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ELEIÇÕES 2022. Com eleitorado “do contra”, no RS a disputa tem muitos indecisos e pesquisas em xeque

Nos últimos cinco pleitos, em apenas um o líder em agosto venceu em outubro

Indecisão é bastante alta entre eleitores do Rio Grande do Sul, há pouco mais de um mês do pleito (Foto Rovena Rosa/Agência Brasil)

Reproduzido do jornal eletrônico SUL21 / Texto de Flávio Ilha

Além de deixar na mão os governantes de plantão ao eleger seus adversários, o eleitorado gaúcho mostra que também é do contra em relação aos levantamentos de intenção de voto: das últimas cinco eleições majoritárias no Rio Grande do Sul (2002 a 2018), apenas em 2010 o candidato que liderava as pesquisas em agosto acabou vencendo a disputa.

Naquele ano, o então ministro da Justiça de Lula, Tarso Genro (PT), se desincompatibilizou do cargo para se candidatar ao governo gaúcho. Tarso, que aparecia como favorito nas pesquisas, venceu a eleição ainda em primeiro turno com 54,35% dos votos válidos. Nas outras quatro eleições, os favoritos nas pesquisas a menos de dois meses do pleito perderam para adversários menos cotados.

O caso mais notório foi do ex-governador José Ivo Sartori (MDB), que saiu de 5,9% no levantamento do instituto Methodus, em agosto de 2014, para atropelar a senadora Ana Amélia Lemos (à época no PP), que liderava as pesquisas com 42,4% das intenções de voto, e também o governador Tarso Genro, que estava em segundo lugar na preferência dos eleitores, com 31%. Sartori venceu o segundo turno sobre Genro com 61% dos votos válidos.

O fenômeno se deve em grande parte à alta quantidade de eleitores indecisos. Em julho de 2014, três meses antes daquela eleição, o número de eleitores que não sabia em quem votar beirava os 60%. Quatro anos depois, subiu para 63%. “Tem uma parcela do eleitorado que decide [o voto] muito em cima da hora. No fundo é esse eleitor mediano que os candidatos vão buscar”, pontua o cientista político Paulo Peres, da UFRGS.

Ainda mais numa eleição polarizada no plano nacional. No Rio Grande do Sul, o ex-governador Eduardo Leite (PSDB) lidera as intenções de voto pelo Ipec com 32% de preferência. Leite é crítico tanto da candidatura do ex-presidente Lula (PT) quanto da reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). Em segundo lugar está Onyx Lorenzoni (PL), que foi ministro de Bolsonaro, com 19% das intenções de voto. Depois aparece o deputado Edegar Pretto (PT), candidato de Lula no Estado, com 7%.

“É natural que se imagine um crescimento da candidatura vinculada a Lula à medida que a campanha avance”, especula Peres. “O eleitor está preocupado com a crise econômica, com o desemprego, com a inflação. O tema da economia será forte, o que ajuda o candidato do PT, porque esse é o discurso de políticas sociais da esquerda. Não é um agenda favorável ao Bolsonaro”, pondera.

Nas pesquisas relativas à eleição de 2022, o índice de indecisos se repete no Rio Grande do Sul. No instituto Ipec, que sucedeu o Ibope, o número de consultados no levantamento de 15 de agosto que se diz indeciso chegou a 64%. No levantamento do Instituto Paraná Pesquisa, divulgado na última quinta-feira (25), sete em cada dez eleitores consultados disse que não sabia em quem iria votar.

Para Geraldo Tadeu Monteiro, presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), o fenômeno da indecisão coincide com o início do horário eleitoral no rádio e na televisão. A propaganda gratuita iniciou nesta sexta-feira (26) em todo o país e se estende até 29 de setembro.

Antes da explosão das redes sociais, em 2014, o IBPS perguntou aos eleitores se consideravam o horário eleitoral em rádio e TV importante para a definição de voto: 83% dos entrevistados consideraram que sim. Mas apenas 15% disseram acompanhar a propaganda. Contradição? Nem tanto.

“Mesmo que a maioria da população não assista aos programas diariamente, ainda assim é sujeita à propaganda porque a influência recai sobre os mais escolarizados, que têm o hábito de ler, de acompanhar os programas de governo. São os chamados ‘formadores de opinião horizontal’, que acabam influenciando amigos, familiares e colegas de trabalho”, pondera Monteiro.

O analista avalia que o índice de espectadores deve ser ainda menor em função das redes sociais, mas mesmo assim considera a propaganda importante porque é um espaço formal entre a sociedade e as instituições políticas. “Mesmo com audiência baixa e em queda, é um canal de comunicação que busca a oficialidade que as redes muitas vezes não têm. É diferente das bolhas, onde a passionalidade domina”, diz.

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