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PANDEMIA. Novas vacinas, o aprendizado e as projeções: qual o possível futuro para a covid-19?

Reportagem ouve especialistas para entender o que é possível esperar agora

Especialistas creem que Brasil não deverá enfrentar novamente superlotação de hospitais devido à covid-19 (Foto Alex Pazuello/Semcom)

Do jornal eletrônico SUL21 / Reportagem de Luciano Veleda

Há exatos dois anos e meio, em março de 2020, o Sars-Cov-2 chegava ao Rio Grande do Sul. Desde então, foram 2,7 milhões de casos confirmados e quase 41 mil mortes. Quando os primeiros casos de covid-19 foram notificados no Estado, o estrago causado por um vírus então desconhecido vinha sendo acompanhado com espanto. Primeiro na China, com informações truncadas, e logo depois na Europa, em países como Itália, Espanha e França. As centenas de mortes diárias indicavam que a humanidade estaria diante de um grave momento histórico, ainda que não se soubesse exatamente o que viria a seguir.

Agora tudo mudou. Vacinas eficazes foram desenvolvidas em tempo recorde e mudaram – para melhor – o curso da pandemia. Profissionais de saúde foram obrigados a aprender – e aprenderam – no limite da urgência a lidar com pacientes acometidos por uma doença desconhecida. Famílias sofreram e ainda sofrem a dor da perda de parentes e amigos, além da crise econômica agravada durante o período. Mas a vida, aos poucos, é retomada.

Se é verdade que as cicatrizes da maior crise sanitária dos últimos 100 anos provavelmente serão perenes individual e coletivamente, ao menos hoje se pode afirmar, com alguma certeza, que o pior passou. Mais do que isso, é provável que não voltemos a assistir as tenebrosas cenas de pessoas morrendo por falta de oxigênio ou leito de UTI. Ao menos essa é a projeção de médicos e gestores de saúde.

Paulo Gewehr, supervisor médico e infectologista do Hospital Moinhos de Vento, diz ainda ser cedo para prever o tão aguardado fim da pandemia. Como exemplo, cita o caso da pandemia de H1N1, em 2009, cujo vírus segue circulando entre a população, porém de forma mais branda após sofrer mutações e com vacinas atualizadas constantemente. O vírus H1N1 hoje se tornou endêmico, circula todo ano, mas com impacto muito menor do que em 2009. O destino do Sar-Cov-2 pode ser o mesmo.

“Se a gente analisar o coronavírus, neste momento, a previsão maior é de que ele se torne uma endemia, ou seja, todo ano a gente vai ter o coronavírus e as suas variantes circulando no mundo inteiro que nem o vírus da gripe. Talvez essas variantes percam a capacidade de fazer doença grave e vão se tornar muito mais próximas de um resfriado comum, inclusive como os outros ‘primos’ do coronavírus que sempre causaram resfriado na gente. Talvez a covid-19 vá nessa direção e aí a gente não vai precisar de vacina porque vai ser só um resfriado. Mas isso a gente precisa acompanhar a evolução”, acredita, acrescentando que o novo coronavírus sofre mutações rapidamente.

Durante a pandemia, as mutações mais importantes elevaram a capacidade de transmissão do vírus e algumas aumentaram a gravidade da doença. Atualmente, de modo geral, o coronavírus é mais transmissível, mas graças às vacinas é menos grave.  Entretanto, Gewehr pondera que se surgir uma nova variante que volte a fazer com que o vírus fique mais grave, então o problema estará posto novamente.

“Essa é a história dos vírus influenza que vem desde muitas décadas, talvez séculos nos acompanhando, e que de tempos em tempos acaba adquirindo uma mutação e se torna mais violento, mais patogênico e causa as grandes pandemias com mortalidade, como a gripe espanhola em 1918, a de 2019 e a gripe suína”, explica.

Colabora para a capacidade atual de disseminação dos vírus as pessoas cruzarem o mundo em poucas horas, ao contrário de outrora, quando em viagens de navio levavam dias para ir de um continente a outro.

