ROCK’N’ROLL & CENSURA. O que Lula, Bolsonaro, SM e a banda “Paralamas do Sucesso” têm em comum?
Partiu daqui de Santa Maria o “rock ofensivo à honra dos membros da Câmara”
Por Maiquel Rosauro
“Nós estávamos em Santa Maria, numa excursão pelo Rio Grande do Sul, quando o Herbert entrou no quarto do hotel e nos mostrou a música. Era outubro de 94. Todo mundo achou a letra ótima. Depois, no estúdio, lhe demos a roupagem mais funk. Mas ela é basicamente um exercício de cordel do Herbert, em forma de baião”.
É desta forma que baterista e percussionista do Paralamas do Sucesso, João Barone, relatou à revista Manchete, em julho de 1995, como foi seu primeiro contato com a canção “Luiz Inácio (300 picaretas)”, que sofreu censura dez anos após a queda do regime militar. Na mesma entrevista, o cantor e guitarrista Herbert Vianna explicou como criou a letra (AQUI).
“Eu comecei a escrevê-la a partir daquela declaração do Lula, de que no Congresso existiam 300 picaretas. Depois, fui depurando, cortando. Num dos versos, falava que os deputados são a única classe que tem o poder de aumentar seu próprio salário. Ficou de fora da letra, pena”, disse Herbert.
O vocalista da icônica banda referia-se a uma frase dita pelo então presidente nacional do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, em setembro de 1993, em Ariquemes/RO. O petista, que percorria o Norte do país em campanha para a eleição presidencial do ano seguinte, disse que havia no Congresso “uma minoria de parlamentares que se preocupa e trabalha pelo país, mas há uma maioria de uns 300 picaretas que defende apenas seus próprios interesses”.
A frase sozinha causou barulho em Brasília, com parlamentares rotulando Lula de antidemocrático. Mas foi a canção do Paralamas que fez os ânimos explodirem. A Manchete destacou que um dos mais exaltados foi o então deputado federal Jair Bolsonaro (PPR/RJ).
“O Congresso já está cheio de crápulas, mas não se pode generalizar, avacalhando com todo mundo”, disse Bolsonaro.
A revista também destacou a indignação do deputado Agnaldo Timóteo (PPR/RJ).
“Estamos em Brasília exercendo nosso mandato de forma nobre de terça a quinta, ganhando o ridículo salário de R$ 5.000 e ainda temos de aguentar desaforo?”, questionou Timóteo.
Mas quem ficou mesmo furioso foi o procurador da Câmara dos Deputados, Bonifácio José Tamm de Andrada (PTB-MG). Ele conseguiu proibir a execução da música em um show em Brasília, em junho de 1995.
“A música é ofensiva, difamadora e injuriosa contra o Congresso Nacional”, disse Andrada à Manchete.
Conforme a Folha de S. Paulo, 15 minutos antes de começar o show, três oficiais de Justiça do Ministério Público Federal apresentaram aos músicos medida cautelar proibindo a execução da canção naquela noite.
“Segundo o Ministério Público, o rock dos Paralamas é “ofensivo à honra dos membros da Casa Legislativa”. A proibição foi feita com base em pedido da Procuradoria-Geral da Câmara dos Deputados”, informou a Folha (AQUI).
No show, Herbert substitui a canção por “Proteção”, da banda Plebe Rude, cujo refrão diz “Será verdade, será que não / nada do que posso falar / e tudo isso para sua proteção / nada do que posso falar“.
Lula, segundo a Manchete, definiu o caso como descabido e absurdo.
“Um absurdo. A censura solicitada pelo deputado José Bonifácio de Andrade é totalmente descabida. Se houve a proibição, deveriam, também, censurar as coisas malfeitas do Congresso, proibir, da mesma forma, os escândalos que atentam contra a respeitabilidade da Casa”, disse Lula.
Até o presidente do Superior Tribunal Federal (STF), Sepúlveda Pertence, se pronunciou sobre o caso, criticando a decisão da Câmara.
“Se a democracia estivesse ameaçada por um rock, estaria muito mal”, alegou Pertence.
Abaixo, a canção censurada do Paralamas do Sucesso:
e hoje, com tudo que a lava a jato apurou e os envolvidos devolvendo as propinas, o que o Herbert, que eu tanto gostava com os paralamas, acha disso? o país sendo saqueado por tantos anos, ainda vai acreditar ?
De picareta Molusco com L., o honesto, entende. Não a ferramenta, óbvio, porque daí significaria trabalho.