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Mês da cultura – por Orlando Fonseca

A importância histórica do período, “neste 2022 de convalescença nacional”

Em nossa cidade, este mês é dedicado à cultura. Podemos até objetar que todo dia, toda semana deveria ser dedicada ao tema. Não à toa, temos um epíteto orgulhoso de Cidade Cultura – considero mais como um desafio do que um elogio. Nos últimos anos, nosso país tem atravessado por um obscuro período de descrédito e absoluta desatenção à cultura.

Santa Maria não escapou às dificuldades impostas e havidas pelas tragédias naturais e as administrativas. Assim como a saúde física da população foi afetada por um vírus letal, a saúde intelectual da Nação foi abalada por teorias, boatos e prevalência do senso comum.

A cultura se relaciona à alma de um povo, e se não for tratada com a devida atenção, vai-se perdendo a autoestima e a dignidade cidadã. Por isso, este mês de agosto santa-mariense reserva sua importância histórica, e episódica, neste 2022 de convalescença nacional.

A agenda pública de agosto, por aqui, se deve à homenagem devida a um dos maiores nomes da cultura local. O poeta Felipe D’Oliveira é, sem favor algum, a maior expressão literária nascida em Santa Maria. Não é por falta de mérito que o seu busto está na praça central de nossa cidade, em uma escultura produzida por um dos maiores nomes dessa arte no país: Vitor Brecheret, autor, entre outras obras, do Monumento às Bandeiras, em São Paulo.

Nascido a 23 de agosto de 1890, tendo passado a sua infância no espaço onde cultivamos o Centro Histórico, o poeta se mudou para a capital do Estado, e posteriormente para o centro do país, onde conviveu, primeiro, com os literatos ligados ao movimento simbolista. Depois, reuniu-se aos modernistas, em São Paulo. A cidade faz muito bem em cultivar o seu nome, inclusive com um dos concursos literários de maior projeção no Brasil (cuja entrega de prêmios se dará no dia 24, em evento solene na Câmara de Vereadores)

Apesar das dificuldades que o setor enfrenta, temos em Santa Maria um grupo imenso de artistas, artesãos, produtores culturais, capazes de dar a feição que nossa cidade merece. Ainda que lutando contra as precariedades e falta de investimento, cantores, instrumentistas, atores, escritores, bailarinos e bailarinas se equilibram na “corda bamba de sombrinha”, como nos versos de Aldir Blanc, cantados por João Bosco.

A ninguém escapa a qualidade manifesta por esta gente, nos bares, nos palcos do Treze de Maio ou do Centro de Eventos da UFSM, nas telas no MASM ou nas páginas de livros e periódicos da cidade. Em alguns casos, por ser um trabalho heroico, é quase mágico o que é possível “tirar da cartola” e encantar o nosso respeitável público conterrâneo. Mas é preciso fazer mais para que tenhamos por aqui o melhor espetáculo da Terra, feito em conjunto, forças econômicas da iniciativa privada e Poder Público.

Por isso vejo com uma enorme expectativa a criação de um conceito que ganha corpo, o Distrito Criativo Centro-Gare. Por enquanto ele se estrutura como ideia, recebendo o esforço de entidades e Prefeitura, mas já permite enxergar uma realidade se aproximando. Nosso Centro Histórico deve ser preservado, para que tenhamos todos à vista os símbolos de nossa história e os caminhos que tomamos para o nosso desenvolvimento.

No eixo que vai da Rua do Acampamento – origem da povoação local – à Gare da Viação Férrea, passando pela Praça Saldanha Marinho e a Avenida Rio Branco e Vila Belga, temos o cerne do que conhecemos hoje como nossa cidade, Santa Maria. Ali está um dos maiores acervos de arquitetura em art déco, ali estão símbolos importantes da influência ferroviária, que representou o nosso primeiro influxo econômico.

Revitalizar a região, redesenhando a sua vocação para o progresso, com ocupações e negócios da economia criativa, mantendo sua feição histórica, é de suma importância para a identidade atual da Cidade Cultura.

Por isso se torna ainda mais importante a celebração deste mês de agosto dedicado à cultura, para que nos demais dias do ano a comunidade e as autoridades, políticas e econômicas, se unam em favor de um projeto que eleve cada vez mais o nome da cidade, como o fez em seus versos, o poeta Felipe D’Oliveira.

(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.

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4 Comentários

  1. Centro historico não está ‘destinado ao sucesso’. Pessoal da aldeia, alem de palpiteiro, é extremamente teorico. Poder publico vai gastar recursos revitalizando, o que é razoavel dentro de certos parametros. Porem a população pode ignorar a coisa toda. Simples assim. Arquitetura art deco é atração altamente nichada. Como parques paleontologicos e geoparques. Midia local fica martelando a ‘importancia’ para ver alguem muda de ideia, maioria não está nem ai (midia local preguiçosa, existem assuntos rotativos que servem para preencher espaço). Tatica da cultura também (vide os chatos das calçadas e dos anuncios), repetir, repetir, repetir. Bom motivo para trocar de estação ou começar a ler outro jornal.

  2. Se equilibram na corda bamba voluntariamente. foram para o setor que escolheram. Não são ‘vitimas’. Ideologia, cultura é um setor para-estatal para divulgar ideologias, fazer engenharia social. Remuneração garantida sem ‘preocupações mercadologicas’. Arte como manifestação de um(a) mané, o artista, que pouca interessa pouca gente, mas não tem problema, já está pago com recursos publicos que fazem falta em outros setores. Distrito criativo é copia (grande novidade!) de Floripa, não se sabe se funciona direito por lá, não existem informações confiaveis. Pode levar decadas para ficar pronto (vide centro de eventos, casa de cultura, elefante branco do Casarão, a rodovia que iria ligar Pains com o Arenal, etc.). Influencia ferroviaria é algo que muitos municipios UFSM não vai terminar, mas alguém deveria se preocupar com o proximo ciclo de desenvolvimento e com a decadencia da cidade.

  3. Concurso literario de grande projeção no pais patrocinado pelo Casarão da Vale Machado, Kuakuakuakuakua! Tem certeza que a projeção não é mundial? Ou galáctica? Kuakuakuakuakua! Treze de Maio é frequentado por uma classe media alta da terrinha, que gosta de sonhar que ‘somos mais POA’ (aldeia não tem identidade fica tentando copiar outros lugares). Quem frequenta o MASM? Além das escolas onde a visita é obrigatoria? Matação de aula, afinal os analfabetos funcionais do futuro precisam ser formados, afinal, é formação de plateia. Sonhos com um passado de ouro onde museus e teatros eram as unicas alternativas e marcas de distinção de classe. Sem ilusões, se colocassem a Mona Lisa em exposição no MASM a fila chegaria ate Camobi.

  4. Mes da Cultura é importante para um nicho da urb, uma bolha. Sem entrar no assunto ‘imposturas intelectuais’ da aldeia. Descredito e desatenção a cultura? Maior controversia no assunto é a ‘bolsa artista ruim’. Lembrando que na esquerda ‘bom’ é questão de convenção social, o resto da humanidade exige um minimo de qualidade. Que é subjetiva e não ‘coletiva’. Autoestima e dignidade cidadã, palavras bonitas que não dizem nada para a grande maioria da população, prenuncio de tapinhas nas costas e puxadas de saco em gabinetes e estudios. Felipe D’Oliveira é a rua onde se faz laço de quadra para o retorno na Medianeira, onde ficava, se lembro bem, o finado jornal O Expresso. Hoje é um salão de beleza, perto de um pé de platano que foi atorado. Poesia já é nichada atualmente e Felipe é leitura voluntaria para muito poucos. Na base do ‘Machado de Assis é muito bom, sou muito intelectual porque leio ele’. Leitura maçante, esta é a verdade.

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