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“Educação muda as pessoas” – por Michael Almeida Di Giacomo

O articulista, o Instituto de Educação Olavo Bilac e o patrono Paulo Freire

Além da tradicional comemoração da data que lembra a revolução Farroupilha, setembro é um mês que nos propicia saudar outros ícones de nossa história, tanto em Santa Maria, quanto no Brasil. O primeiro, o Instituto de Educação Olavo Bilac, completou 120 anos no dia 20 de setembro. Fundado em 1901, é a escola mais antiga na região de Santa Maria.

Eu tive a satisfação de ter cursado o ensino fundamental no “Bilac”.  À época, devido a procura, não era muito fácil conseguir matricular um filho no IEOB. Era necessário ter residência próxima à escola e ficar um bom tempo em uma fila. Minha mãe percorreu esse caminho para todos os quatro filhos.

No ambiente bilaquiano fiz amigos que até hoje ainda encontro pelas ruas da cidade. Tenho vivas ótimas lembranças dos professores e professoras; como o professor Mário, que por anos seguidos foi eleito diretor da escola. Um cara muito simpático, bem-humorado, grande educador e democrata.

Iniciei minha militância no movimento estudantil na secretaria de imprensa do Grêmio do IEOB, reativado na década de 1990. Adiante, presidi a entidade, o que me levou depois a presidir a União Santa-mariense dos Estudantes. Era um dos tantos estudantes que foram às ruas e deram origem a geração “cara pintada”. Para além das aulas de matemática (que eu detestava), no IEOB eu formei minha consciência cidadã.

E, para os que veem na educação o caminho para mudar uma realidade repleta de injustiças sociais, o mês não poderia ser mais rico. No último dia 19 comemorou-se o centenário de nascimento do pernambucano Paulo Freire – patrono da educação brasileira.

Um dos seus principais legados, a influenciar docentes no Brasil e em inúmeros outros países, foi a defesa e o incentivo para que os estudantes tivessem condições próprias de desenvolver sua capacidade crítica. Uma de suas obras de maior destaque é “A pedagogia do Oprimido”.

Freire buscou romper com a cultura do “silêncio” que, a seu ver, restava fundamentada para oprimir o indivíduo, e a eliminar “caminhos de pensamento que levam a uma linguagem crítica”.

Sob seu magistério, tem-se a defesa de uma educação libertadora, com base no diálogo entre alunos e professores, numa abordagem humanística da aprendizagem, no encontro de um ambiente que realmente possa romper com o modelo convencional de educação, estruturado para tão somente manter o status quo. 

Em 1964, Freire era o coordenador do Programa Nacional de Alfabetização que tinha por objetivo criar círculos de cultura, a fim de alfabetizar perto de 2 milhões de adultos. O Plano iria atender perto de 10% da população analfabeta, estimada em 20 milhões de pessoas.

Entre as inovações apresentadas pelo educador, destaca-se a substituição das cartilhas e livros-texto por um trabalho pedagógico com “palavras geradoras”, extraídas da linguagem corrente dos grupos locais, com a ênfase na relação dialógica entre as experiências de vida dos professores, estudantes e familiares.

A ditadura militar acabou por extinguir o Plano de Alfabetização. Em seu lugar impôs a Reforma Universitária e o sistema Mobral. Freire foi para o exílio na Bolívia, Chile, Estados Unidos e Suíça.

O educador entendia e pregava que “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”. Que os oprimidos devem ser os verdadeiros protagonistas de um processo histórico de transformação cidadã.

Na história da república brasileira, este é um dos hiatos que resta por explicar muito o porquê ainda somos um país de muitas discrepâncias sociais, com um enorme contingente de analfabetos funcionais, de brasileiros que ainda são invisíveis aos olhos do Estado.

(*) Michael Almeida Di Giacomo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Mestre em Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público. O autor também está no twitter: @giacomo15.

Nota do Editor:a arte com o educador Paulo Preire (CEFORTEPE/Luiz Carlos Cappellano/Reprodução) é uma reprodução do Guia do Estudante, da Editora Abril (AQUI)

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Um Comentário

  1. Não estudei no Bilac. Ex-alunos tentam arrumar o predio, para mim tanto faz. Paulo Freire, o cara da pedagogia critica (vide Escola da Frankfurt), vira assunto de tempos em tempos, mas, comos seus titulos e honrarias, continua irrelevante. É mais uma provocação vermelhinha para os outros perderem tempo debatendo a ideologia deles.
    Noutra semana professora da grande POA (gosto de dar nome aos bois, mas não quando periga uma lide) fez debate com os alunos pré-adolescentes. Tema era ‘violencia na adolescencia’. Fez prova sobre o assunto. Problema é que a disciplina era portugues. Carga horaria destinada ao aperfeiçoamento do idioma patrio foi gasta num assunto que não dizia respeita a disciplina. Pior, a vermelhinha resolveu ‘incentivar’ a leitura e utilizou autores menos conhecidos (inclusive algumas nulidades da aldeia). Depois foi para Machado de Assis. Ou seja, sobremesa só se comer o que não gosta. ‘Incentivam’ a leitura com textos de nulidades. Depois o resultado é um amontoado de analfabetos funcionais e a solução é aumentar o salario dos professores.

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