Bruno, Dom e o governo que mata o Curupira – por Leonardo da Rocha Botega
Articulista e o fato de nem o personagem lendário conseguir proteger a floresta
Uma das lendas mais conhecidas do folclore brasileiro é a do Curupira, o ser mítico que protege as florestas. Uma lenda que é de conhecimento da cultura letrada brasileira desde os princípios da colonização portuguesa. Em 1560, o padre jesuíta José de Anchieta chegou a mencioná-la em seus escritos. Tal lenda perpassa inúmeros povos indígenas, sendo muito destacada no Norte do Brasil, sobretudo entre os habitantes do Amazonas e do Pará.
Segundo a lenda, o Curupira é um ser pequeno (uma criança ou um adulto anão) que possuí cabelos vermelhos e os pés ao contrário, que com sua grande força física protege as florestas contra todos aqueles que visam destruí-la. Por conta disso, cada vez que precisam entrar nas matas, os indígenas pedem sua autorização, deixando presentes em sinal de respeito. É uma forma de amenizar a sua ira para com aqueles que adentram na floresta para caçar ou derrubar árvores.
Esse mesmo “espírito protetor da floresta”, que é encontrado em inúmeros povos indígenas, estava presente nas trajetórias do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, desaparecidos desde o dia 5 de junho nas proximidades do Rio Itacoaí, na região do Vale do Javari, no extremo oeste do Estado do Amazonas, fronteira com o Peru. Ao que tudo indica foram assassinados.
Na última segunda-feira (12 de junho), a esposa de Dom Phillips chegou a comunicar a imprensa que os corpos do marido e de Bruno haviam sido localizados. A Polícia Federal, que um dia antes havia encontrado pertences dos desaparecidos, até o presente momento, não admitiu que os dois corpos encontrados sejam de Bruno e Dom.
Bruno Pereira era funcionário licenciado da Funai. Em 2019, foi exonerado do cargo de coordenador da área de indígenas isolados e de recente contato da Funai. Na ocasião, comandou uma operação contra o garimpo ilegal na Terra Indígena do Vale do Javari. Sua ação revelou as devastadoras consequências do garimpo na Amazônia e gerou a ira do próprio presidente Jair Bolsonaro.
Sua exoneração contou com o respaldo do presidente, do então Ministro da Justiça, Sérgio Moro, e do presidente da Funai, delegado Marcelo Xavier. Após a exoneração, Bruno solicitou licença não remunerada e passou a atuar junto da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), criada para cumprir o papel de proteção que a Funai não exercia.
Dom Phillips era jornalista freelancer do The Guardian, um dos mais respeitados jornais da Inglaterra. Nos últimos meses vinha acompanhando Bruno Araújo Pereira em suas incursões pela Amazônia, sobretudo na região do Vale do Javari. Nessa região se localiza a Terra Indígena Vale do Javari, segunda maior terra indígena do país com 8,5 milhões de hectares, habitada por aproximadamente 6.317 indígenas de sete povos contatados. Além desses povos, há pelo menos 16 referências a grupos indígenas isolados e não contatados vivendo nessa região que constantemente tem sido alvo de ataques de madeireiros, pescadores e caçadores ilegais, garimpeiros e narcotraficantes. Dom estava justamente escrevendo um livro sobre esses ataques.
Todos sabemos que não é de hoje que ativistas indigenistas ou ambientalistas são mortos na Amazônia. Chico Mendes, Irmã Dorothy Stang e mais recentemente Paulino Guajajara são exemplos dos recorrentes assassinatos de ativistas ao longo da recente História do Brasil. Porém, é inegável que nos últimos anos, sobretudo desde 2019, o véu da hipocrisia sobre tais assassinatos caiu.
Ao comentar sobre os desaparecimentos de Bruno e Dom, o presidente chegou ao cúmulo de afirmar que “os dois sabiam do risco que corriam”. A mesma postura teve o vice-presidente Hamilton Mourão, quando afirmou que Dom e Bruno “entraram em uma área perigosa e sem escolta”.
Para a duas figuras que ocupam os principais cargos do executivo brasileiro, a culpa pelo desaparecimento e possível assassinato é das próprias vítimas. Uma postura que não é nova em um governo que costuma sempre terceirizar culpas pelos seus fracassos econômicos e sociais. Uma postura que condiz com a própria orientação do governo que faz vistas grossas e nega a destruição que a Floresta Amazônica vem sofrendo e o crescimento dos assassinatos de ativistas e indígenas.
Somente no último mês de maio foram perdidos 899,64 km2 de vegetação, registrando a segunda maior série histórica para esse mês, atrás apenas de maio de 2021, quando, em plena pandemia, 1.390 km2 de florestas foram desmatados. No que tange ao garimpo ilegal, segundo a Comissão Pastoral da Terra, esse foi responsável por 92% das mortes por conflitos no campo em 2021. O número de mortos em conflitos com o garimpo ilegal saltou de nove em 2020 para 109 em 2021, ou seja, aumentou 1.110%. Dessas 109 mortes, 101 foram de indígenas Yanomamis.
