Artigos

A ignorância disfarçada de ciência – por Giuseppe Riesgo

O articulista e as consequências da iminente aprovação da PEC da Transição

A iminente aprovação da PEC da Transição, para além dos eufemismos, é um duro golpe em nossas regras fiscais, mas também em nossa economia. O teto de gastos, quando fora criado, apesar do nome, não buscava somente frear os gastos governamentais, mas também o endividamento público. A contenção nas despesas, nesse contexto, é um caminho em prol da responsabilidade fiscal com as contas públicas do país.

Logo, o rombo de mais de 200 bilhões de reais no teto de gastos é uma péssima sinalização, nesse sentido. Não apenas pelo endividamento que está por vir, mas por conter em sua formulação uma estrutura de pensamento econômico que já nos levou à bancarrota no Governo Dilma Roussef.

Se isso ainda não está claro, basta uma breve leitura sobre o Parecer do relator à PEC 32/2022 para se certificar do descalabro pretendido. O que se verifica por lá é um show de horrores em termos econômicos, fiscais e monetários. Uma ode pseudocientífica à gastança.

Vejamos, nos termos do próprio Parecer: “A teoria keynesiana tradicional, bem como a chamada Teoria Monetária Moderna (ou MMT) enfatizam o papel central da política fiscal (em contraposição à política monetária) para recuperar a economia de um país. Mais especificamente, recomendam a expansão de gastos públicos sem a devida compensação na forma de elevação de tributos. Potencializa-se, dessa forma, o efeito multiplicador de tais gastos. (…) Neste cenário de elevado desemprego e baixo crescimento, o aumento de gastos públicos é capaz de gerar maior renda sem inflação. O aumento da produção, por sua vez, propicia aumento da arrecadação tributária, tornando a trajetória da dívida mais sustentável. Gera-se, assim, um círculo virtuoso. Matematicamente, a relação dívida/PIB cai porque a expansão de gastos atua aumentando o PIB, ou seja, o denominador da fração.”

Ou seja, em tese, nós descobrimos uma mina de ouro infinita para o país: basta que nos endividemos em nossa própria moeda que, segundo a ilustre e moderna teoria monetária trazida pelo relator, nós vivenciaremos uma expansão no emprego, na renda e na arrecadação do governo e, com isso, pagaríamos o endividamento público tomado com a PEC vindoura no terceiro Governo Lula.

Ora, não é preciso ser muito versado em economia para perceber a fragilidade econômica de tal afirmação. Não é preciso adentrar na teoria da produção ou mesmo construir grandes teses acerca da difícil alocação dos escassos recursos econômicos. Basta que olhemos para Argentina e Venezuela. Países vizinhos que adotam, há décadas, o endividamento e a monetização da dívida pública como estratégia de desenvolvimento, e só colhem recessão e inflação de preços.

Ou melhor, basta que olhemos para o próprio umbigo. Que voltemos à tragédia da monetização da dívida pública dos governos Sarney e Collor; ou ainda: que olhemos o interregno governo de Dilma Roussef. Em todos estes a receita era a mesma: o endividamento público será o promotor do crescimento econômico, sem gerar inflação de preços. Uma promessa tão sólida quando um castelo de areia frente às ondas do mar revolto.  

Bem, os resultados já fazem parte da história e estão aí para serem aprendidos. Me parece que o alerta segue presente: nós podemos ignorar a realidade o quanto quisermos, mas não poderemos ignorar as consequências de ignorar essa realidade que tanto se impõe, principalmente, por aqui. Se o próximo governo quer ludibriar a lei da escassez e nos endividar, tenham certeza que (em breve) sentirá as consequências econômicas de sua própria ignorância disfarçada de ciência. 

(*) Giuseppe Riesgo é deputado estadual e cumpre seu primeiro mandato pelo partido Novo. Ele escreve no Site todas as quintas-feiras.

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

7 Comentários

  1. Todo imbecil quando está fazendo uma c@g@d@ cre piamente que está fazendo ‘grande coisa’. Itamaraty é concurso dificil. Criatura precisa saber portugues, ingles, espanhol e frances bem (para começo de conversa). Certa vez falei com uma interprete noutro estado. Cursava direito, Falava ingles e alemão fluente. Foi para a capital procurar cursinho para tentar o Rio Branco. Foi apresentada a tres alunos que já tinham tentado a empreitada e falhado. Um doutor em engenharia quimica. Outra mestre em direito internacional. Outra doutora em direito internacional. Desistiu. UOL é um antro de comunas, logo não muito confiável. Deu mostra do ‘Estado Profundo’ ou ‘Estado Paralelo’. Servidores publicos trabalhando contra o governo eleito. Vamos combinar, se fazem com um, podem fazer com outros. Ou outras pessoas podem fazer o mesmo com outros governos. Ou seja, ‘democraticamente’ usurpam o que não é deles. Alás, se acontece no Itamaraty, o que não acontece nas outras repartições publicas. Materia é ‘Como diplomatas tentaram, de dentro do Itamaraty, conter Atos de Bolsonaro’. Assinado por Jamil Chade. https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2022/12/07/como-diplomatas-sabotaram-bolsonaro-de-dentro-do-itamaraty.htm

