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Parfum pour le Cul: a moral à l’arrière – por Marcelo Arigony

O cronista e o perfume lançado pela popstar Anitta. Ah, e tem a tal de moral

Nesta semana ouvi falar que a cantora Anitta estava lançando um perfume íntimo, para a parte detrás. Achei meio inusitado, mas em vista da nova ordem moral – e como a rabanete symbol já havia alardeado a cunhagem de uma tatoo à la porte arrière – acreditei. Em seguida fiz uma rápida pesquisa, e descobri que o assunto já era manchete em todas as grandes plataformas de mídia.

Eu estava atrasado, o tema – classificado pela própria Anitta como polêmico – já rendia muita discussão, opiniões médicas, ideológicas, filosóficas… e muitos dólares.

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No twitter, a cantora diz que está na hora de fazer dinheiro com o “polemicu” dela, e propalou as fragrâncias e as imagens, do perfumoso Puzzy:

– A logo da frente do produto é a tatoo que tenho na ‘larissinha’ e a logo de dentro é a tatoo do ‘tororó’. Aguardem!

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Aí fiquei aqui pensando… em como a moral muda. E na diferença entre moral e ética.

Não é minha área, mas quando ministro introdução ao Direito Penal, é necessário fazer algumas reflexões sobre Direito e Justiça, crimes naturais, moral e ética, coisas do tipo.

Tenho que a ética é universal e universalizável. O que é antiético, assim o é, e será em qualquer lugar do tempo e do espaço. Verbi gratia, roubar, estuprar, maltratar os mais fracos e ser cruel com os animais são condutas que ferem a ética, em qualquer lugar do mundo, em qualquer época, mesmo que não haja legislação que diga isso. É meio que direito natural. Ser ético é fazer o certo, mesmo quando ninguém tá vendo.

Já a moral, é individualizada, própria de cada coletividade, de cada lugar da relação tempo-espaço. A moral vai sendo construída paulatinamente, alicerçada nos valores da comunidade a que serve. A moral das indígenas que andavam nuas é certamente diferente da de algumas religiosas que cobrem todo o corpo, inclusive o rosto com véu.

O beijo lascivo, que em meados do século passado era ato obsceno, hoje não é mais considerado crime. Até há pouco tempo o adultério era crime. Foi descriminalizado em 2005, porque protegia a moral. E a moral mudou. Então pular a cerca agora pode, Arnaldo?! E o poliamor? E o beijo a três?

Mas voltando à Anitta, além da indiscutível aptidão empreendedora, impossível não registrar o nó górdio criado para o movimento feminista, que historicamente combateu o estereótipo da mulher como objeto sexual. Anitta atropelou essa bandeira; não bastasse vender seu saculejo abundante, agora fatura o perfume do seu recavém.

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Em tempo. LÓreal e Cacharel lançaram o festejado Anaïs Anaïs em 1978, voltados à personalidade feminina, inspirado em Anaites, Deusa do Amor Persa.

 (*) Marcelo Mendes Arigony é titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.

Nota do editor: a imagem (de reprodução), com três versões do produto, mostrado por sua criadora, é da página na internet do perfume “Puzzy”, lançado pela popstar Anitta. AQUI, no original.

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6 Comentários

  1. Direito penal brasileiro (não só o penal) é de uma burocracia bizantina. Quanto mais complexo maior a chance de nulidades que levam a mais procedimentos burocraticos (e mais dinheiro no bolso dos oabistas). Desculpas existem muitas, ‘se fosse alguém da sua familia tu não iria reclamar das “garantias”‘. Na Europa e nos EUA, lugares ditos desenvolvidos, o processo penal é mais simples, mais rapido, com menor numero de recursos, com menos instancias. Funciona. Simples assim. O resto é mimimi de advogado(a). O que leva aos grupos de pressão no Congresso, OAB é um dos lobbies mais fortes. Não é o unico. Sonho de Valsa era um bombom, era vendido numa embalagem enrolada. Pagava 5% de IPI. Passou a ser vendido numa embalagem selada. Foi reclassificado como ‘produto de padaria, pastelaria, ou da industria de bolachas e biscoitos’, virou waffer, logo paga 0% de IPI. Baixou o preço? Não é uma maravilha?

