Por Bruna Homrich / Da Assessoria de Imprensa da Seção Sindical dos Docentes da UFSM (Sedufsm)
No dia 13 de julho de 2007, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da UFSM aprovou, por 19 votos favoráveis e 18 contrários, o Programa de Ações Afirmativas de Inclusão Racial e Social. A disputa foi ferrenha. Entre os conselheiros, a votação empatou, de forma que o voto de ‘minerva’ ficou a cargo do então reitor, Clóvis Lima.
Hoje docente do departamento de Geociências da UFSM e recentemente sindicalizado à Sedufsm, Anderson Machado integrava, em 2007, a comissão responsável por elaborar a minuta de resolução, encaminhada para apreciação do CEPE, que instituiu o primeiro Programa de Ações Afirmativas da universidade. À época, ele era representante estudantil na comissão, também formada pelos demais segmentos da comunidade universitária (docentes e técnico-administrativos em educação) e por integrantes da sociedade civil organizada. Desde a constituição de tal comissão, até a aprovação do Programa pelo CEPE, o movimento negro, em conjunto com o movimento estudantil, cumpriu papel de protagonista.
“No ano de 2007, em consonância com o processo de mobilização nacional que fez com que o Estado brasileiro se comprometesse com as políticas de ações afirmativas de combate ao racismo e promoção da igualdade racial, desde a adesão às resoluções de Durban (2001), o movimento social negro de Santa Maria e região iniciou uma série de discussões e mobilizações para que a Universidade Federal de Santa Maria implementasse um programa com esta perspectiva. Todo esse processo foi fundamental em minha trajetória, além do aprendizado por estar lutando junto aos meus pares que estavam organizados na comissão (na época eu era representante estudantil na mesma), impactou minha subjetivação e reconhecimento enquanto negro”, relembra Machado.
Quem também acompanhou de perto a implementação das Ações Afirmativas na UFSM foi Ana Lúcia Melo, técnica-administrativa aposentada da universidade que integrou, assim como Machado, a comissão de elaboração da minuta. Ela lembra um pouco o processo que antecedeu a vitória das ações afirmativas no CEPE, desde a audiência realizada na Câmara de Vereadores de Santa Maria, até reuniões específicas nos centros com a presença de representantes de universidades onde as cotas já haviam sido aprovadas (especialmente do Rio de Janeiro e de Salvador).
“Em 2006, o professor Clóvis Lima assume como reitor, e seu vice é o Felipe Müller. Naquele momento nós já havíamos, como movimento negro, tentado aproximação, e houve a promessa de que poderíamos pensar em um processo de mobilização. E isso foi feito. O pró-reitor de Graduação foi encaminhado, e a primeira audiência pública ocorreu na Câmara de Vereadores em 2006. Foi a primeira aproximação para o debate de cotas raciais e sociais. Essa mobilização contou bastante com o movimento negro, com a Associação das Pessoas com Deficiência Visual e também com a Associação das Pessoas Surdas. E também havia já um movimento para que incluíssem cotas para indígenas. Então era bem amplo”, resgata Ana Lúcia.
Ao relembrar o que sentiu no momento em que teve de dar o voto de desempate na reunião do CEPE que debatia as cotas, Clóvis Lima diz que não teve qualquer receio de se posicionar favorável.
“O clima na universidade, principalmente entre os alunos, era de expectativa e de otimismo com relação à decisão do CEPE. Lembro que no dia da reunião os corredores que davam acesso à sala de reuniões estavam lotados de alunos, que esperavam e pressionavam pela aprovação das cotas. A discussão foi longa, mas ao final houve a aprovação. Após a reunião, aprovadas as cotas, eu encontrei os estudantes nos corredores e disse: “agora é tudo com vocês”, no sentido de aproveitarem a oportunidade, que não é nenhuma benesse, é uma oportunidade que dá igualdade de acesso à universidade pública a todas as pessoas”, relembra Lima.
Na avaliação do ex-dirigente, as cotas foram um marco histórico no sentido de diminuir as diferenças entre os menos e os mais favorecidos. “Sempre pautei minha vida pela justiça, por aquilo que eu entendia que estava contribuindo com a sociedade. Por muito tempo quem entrava na universidade pública era quem tinha melhores condições”, comenta Lima, que esteve à frente da reitoria da UFSM entre janeiro de 2006 e dezembro de 2009.
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Claudemir , belo texto é um ótimo resgate histórico. Mais uma vez a UFSM foi protagonista. Um grande abraço
Atual reotiria é 100% Branca
Por que não temos cotas na Gestão da UFSM?