  2. Um plano bom precisa de pessoas razoavelmente competentes, capazes de tirar o plano do papel, para conseguir (Pareto) 80% de sucesso. Plano ruim tocado por cabeças de bagre (alguns cheios de diplomas) não chega nos 20%. Donde se chega no ‘aumento da produção’. Natureza não da saltos. Na iniciativa privada onde tudo é para ontem é uma luta. No serviço publico ‘se ficar para a semana que vem tudo bem, meu salario cai na conta todo mes e não podem me mandar embora’. Por que existem tantas obras paradas por ai (algumas planejadas nem sairam do papel)? Porque empresas sem condições venceram as licitaçãos. Obvio, as empresas idoneas com condições não podem assumir tudo. Ai o fulcro da critica vermelha a Lava a Jato ‘destruiu empregos e empresas’. Empresas só cresceram (com eficiencia ridicula) na base do suborno e fraude a concorrencia. Em lugar nenhum do mundo ficariam impunes. E o setor privado? Só um completo imbecil faria investimentos no cenario atual. Perigando uma recessão mundial ano que vem ainda por cima. O que fazer para compensar a falta de ‘aumento da produção’? Aumento das importações. Que tem prazo de validade.

  3. ‘Expansão dos gastos publicos’, o que isto significa no pais? Uma parte vai para corrupção. Outra para aumentar salarios dos servidores que ajudaram a eleger. E o resto? Qual a qualidade? Dilma, a humilde e capaz, lançou um programa com milhares de creches pais a fora. Em muitos lugares nem a metade ficou pronta. Obras da Copa em POA (com lei especial de licitação por causa da ‘pressa’) algumas ainda não estão prontas. Parque Olimpico no RJ, como Deus fez a mandioca. 10 bilhões para o Eike. Polo Naval em Rio Grande, atrasaram entregas, furou cronograma (ou seja, estourou o orçamento). Transposição do São Francisco, muitos lugares atrasaram, alguns tiveram que ser refeitos. Ou seja, a ‘expansão’ vira dinheiro jogado no ralo. Basta observar os fatos.

  4. Teoria Monetaria Moderna. ‘Moderna’ é o adjetivo escolhido para mostrar que é ‘bom’. Se der errado não irão mudar a teoria, irão parafrasear e chamar de ‘Teoria Monetaria 3,1415927K das Galaxias’. Academicismos. Quando alguém diz ‘SM tem que virar polo logistico’ a primeira pergunta que vem a mente é ‘em quantos polos logisticos voce ja trabalhou ou quantos polos logisticos voce ajudou a implantar’. Alás, na aldeia todo conhecimento provem dos livros, experiencia não conta, alguns acham até que ocupar cargo na burocracia estatal gera experiencia valida para atuar na iniciativa privada. ‘Meus estagiarios deram sugestões nas empresas em que estiveram e não foram ouvidos’. Sim, estagnario cai de para-quedas numa empresa para aprender, pegam o onibus andando e querem ir na janela. Se está funcionando não conserte. Ainda mais com pitaco de quem não tem experiencia. O velho chavão ‘na pratica a teoria é outra’.

  5. Rombo no teto, ultima vez que olhei, ficou em 150 bilhões em 2023 e 150 bilhões em 2024. Depois ‘seria discutida outra forma de ancora fiscal’. No ano das eleições municipais, toda chance de acontecer. Lembrando que 1 milhão de segundos são duas semanas e 1 bilhão de segundos são 32 anos.

  6. Discordo. Ignorantes com baixa capacidade cognitiva são os seguidores. A cupula é uma corja que não vale nada. Ou alguém acha que Maduro, Fernandez ou Kirchner alguma vez passaram necessidade uma vez no poder? ‘Otoridades’ não podem passar necessidade (incluindo STF, Congresso, judiciario, etc.). Ficaria ‘ruim para a imagem do pais’. Eis o grande busílis: os ‘tomadores de decisão’ não sofrem as consequencias das proprias c@g@d@s. Estão ‘a salvo’. Se errarem paciencia. ‘É assim mesmo’. Negocio é chamar um marketeiro e arrumar alguém para ‘levar a culpa’. Imprensa tradicional é cumplice.

  7. Quanto ao rombo fenomenal e crise em todos os ministérios, com as instituições não tendo dinheiro para nada, NEM UMA PALAVRA? Capciosamente nem uma palavra? O governo que destruiu o País, matou milhares de pessoas destruiu educação, o Sus está um arremedo, esse fez tudo certinho? Dentro do Teto? Não furou várias vezes o teto e não foi pra uma boa causa, foi para cooptar votos. Ah, antes de me esquecer, alguns bilhões da Pec vão ajudar a limpar o fudunço de fim de ano. Época em que devíamos estar louvando o nascimento de Cristo, fazendo as pazes, continuam fazendo baderna por todo pais. A eleição terminou, perdeu mano.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo