A gordinha da Ibira – por Marcelo Arigony
Estava na praia. Fim de semana perfeito. A criançada na lagoinha brincando sozinhas (ufa!). Eu tomando uma Stellinha e curtindo uma de lagarto. A patroa de boa, com uma taça da viúva do Vernay na mão. Sonhei acordado que tava na Ilha de Caras, com recreacionista incluída no pacote e… de repente, pá(!); uma gritaria ao meu lado:
– Olha o churrrroooo! Ó o chuooooooooorrrrrrooooo! O chuurrrrrrrooooooo!
A praia inteira parou. Tinha um jogo de vôlei ao lado. Parou! Tinha um pessoal fazendo Kitesurf. Ficaram dando voltas em parafuso, olhando para o churro. Os siris olharam em direção ao churro. Acho que até a cadência das ondas e a brisa do mar foi quebrada: de mi em cima de si, agora a maré dobrava si em cima de mi.
E não parava:
– Ó o chuooooooooorrrrrrooooo! Chuurrrrrrroooooooooo!
Era uma senhora meio gordinha, que se estrebuchava gritando na margem, com três churros cobertos de açúcar e areia – dois em uma mão e um na outra – em direção a um grupo de crianças que brincava a uns 30 metros, correndo lagoa adentro. As crianças dela olharam e nem deram bola pro churro. Não queriam comer. Queriam brincar na água.
A senhora gritou mais um ou dois minutos, sob olhos atentos de todos num raio de 300 metros. Até que cansou, deu de ombros, e abocanhou aqueles churros todos, um a um. Uma bocada por churro, como para não jogar fora. Que coisa!
A essa alturas, todas as crianças do entorno – inclusive as minhas – começaram a pedir churro. Aproveitaram e pediram também picolé, sanduíche, refrigerante, iogurte, pão, bolacha… O churro acabou. E minha paz também!
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Quando a gente tem filhos pequenos, tirar uns dias de folga é um desafio digno de Odisseu. Em casa as crianças estão em ambiente controlado, na coleira, onde a maioria dos riscos são previstos e calculados. Mas em viagem a coisa fica feia, tipo punk-rajneesh. Os Gremlins se libertam, querem experimentar tudo o que é novo, comer tudo o que enxergam. Não param um instante sequer. Folga pra quem?
Se o local de destino não for muito bem escolhido, a gente volta precisando de férias da folga. Mas enfim…. nessa vibe, descobri um paraíso. Sabe aquele rio à beira mar que o Dazaranha canta em “Vagabundo Confesso”? Pois é. Se não é ali o lugar que eles descrevem, é bem perto; em Santa Catarina, obviamente.
A Lagoa da Ibiraquera, ou barra da Ibiraquera, fica a uns 650 Km de Santa Maria, bem pertinho das badaladas praias do Rosa e da Ferrugem. É uma lagoa à beira mar, com pouco mais de dois palmos d’água, onde dá pra largar as crianças à vontade, pra gastar as energias até capotar.
Atrás tem umas pequenas áreas de sombra, onde antes dava pra levar uma churrasqueira e assar carne ou peixe. Infelizmente agora proibiram essa farofagem em prol do coletivo. Se quiser mar com onda, caminhe uns cem metros e tá ali no mar aberto, onde tem surfista saradão, mulherada popozelda de biquíni, kitesurf e outras coisas. Tem pra todos os gostos.
Vagabundo Confesso
Barra da Ibiraquera
No texto escrito a abobrinha. No microfone o comunismo.