existiu e não se ouviu falar – cada ser humano, viveu sua vida. Pretensiosamente, ouso acrescentar os outros seres – vivos e inanimados.
Segue Carl Sagan falando nos rios de sangue derramados por generais e imperadores, para sua glória e triunfo, para serem senhores momentâneos de uma pequena fração do nosso (?) pálido ponto azul. E aqui chegamos ao ponto. Nossa lógica é indigente, frente à grandiosidade do universo. E a lógica dos generais da guerra é indigente, indigna, doente e perversa.
O mundo conhecido não tem mais fronteiras. O que ocorre para um afeta muitos, afeta a todos. Ubiquidade é a palavra de ordem na contemporaneidade. E há quem apoie algum senhor da guerra, pois algum argumento talvez o justifique. Até o louco tem suas razões. Mas não há justificativa para um conflito armado que destrói e mata em 2022. Pior ainda pela potencial escalabilidade.
Vivemos um momento que permito chamar de pós-iluminismo, tempo de maturidade, em que tudo o que havia de mais importante para o progresso e manutenção da vida já é conhecido. Não é possível que, neste momento, históricos senhores da guerra ainda derramem sangue por interesses próprios e de suas nações, em prejuízo de todos.
Para fechar, visito novamente Carl Sagan, onde diz que a terra é o único mundo conhecido que abriga vida e por enquanto é onde temos que ficar, o que acentua nossa responsabilidade para sermos mais amáveis uns com os outros, e para protegermos e acarinharmos o pálido ponto azul, o único lar que nós conhecemos.
Nosso pequeno planeta é de todos. E todas as vozes precisam ecoar contra a guerra.
(*) Marcelo Mendes Arigony é titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.
Não sei o motivo, mas idealistas tem o ego gigantesco. Acham que a propria opinião é importante e indispensavel. Esquecem que a humanidade não lhes deve satisfação. Existe o aspecto ideologico também, a historia caminha inexoravelmente da barbarie para a ‘civilização’. Cortella é um padre que não deu certo. Carl Sagan está morto. No final da guerra fria Samuel Huntington escreveu um artigo na Foreign Affairs que depois das criticas viraram um livro. Choque de Civilizações. Democracia liberal venceu o embate economico (resumo grosseiro) os cconflitos futuros seriam por diferenças culturais, visões de mundo diferentes. Francis Fukuiama afirmou que (grosso modo) democracias liberais capitalistas seriam lugar comum sem conflitos. Decretou o fim da historia. Quem será que acertou?