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Samurai à moda do oeste – por Bianca Zasso

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O caldeirão do cinema sempre permitiu misturas insólitas. As colchas de retalhos bem acabadas de Quentin Tarantino que o digam. Em 1969, os filmes de spaghetti westerns estavam em uma fase onde os temas principais giravam em torno de pistoleiros experientes preparando uma nova geração de matadores, os temas socialistas ambientados no período da Revolução Mexicana (que tem seus melhores exemplares dirigidos pelo italiano Sergio Sollima, falecido no início de julho) e o início de da comédia com tiros imortalizada pelo personagem Trinity, interpretado por Terence Hill. Basta um passo, ou um play, e estamos do outro lado do mundo, onde coisas bem familiares se apresentam nas telas.

Hitokiri – O castigo, dirigido por Hideo Gosha, é ambientado no período final do xogunato Tokugawa e traz o astro nipônico Tatsuya Nakaday no papel do vilão Takeshi Hanpeita. No entanto, o talentoso ator é coadjuvante na trama. O olhar de Gosha é todo dedicado a Okada Izo, um excêntrico samurai.

A figura dos espadachins de coque impecável, quimono alinhado e andar elegante estão presentes nos demais personagens, mas Izo é único: descabelado, ele parece estar sempre atrasado para a batalha. Em mais uma alusão ao gênero imortalizado por Sergio Leone, Izo faz lembrar Tomas Milian, intérprete cubano responsável por personagens politicamente incorretos inesquecíveis, como o Cuchillo de O dia da desforra.

Inspirado no romance de Ryotaro Shiba, Hitokiri – O castigo, é uma das muitas amostras de que Gosha é mais que um diretor, é um poeta das imagens. A luta do prólogo é apenas um detalhe do que está por vir. Izo é uma fera, um animal com sua espada. A violência presente no seu trabalho é um contraponto para suas emoções, onde a dúvida é mais presente que o orgulho, por mais que ele faça questão de gritar seu nome e de seu clã ao executar suas vítimas. O dinheiro fruto dos assassinatos permite um jantar mais farto ao lado da prostituta Onimo, mas não compra a confiança e muito menos a liberdade.

Izo tem espírito livre, mas seu corpo depende do pagamento e das ordens de seu mestre Hanpeita. Parece um ronin, mas sua devoção não permite que ele leve o caminho errante como estilo de vida. Gosha transforma em imagens a alma de Izo, especialmente nas cenas finais, onde alguma redenção parece surgir para o samurai, e ainda brinda os fãs dos chambaras com jorros de sangue profundamente vermelhos.

Da Itália, tentei leva-los até o Japão. Um estranho roteiro de viagem. Porém, é uma amostra de que por mais distante que alguns universos pareçam, há muito em comum entre os cortes precisos de espadas dos samurais e os tiros perfeitos que ecoam das armas dos caubóis. Gosha pode ter dado uma olhadela nas produções “ao sugo” e nada impede que Sollima e companhia limitada não tenham tido boas ideias ao vislumbrar as imagens japonesas. Esta que vos escreve só descobriu o cinema do Oriente depois de desgastar algumas fitas VHS de spaghetti westerns. Ou seja: bang-bang, arigatô.

Hitokiri – O castigo (Hitokiri)

Ano: 1969

Direção: Hideo Gosha

Disponível em DVD no box Cinema Samurai 3

Distribuição: Versátil Home Vídeo

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