Democracia não tolera política de ódio – por Rafael Gomes Torres
“Os ‘guardas da esquina’ permanecem entre nós, com ou sem farda"
“Presidente, o problema de uma lei assim não é o senhor, nem os que com o senhor governam o país. O problema é o guarda da esquina”. Frase proferida por Pedro Aleixo, então vice de Costa e Silva quando da edição do mais cruel e perverso ato da Ditadura Militar brasileira, o AI-5 em 1968.
Acontecimentos recentes em nossa sociedade revelam que os “guardas da esquina” permanecem entre nós com ou sem farda. Os novos atos institucionais não mais vêm expressamente escritos na forma de normativas, mas sim, por vezes, cifrados, subliminarmente colocados caracterizando a “política do apito de cachorro” (**).
Já presenciamos secretário especial de cultura parafrasear discurso nazista, assessor da presidência reproduzir gesto supremacista e mesmo o chefe da nação incitar metralhar militantes de partido adversário. Tais colocações subvertem o sentido real de liberdade de expressão e servem exclusivamente para atiçar um público-alvo bastante específico, reforçando o discurso de ódio e incentivando a intolerância e o preconceito.
É urgente a construção de uma cultura de paz e tolerância em nossa sociedade, educando para o pleno exercício da democracia o qual exige respeito às diferentes formas de manifestação política, religiosa, ideológica e de gênero. Para isso são necessárias políticas públicas afirmativas e estrutura adequada para que muito precocemente sejam adotadas medidas a fim de identificar e orientar nossos jovens a viver a cidadania com respeito e tolerância. E isso é um desafio para todos nós, mais um.
Tais situações quando reproduzidas no ambiente escolar de forma expressa ou na forma de ameaça não devem ser tratadas apenas como algo banal e sem importância, nem tampouco resolvidas com a transferência do “problema” para outra instituição sem o devido encaminhamento e acolhimento. É fundamental contar com estrutura profissional adequada para alunos, famílias e professores. Saúde mental abalada em tempos de intolerância e ódio são uma mistura perigosa e imprevisível.
Em 2022 já são mais de 500 afastamentos do trabalho por questões relacionadas à saúde na rede municipal. Certamente um grande número desses afastamentos são resultado de esgotamento físico e psicológico. Sinal de alerta.
Precisamos de tempos de paz e tolerância. Fortalecer a educação valorizando e oferecendo a estrutura necessária para poder transformar a realidade de nossos jovens. Cuidar de quem verdadeiramente cuida. Mais do que nunca, esperançar!
(*) Rafael Gomes Torres é professor das redes municipal e estadual e coordenador de Comunicação e Formação Sindical do Sindicato dos Professores Municipais de Santa Maria (Sinprosm)
(**) Apito de cachorro, ou política do dog whistle, é uma mensagem política empregando linguagem em código que parece significar uma coisa para a população em geral, mas tem um significado mais específico e diferente para um subgrupo-alvo.
Problema do serviço publico, para não trabalhar sempre se arruma uma desculpa.