Antónia Pusich. A primeira jornalista portuguesa – por Elen Biguelini
“Ao longo de sua vida, a ‘Senhora Pusich’ produziu três diferentes jornais”
Apresentamos nesta semana outra senhora que marcou a História. Neste caso, um caboverdiana que foi a primeira editora de jornais em Portugal.
Antónia Gertrudes Pusich nasceu em 1º de outubro de 1805. Ela era filha de um militar croata, António Pusich e de sua esposa Ana Maria Isabel Nunes. Ela havia nascido na ilha de Cabo Verde, onde o pai trabalhava como militar. Ficou neste local durante toda a sua juventude, tendo recebido uma educação privilegiada e exercendo a função de secretária durante toda a vida de seu pai.
Pouco após a chegada em Portugal, cerca de 1821, ela se casou com aquele que era, então, o ouvidor geral do Cabo Verde, o desembargador João Cardoso de Almeida Amado Viana Coelho, com quem teve seis filhos. Mas a morte do marido veio pouco depois e em 1827 ela já se casava novamente, agora com Francisco Henrique Teixeira. De sua segunda união, teve mais um filho. Oito anos depois, Pusich se casou novamente, agora com o capitão José Roberto de Melo Fernandes e Almeida, de quem teve outros quatro filhos. Assim, totalizou onze filhos.
Ao longo de sua vida, foi conhecida como a Senhora Pusich, e produziu três diferentes jornais. O primeiro foi a “Assembleia Litterária” (Lisboa, 1849-1951), que durou três anos e tratava de uma vasta quantidade de temáticas e textos. Neste, foi publicada grande parte de sua obra, por meio de folhetins. Na semana seguinte, traremos a transcrição atualizada de uma destas obras: “Dois Mistérios”.
Ela era a editora do jornal, decidia o que seria publicado e quais as temáticas eram relevantes para o periódico. Dava grande espaço para autoras mulheres, e permitia que outras jovens senhoras também tivessem suas opiniões, poesias e pequenos contos nele representados.
Após o final deste periódico, ela publicou “A Beneficência” (Lisboa, 1852-1855). Nota-se que esta obra era “dedicada à Associação Consoladora dos Afflictos”, ou seja, era escrita para outras senhoras que participavam deste grupo de caridade. Assim, os textos do periódico são mais voltados ao auxílio social.
Findado este periódico, novamente funda outro, em 1858, “A Cruzada”, que infelizmente tem a duração de apenas um ano, e que segue o modelo do periódico anterior.
Para além dos periódicos e os inúmeros textos que produziu nestes, é relevante lembrar sua obra biográfica, sobre o pai. Como sua secretária, teve contato com todos os documentos dele. Assim, quando este veio a falecer, Antónia Pusich os compilou e escreveu uma biografia que é também homenagem ao pai.
Dentre sua obra publicada em folhetins em seus próprios periódicos, é preciso mencionar aquele que o primeiro texto gótico português, uma adaptação de um original inglês, “Olinda ou a Abbadia de Cummor-Place”, surgiu na “Beneficência” em 1853. E também a peça de teatro “Constança” que foi encenada em 1849 e publicada primeiramente neste mesmo periódico em 1853, em posteriormente em livro, no mesmo ano.
D. Antónia Gertrudes sobreviveu aos três maridos e deixou muitos filhos, tendo falecido em 5 de outubro de 1883, em sua casa em Lisboa.
Para mais sobre esta autora vide ‘Antónia Gertrudes Pusich’.
In Projeto Escritoras em Português, http://www.escritorasemportugues.eu/1417106880CentXIX/20150531-ANTÓNIA-PUSICH.
Na tese de doutorado de Elen Biguelini, “Tenho escrevinhado muito” encontrada em: https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/79402
(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.
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