Da Agência de Notícias da UFSM
Nas últimas décadas, já vem se consolidado o fato de que os dinossauros do sul do Brasil estão entre os mais antigos do mundo. Mas agora, um novo estudo liderado por pesquisadores do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (CAPPA) da UFSM pode indiretamente sugerir que esses animais tenham aparecido no Brasil antes do que se imaginava.
Um um estudo PUBLICADO na semana passada no periódico Journal of South American Earth Sciences, descreve um conjunto de novos fósseis, datados em mais de 237 milhões de anos, entre os quais se reconheceu uma nova espécie de um grupo chave na evolução inicial desses animais. O animal, que em vida teria cerca de 1,5 metro de comprimento, foi batizado pelos especialistas de Gamatavus antiquus. A espécie foi reconhecida com base em um dos ossos do quadril, muito característico de um grupo de dinossauromorfos conhecidos como silessauros.
“É um grupo que até então não tinha sido recuperado em camadas tão antigas de nosso registro”, explica Flávio Pretto, paleontólogo do CAPPA que liderou o estudo. “Os dinossauros mais antigos que temos no Brasil têm por volta de 233 milhões de anos, mas sempre suspeitamos que pudesse haver algo nas camadas subjacentes”, acrescenta.
Apesar de o material recuperado ser incompleto, a equipe de cientistas conseguiu classificar o espécime como pertencente ao grupo supracitado. “A morfologia do ílio desses animais é bem característica, o que faz com que Gamatavus seja agrupado aos silessauros em todas nossas análises”, aponta Rodrigo Müller, co-autor do estudo. “A dúvida que paira é onde os silessaurídeos se encaixam na evolução dos dinossauros”, complementa Maurício Garcia. “Nossos estudos mais recentes têm proposto que eles poderiam ser uma linhagem ancestral aos dinossauros conhecidos como Ornithischia”. Essa proposta contrasta com as hipóteses de parentesco originais para esses animais. “Silessauros eram historicamente considerados um grupo externo à Dinosauria, porém próximo à ancestralidade do grupo”, afirma Debora Moro.
O novo estudo não teve como objetivo avaliar essa questão. “Sejam os silessaurídeos dinossauros verdadeiros ou não, o fato é que preenchemos uma lacuna importante”, avalia Pretto. Havia registros de silessauros em camadas geológicas similares em outras partes do mundo, como na Argentina, na Tanzânia e na Zâmbia.
“Nosso novo achado reforça o fato de que essas faunas, de localidades hoje tão distantes, no passado eram muito parecidas”, explica Voltaire Neto, da Unipampa. “De fato, no período Triássico, idade em que viveu o Gamatavus, os continentes todos estavam reunidos formando a Pangea. Faz muito sentido que a fauna e a flora desses lugares fossem parecidas, porque no passado eles estavam muito próximos geograficamente”, acrescenta.
Os novos materiais fazem parte do acervo do Laboratório de Paleontologia e Estratigrafia da UFSM, coordenado pelo paleontólogo Átila Da Rosa, que foi responsável por tombar e salvaguardar os fósseis da nova espécie. O fóssil foi coletado pelo professor Leopoldo Witeck Neto em 2003, em um barranco na margem da rodovia BR 158, em uma localidade conhecida como Picada do Gama, no município de Dilermando de Aguiar. É daí que vem o nome escolhido pelos cientistas para batizar a espécie. Gamatavus antiquus significa “o antigo tataravô do Gama”.
A expectativa dos paleontólogos é agora retornar ao sítio, quase duas décadas depois do achado original, em busca de mais evidências do Gamatavus, ou até mesmo de outros dinossauromorfos que tenham convivido com o animal. “É um achado tremendamente importante”, comemora Pretto. “Mesmo sendo por ora um pequeno fragmento, o Gamatavus é uma evidência concreta de que os silessauros, sejam eles dinossauros ou não, estavam por aqui há muito mais tempo do que imaginávamos. É apenas uma questão de tempo até que mais materiais sejam descobertos. Estamos bastante empolgados com as possibilidades”, afirma.
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