Atualizando slogans – por Orlando Fonseca
“Entendo que a Pátria é a Mãe-Gentil, mas me pergunto: sem pai?”
Vivemos em tempos de decadência, nos quais os valores morais tropeçam na vulgaridade, os conteúdos culturais dão lugar ao senso comum e a verdade ao domínio das fake news. Os debates não passam de bate-boca, e seria demais exigir elegância, em meio a tanto mau gosto.
Alguns dirão que sempre foi assim – e eu não duvido, só não me conformo, e tento me adaptar, rendendo-me à tal da sabedoria popular (estou convencido de que tem mais de popular do que de sabedoria). Não posso deixar de registrar, contudo, que muita coisa neste tsunami de “besteira que assola o país” – como diria o Stanislaw Ponte Preta – que antigos (para dizer tradicionais) emblemas estão sendo vendidos no varejo, o que torna o discurso político não mais do que uma conversa trivial de botequim.
Como não adianta chamar atenção dos que levantam tais bandeiras, sob pena de perder a cabeça – literalmente, prefiro alinhar algumas considerações nesta despretensiosa crônica. Mas, na forma de categoria qualificadora, crônica mesmo é a situação da nossa sociedade. Vou longe na nossa história republicana, para resgatar algumas coisas. Se você, caro leitor, tem tempo, venha comigo.
Em 1932, o Movimento Integralista, fundado por Plínio Salgado, lançou um “manifesto à nação”, que em seu conjunto era uma pretensiosa “concepção do universo e do homem”. Todavia, tudo o que sobrou do tal documento foi o slogan conservador: “Deus, Pátria e Família” (que voltou à cena do debate político atual).
Nesta mesma linha, em 1960, outro Plínio, este de sobrenome Corrêa de Oliveira, fundou uma sociedade cuja sigla fez sucesso durante o regime militar: TFP – Tradição, Família e Propriedade.
Por esses dois exemplos históricos se pode ter a noção da relevância do conceito de “família” em ambiente de mobilizações conservadoras. Isso dito para salientar que a atual revitalização do tema não é nenhuma inovação política e social, ou como cantaria Cazuza, a nossa conjuntura é “um museu de grandes novidades”.
Sem novidade é o projeto de lei, ainda em tramitação no Congresso Nacional, a respeito do tema “família”. Digamos que o Plínio, o velho, ressuscitasse e voltasse a atuar no parlamento, teria a surpresa de ver que a sua convicção a respeito do conceito “família” foi conduzida com rigor e urgência, sendo levada a uma definição, com a intenção de consignar em lei.
Como seria de imaginar, não há consenso, e a realidade é muito mais dinâmica que a boa (ou má) vontade dos nossos representantes. Penso que, na situação atual, em que a campanha eleitoral ganhou ares de “guerra santa” (ou nem tão santa assim, ou no mínimo “religiosa”), seria uma verdadeira pauta-bomba se a bancada evangélica resolvesse criar um estatuto para outro dos fundamentos do slogan integralista: Deus.
Tudo bem, entendemos de imediato que somos um estado laico, apesar de, em seu preâmbulo, nossa Carta Magna anunciar que o seu teor será promulgado “sob a proteção de Deus”. Este quesito figura à frente de todos os deveres e direitos dos poderes e dos simples mortais civis, que comungam de um mesmo território.
No entanto, há uma multiplicidade de culturas entre nós, incluindo aí as crenças. Em nome de quem se tomaria o nome em vão de tal Entidade? Quais seriam os fundamentos para que uma provável Comissão Especial do Estatuto de Deus pudesse elaborar os seus princípios? Teríamos uma única matriz judaico-cristã?
Ou se avançaria para abranger valores de nossas raízes africanas e indígenas? E se além da bancada evangélica, começasse a se formar a bancada espiritualista, a umbandista, a muçulmana? Aquele Plínio integralista se consideraria Doce, diante da guerra fratricida que se armaria em tal comissão.
Nos dias atuais, meus amigos, creio que não seria recomendável tratar de “estatuto da Pátria”, não tanto pelo que todos sabemos do que se trata. Mas especialmente porque, juntando os slogans citados, há quem a queira mais como propriedade do que como identidade.
Do meu lado, entendo que a Pátria é a Mãe-Gentil, mas me pergunto: sem pai? Opa, e como ficaria uma família do povo brasileiro, neste caso? É bom nem pensar, porque, pensando na decadência em que nos metemos, de acordo com o que tem decidido a comissão sobre o tema (e as contribuições trazidas pelo conservadorismo político atual), até mesmo o Filho de Deus teria dificuldade de se enquadrar.
(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.
Estado laico é diferente de Estado Ateu. E questão de neutralidade. Campanha está morna, quase fria. Anos atras fizeram uma pesquisa entre os parlamentares da Bancada Evangelica. Mais da metade se declarou cristão, catolicou e alguns até espiritas. Andaram criando a Frente Parlamentar Mista Católica Apostólica Romana. Perto da metade são evangelicos. Ha/havia sobreposição entre as bancadas. Jornalistas usam a profissão para militar para a esquerda. Brasil não é um pais serio. O resto do texto vai para a conta do FEBEAPA. Não adianta criticar as besteiras dos outros e escrever bobagens também.
Não há nada de errado em ser conservador. Muito menos na atitude de defender a familia. CF88, art. 226, ‘A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado’. Truquezinho de associar a defesa da familia com o nazismo e depois com os evangelicos não funcionou, alas ‘das espertezas que não funcionam’. Plinio, o velho, morreu na erupção do Vesuvio.
Decadencia e FEBEAPA são veridicos. Primeira faz parte do curso natural das coisas. Vide Edward Gibbon. Vide Asimov. Segundo é algo questionável, não lembro de sociedade só de ‘sábios’. Pode inclusive ser um ponto de vista, vide ‘Memorias de um Sargento de Milicias’, ‘Macunaima’ e ‘O Grande Mentecapto’ (e o que vem a memoria).
As tais Fake News sempre existiram. ‘Cesar é marido de todas as mulheres e mulher de todos os maridos’. ‘Se não tem pão porque não comem brioches?’. Na Revolução Francesa circulavam panfletos impressos na Inglaterra devido ao controle da imprensa na França. Logo tem mimimi nesta historia como a maioria já sabe.
Sempre é tempo demais. Na epoca dos milicos era a foto da criatura e o curriculo. Algo impensavel hoje em dia, muita gente não estudou muito e não tem grandes ‘realizações’, muitos gravitaram na politica, nunca ganharam o pao de cada dia com o suor do proprio rosto. Resultado é isto, promessas mentirosas e ataques pessoais.