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Um tamanho para Melinda – por Marcelo Arigony

Ninguém entende porque ela casou com o Romarinho: pobre, insosso. Vai daí...

Melinda é uma falsa magra cujo mostrado do sorriso irradia energia para um quartel e meio. É daquelas mulheres sofisticadas, glamourosas, que curtem um prosecco na tulipa ao som de Nina Simone. Melinda não precisa ser apreciada por partes, boa de longe, boa de perto, sem perder a finesse. Seu conjunto de obra preenche elegantes e distintos vestidos.

Certo que tem compulsão por vestidos, e um guarda-roupas abundante. Nunca fora vista repetindo tal indumento, cada qual mais lindo que o anterior… naquele corpo esguio. Do closet saem vestidos lilases, amarelo-ouro, azul-claros; babados, decotados; curtos, longos, midi; amarrados, com e sem fecho-ecler. E há aqueles com fenda, e os diáfanos. Ahh os diáfanos…

E Romarinho casou-se com Melinda. Que sortudo! Logo Romarinho. Pobre, insosso, cinturinha de bailarino, cabecinha glabra… pouco em sex appeal.  Mas os olhos de Melinda sempre faiscando para Romarinho. Ninguém entende.

Deve haver um grande e apertado segredo, algo embuçado, longe das lentes futriqueiras, que explique tal conúbio, que justifique tão inesperável enlace. Talvez seja algo devasso. Decerto alguma coisa escusa e sórdida. Não poderia – a luz em carne – casar-se com aquele tipo comum.

Havia mesmo segredos. Além da compulsão por vestidos, Melinda sofria de catoptrofobia. Tinha medo de espelhos; pânico só em pensar no próprio corpo refletido. Triste sina. Perfeita e não podia se ver; não suportava qualquer objeto que a refletisse. Uma vaidade sem dentes.

Assim, não podia escolher os vestidos, Romarinho é quem o fazia. Ele odiava com todas as forças, mas vestia, experimentava em si os vestidos para Melinda. Faria tudo por Melinda… menos xixi sentado. Isso estava decidido! Ele inclusive trazia vestidos quando viajava sozinho. E nunca errava o tamanho, mesma altura e a mesma cintura…

A mulher é quem escolhe o homem, alguma faísca desperta a pulsão que dormita. E, no caso de Melinda, escolheu Romarinho pelo tamanho… do culote, gatilho do amor dos dois.

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E vamos votar no segundo turno dessa eleição. Muitos como Romarinho, contra a vontade vão ter que escolher um vestido que não querem vestir. E depois, como Melinda, sem poder olhar-se no espelho após apertar o botão confirma naquele candidato.

(*) Marcelo Mendes Arigony é titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.

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Um Comentário

  1. Chão batido. Misturar ‘Romeu e Julieta’ com luta de classes. Ninguem entende como o casal de conheceu. Ou porque Romarinho viajava sozinho. Sem susto, se os roteiros de Hollywood hoje são verdadeiras ‘peneiras’ (Brasil tem uma longa tradição nesta linha) não há que se esperar muito. Depois da eleição é outra historia como sempre foi. Memoria do ‘povú’ é curta. Marcelo Crivella, bispo licenciado da Universal, sobrinho de Edir Macedo e de R. R. Soares. Ministro da Pesca e Aquicultura do governo Dilma, a humilde e capaz. Obviamente devido ao grande conhecimento técnico. Ou talvez devido as longas tranças loiras. É um problema para a ‘democracia’, população não aprende e a cada eleição acaba votando nos mesmos. Culpa dos partidos que não trocam os candidatos também, afunila-se para os mesmos de sempre. As ‘novidades’ são vereadores que viraram deputados estaduais (ou ex-prefeitos), deputados estaduais que viraram federais ou federais que viraram senadores. Nenhuma novidade, é o ‘cursus honorum’ da Roma Antiga. Prognostico é que um dia a casa cai. Ou que o pais caia. Vide Argentina.

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