  2. Adulterio era crime porque protegia o patrimonio (além da instituição familia), não esqueçamos da ideologia juridica. E, se formos observar a historia, direito Romano tinha meia duzia de casamentos diferentes. O conceito de ‘familia’ também era diferente.

  3. Etica não é universal, tampouco universalizavel (entretanto existe um nucleo comum, não matar, não roubar, por exemplo). Pelo menos não está no horizonte. Pessoal do juridico tem sua ideologia e não consegue ver Visão de mundo de um alemão, de um tupiniquim, de um chines confuncionista, de um paquistanes muçulmano ou de um hindu são muito diferentes. Ou seja, não dá para jogar a antropologia no lixo por conta de ideologia. Moral varia com o tempo, não ‘melhora’. Caetano Veloso, segundo conta, teria tido relações sexuais com a companheira quando ela tinha 13 anos. Roman Polanski não pode voltar para os EUA pelo mesmo motivo (embora no caso brasileiro devido a mudança legislativa a violencia seja presumida). Moralmente a maioria ainda da a minima para ambos os casos? Legalmente as repercussões são diferentes.

  4. Voltando à ‘cantora’, vermelhinhos dizem que ela é uma ‘mulher empoderada’. Feminismo? Ultima ‘onda’ do feminismo foi a infiltração da esquerda. Como ‘tudo é uma convenção social’, a duzia de cirurgias plasticas, o uso comercial da perseguida e do toba não diminuem o feminismo, a contradição (ou hipocrisia) da objetificação do corpo feminino não importam, a criatura defende as ‘bandeiras certas’. ‘Polemica’ depende muito da bolha e dos interésses de cada um. Para quem não presta atenção neste tipo de coisa simplesmente não existe. Há outro lado ainda. Marketing. Carreira nenhuma no meio artistico dura para sempre. A decadencia é certa. Com um pouco de sorte resta um nicho. Vide Daniela Mercury, Ivete Sangalo, etc. Não existe mais venda de discos, o modelo mudou faz tempo, shows dão dinheiro. Não é a toa que existe uma simbiose entre politicos e artistas, vide Lei Rouanet. Manter o padrão de vida do pico da carreira não é facil.

  5. ‘a moral, é individualizada, própria de cada coletividade’, ou a moral é individual ou coletiva, contradição. Há tribos com diretivas morais diferentes, o nó gordio é fazer as tribos conviverem sem muito conflito numa sociedade. Principalmente quando algumas tribos tentam impor sua moral a todo o resto. Vamos combinar, nenhum(a) ‘crente’ tentou me dizer o que é certo e o que é errado, mas a religião esquerdista toda hora tenta impor sua visão de mundo aos outros. Simples assim. A média media da sociedade muda durante a historia, mas é algo organico, não imposição de um grupo politico. Em todos os lugares, ao menos os conhecidos, o pendulo foi (muitas vezes só no imaginario) e voltou.

  6. Trago verdades como diria o outro. Anitta faz campanha para Molusco com L., o honesto. Logo quem fala algo dela corre o risco de ser declarado reaça, fascista, homofobico (ela defende as causas do Alfabeto), racista, etc. Filha de mineiro com nordestina, nasceu num bairro carioca. Qualidade da musica é subjetiva. Discos do Caetano Veloso no inicio de carreira eram subsidiados pelos Amado Batista da vida. ‘Carreira internacional’ é algo que tentam fazer colar, mas não decola. Contratou um escritorio nos EUA e conseguiu entrevista em talk show no pais ianque e andou testando o Mexico (inclusive no ‘The Voice’). Diferente, por exemplo, da banda Sepultura que logo no inicio fazia duzias de shows now EUA e na Europa, sempre fizeram mais sucesso la fora do que aqui. Resumo até aqui é que a midia engajada tenta fazer parecer maior/melhor pelo que a criatura ‘representa’.

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