O professor de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Alexandre Zavascki também é otimista quanto ao futuro da covid-19. O atual cenário é de ampla melhora, graças às vacinas e, ele acrescenta, às múltiplas infecções nas muitas ondas vividas durante a crise sanitária.

“Hoje a covid ficou uma doença comum, afetando todas as faixas etárias da população, mas com um quadro clínico já há muito distinto do que foi um tempo atrás”, afirma. O infectologista diz não haver motivos para pensar que o novo coronavírus deixará de existir. O que pode acontecer é a doença ficar mais leve ao longo do tempo.

“O SarsCov-2 não deve ir embora, ele veio pra ficar. Agora, se um dia ele vai ficar tão leve ao ponto de não afetar nem pessoas imunocomprometidas, que bom, é o que a gente espera”, analisa Zavascki, lembrando de outros vírus descobertos há 50 anos e que seguem entre nós causando não mais que um resfriado.

Apesar do momento favorável, alguns grupos seguem tendo mais riscos de complicações, como os idosos e os imunossuprimidos – pacientes em tratamento de doenças em que é necessário baixar a imunidade.

Depois de sofrer a mais recente onda causada pela variante ômicron e logo em seguida suas subvariantes, Zavascki destaca como vantagem no atual momento não haver no horizonte de Europa, Ásia ou Estados Unidos uma nova variante capaz de prevalecer sobre a ômicron e escapar da imunidade das vacinas. “Até o momento, felizmente, e a gente não pode dizer que não vai aparecer, mas até o momento não apareceu (uma nova variante). Mas é uma possibilidade a longo prazo.”

De qualquer forma, ele acredita que não voltaremos a enfrentar momentos semelhantes aos vividos no final de 2020 e começo de 2021, quando a variante gama, surgida em Manaus, causou o colapso do sistema hospitalar. Para o professor de medicina da UFRGS, mesmo que apareça uma nova variante, com exceção dos grupos ainda em maior risco, a população em geral está imunologicamente mais preparada, além do aprendizado dos profissionais de saúde em tratar a doença.

“Não espero um impacto pandêmico de uma nova variante com repercussões catastróficas em nível hospitalar ou em mortes”, projeta. Ele explica que, hoje em dia, de modo geral, a covid-19 tem atingido menos os pulmões, o problema mais grave causado pela doença. A infecção tem se concentrado mais na dor de garganta e no nariz entupido, as vias aéreas superiores, poupando os pulmões.

A projeção de futuro dos infectologistas Zavascki e Gewehr é compartilhada pelo diretor-presidente do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), Cláudio Oliveira. Ele conta que os momentos mais críticos ficaram para trás e hoje o GHC consegue atender as outras enfermidades, dando vazão aos cuidados represados.

O gestor lembra que a H1N1 também obrigou o hospital a paralisar sua estrutura para dar conta daquele vírus que era novo. Passados mais de 10 anos, atualmente se convive com o H1N1. Virou rotina. “O caminho da covid-19 será o mesmo, ao meu ver”, acredita.

Oliveira diz que os pacientes internados hoje com covid-19 são aqueles que têm comorbidades e destaca o treinamento que a equipe do hospital adquiriu para lidar com a doença, inserindo-a no rol das enfermidades que vão acometer pacientes. “Ela vai se tornando comum, como o quê fazer, qual o procedimento, os medicamentos que precisa. Hoje se sabe muito mais do que lá em março de 2020”, explica.

O diretor-presidente do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) acredita ser difícil que se volte a momentos dramáticos de falta de leitos, principalmente por hoje haver as vacinas.

“Estamos preparados. Caso haja um momento como em 2021, temos as instalações. O único movimento que precisaria ser feito é combinar com as secretarias municipal e estadual de Saúde o cancelamento das cirurgias eletivas e diminuir o ritmo do hospital novamente para ter espaço, só isso, mas as áreas destinadas teríamos como colocar tudo em ordem e, de certa forma, até em pouco tempo. Mas não é o que está parecendo. A vacinação tem sido efetiva…”

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