O anúncio feito pelo presidente, antes mesmo de ser eleito, de que cortaria a cabeça da Funai, se tornou uma dura realidade para ativistas e povos indígenas. Dom Phillips e Bruno Araújo Pereira são vítimas deste corte. São vítimas de um governo que anunciou para todo Brasil ver que aproveitaria o drama da pior pandemia mundial desde 1918 para passar a boiada na proteção ao meio ambiente. São vítimas de um governo que se não for derrotado poderá matar até mesmo o Curupira, afinal, no ritmo da devastação que estamos vivenciando, nem o personagem lendário terá forças para defender a Floresta.
(*) Leonardo da Rocha Botega, que escreve no site às quintas-feiras, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964).
Nota do Editor. A montagem com fotos do indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips é uma Reprodução com imagens da TV Globo, publicada originalmente AQUI. O texto acima foi produzido antes da confirmação da morte dos dois desaparecidos.
Na epoca do governo petista haviam planos da construção de uma duzia de usinas hidreletricas na Amazonia. Saiu Belo Monte. Tapete esta de toda altura da quantidade de coisa errada que foi parar embaixo. Futuramente as outras 11 sairão do papel. Necessidade até existe, mas não sera por isto, objetivos são outros. Devastação da Amazonia será justificada pelos que hoje condenam. Hipocrisia é da natureza humana.
Deixando a chinelagem eleitoral de lado. Em junho de 2020 Fachin do STF proibiu operações da policia nas favelas do RJ durante a pandemia. RJ, cidade litoranea, ex-Distrito Federal, ex-estado da Guanabara. Habitada praticamente desde o descobrimento. Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, Terceiro Comando da Capital, dominava algumas ‘comunidades’ e aproveitou para anexar mais algumas em julho de 2020 (mais de 130 mil habitantes). Criou o ‘Complexo de Israel’. Murou alguns lugares, reforçou a segurança. Espalhou bandeiras de Israel por todo canto. Nas barreiras de controle de acesso sempre há o simbolo da paz e a palavra ‘amor’ pintada ou numa bandeira. Traficante acabou com todos os templos de religião de matriz africana no territorio dele. Expulsou religiosos. Um ano antes destes fatos, 2019, foi acusado da execução de 8 pessoas e ocultação de cadaver, nunca foram encontrados. Para quem não desconfiou, o meliante é evangélico. Brasil é uma pintura de Dali com base num texto de Carlos Castaneda. Sim, porque teve muita gente que defendeu a decisão do ‘ministro’. Se perguntassem na epoca para qualquer policial carioca o que achava do fato a resposta não poderia ser diferente: ‘é obvio que vai dar m.’.
Dom Phillips morava em Salvador, Bahia, desde 2007. Casado com brasileira. Bruno Pereira era FG e foi legalmente exonerado. Simples assim. ‘Comandou operação contra o garimpo’ é ‘narrativa’, óbvio, que le até acredita que era o Rambo. Operações deste tipo sem presença da PF ou algum elemento (no sentido de parte, para ajudar os analfabetos funcionais) da policia ou Forças Armadas fortemente armado é Historia da Carochinha. E, podem apostar, o paisano ‘não apita nada’, porque dificilmente algo acontece sem mandado de prisão/busca e apreensão. Até porque há que justificar o orçamento depois. Simples assim. Resumo até aqui é tentar usar a ignorancia das pessoas para proveito proprio. Alás, se o sujeito estava de licença não remunerada, quem pagava as contas?
Nesta hora algum desavisado (ou mau caráter) vai falar em ‘culpar a vitima’. Principalmente nas ideologias onde a vitimização é ferramenta politica. Direito penal tem alguns institutos interessantes. Dolo eventual no homicidio. Resultado é previsivel, agente indiferente a isto assume o risco de produzi-lo. Culpa consciente, resultado é previsivel, mas acredita que, por conta de caracteristica pessoal, nada acontecerá. O que se diz quando a vitima não é terceiro(a), é o proprio agente? Sem falar na culpa concorrente da vitima no direito civil.
Primeiro o óbvio. Vermelhinhos querem colocar as mortes, usar como gancho para o trazer o desmatamento a baila novamente, na conta do Cavalão por conta da eleição. Com algum ignorante desavisado até cola. O pico do desmatamento da Amazonia, serie historica disponivel no INPE, foi 2004. Foram desmatados 27772 km2. Atinge um minimo em 2012 (4571 km2) e volta a subir, em 2016 ja eram 7893 km2.