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Copa e cozinha – por Orlando Fonseca

Em outras circunstâncias, no meio-dia do domingo que passou, estaríamos assistindo ao final da Copa do Mundo, com um prato na mão e com uma bandeira verde-amarela na outra. Se não estivéssemos à frente de uma unidade militar, tudo bem, que poderíamos se confundidos com outra coisa. No entanto, os deuses do futebol – invenção do genial cronista Nelson Rodrigues – caprichosos que são, quiseram que a nossa seleção não nos desse esse duplo prazer. Nossos craques disseram (como desculpa) que perderam quando podiam perder, mas, depois, perderam também quando não poderiam (isso não disseram). Ouvimos dos nossos jogadores que eles sabiam ser esta uma Copa dos detalhes, ganhar ou perder dependeria disso. Então, me digam, por que os meias vacilaram? A partida ganha, e o nosso time tomou um gol de contra-ataque, quando não poderia. De todo modo, neste domingo, fomos servidos de uma bela refeição do esporte bretão: assistimos a uma partida com as melhores seleções deste mundial.

Não somos todos os brasileiros que gostamos do futebol, de um futebol bem praticado. Há uma fração do povo que não liga muito para o nosso uniforme verde-amarelo. Há inclusive uma boa parte dessa gente que o usou para finalidades, vamos dizer, menos nobres (tomando como medida a dignidade que lhe emprestou o nosso Rei Pelé). No entanto, a grande maioria é que constitui a justificativa para que sejamos conhecidos como o País do Futebol. Não apenas gostamos da prática do esporte, que se realiza em qualquer canto desta Nação, seja em um campinho-só-terra, seja uma pequena viela, um trecho da praia ou quadra com grama sintética, mas também nos deleitamos em ver uma boa disputa. E por “boa” se entende um embate promovido por jogadores que se entregam com vigor à tentativa de irromper glorioso na área adversária. Infelizmente fomos forçados a ver isso em times de nações estrangeiras.

Não se trata de pensarmos em culpa apenas do treinador, que tem as suas, sim; nem de pensar naquele da Camisa 10, que tem méritos, mas que ficou muito abaixo de outros competidores desta Copa, como Messi, Mbappé ou Modrich (só para ficar nos que começam com M). Seriam esses, hoje, os dignos herdeiros daquele manto que consagrou o nosso Rei. Sem dúvida, mesmo para os menos atentos, tínhamos uma das melhores gerações de atletas dos últimos mundiais. No entanto, algo que deveria ter sido feito foi deixado de lado. Não vou dizer que foi por falta de eu usar a camisa da seleção – mesmo que me pegue, por vezes, pensando nesta possibilidade, ou porque deixei de usar a mesma roupa da copa passada (até porque bermuda estava fora de época, em 2018), ou porque não cantei o Hino nacional junto da execução do protocolo da FIFA. Embora apreciador entusiasmado, não tenho o alcance dos comentaristas, mas até mesmo esses não chegam a um acordo sobre o que realmente aconteceu de novo. Como diz um amigo: isso é só futebol! E ele tem razão, passadas as semanas em que ficamos à frente da TV torcendo, ou vibrando com belas partidas, como a de França e Argentina, é hora de dar uma conferida na realidade, porque a Terra (que é redonda) gira, e o tempo não para, como nos faz lembrar a canção de Cazuza. Vem aí a estação das festas, e a possibilidade de termos um Ano Novo pleno de novidades. A torcer para que sejam boas.

Agora, sem a Copa, voltemos à cozinha para preparar a ceia natalina, e será preciso preparar os espíritos também. Famílias foram destroçadas pelo vírus da Pandemia, mas, entre os sobreviventes, há os que foram afetados pelo vírus de um discurso de ódio, que dividiu o país. Assim como não há a menor possibilidade de que um árbitro chame os jogadores para reparar um erro do VAR, após o apito final, também não existe a possibilidade de que o processo eleitoral, uma vez completo, seja retomado. A não ser que se admita um golpe. Isso é a democracia, e ela tem o aperfeiçoamento da civilização, há mais de dois mil anos. Aliás, é mais velha do que a idade do ilustre aniversariante da efeméride deste próximo final de semana. Bom Natal a todos!

(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.

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7 Comentários

  1. ‘Discurso de ódio’, quanto drama! É muito novela mexicana do SBT! Pessoas pouco racionais têm um pendor para o apelo emocional, é assim mesmo. Da até musica ‘ Tudo é tão ruim e vermelho/E caotico como sempre/ Os olhos cegaram de repente/ Um sonho ruim/ As coisas são assim/Quando se está odianto/Os insultos não cessam/E o conflito não tem fim/Um dia infeliz/Às vezes não é muito raro/Falar é complicado/Quero uma canção/ FY extremamente FY/ Pra você, o molusco e seus fajutos ouvir junto/FY extremamente FY/ Pra você, o molusco e seus fajutos ouvir junto’. Kuakuakuakua!

  2. Para os de menor capacidade cognitiva é bom lembrar que a pandemia terminou e é coisa do passado. Basta andar na rua e falar com as pessoas. Vida que segue. Vermelhos tem o cacoete de tentar impor os proprios valores, impor as pautas que acham ser importantes. Não é assim que funciona.

  3. Processo eleitoral esta completo. Existem maneiras legais, como todo mundo sabe, de se retirar um governo (podem chamar do que quiser). Vermelhos tem outras definições de ‘democracia’ e de ‘civilização’ só conhecem a palavra. Bando de toscos e primitivos.

  4. Terra não é redonda, é um geoide. Se é para criticar os outros pelo menos que não seja falando bobagens. Comentaristas só ex-jogadores em alto nivel. Jornalistas, para variar, grande maioria, só falam bobagens.

  5. Treinador? ‘O melhor brasileiro em atividade’? Insistiu nas ovelhinhas, insistiu num esquema (unico e imutavel) sem ter as peças. E o do Marrocos, o que faria com a nossa Seleção? Neymarketing é o que sempre foi. Ou nunca foi. Queridinho da imprensa. ‘O nosso garoto propaganda joga muito’. Prefiro a Marselhesa, principalmente na parte ‘Égorger vos fils, vos compagnes!’ e na parte ‘Qu’un sang impur Abreuve nos sillons!’.

  6. Prefiro gente vestindo a canarinho do que camisa vermelha (ou bone vermelho), simples assim. Quem não gostou que va se lascar.

  7. Pessoal que esta a frente das unidades militares não me incomodam. É o que basta. Se isto não acontece com alguém problema dele ou dela. Simples assim. É uma perda de tempo? Sim, mas não o meu. Boato é que Molusco com L., o honesto, vai baixar um decreto de GLO (militares não tem poder de policia fora das unidades) para tirar os manifestantes de la. Não é assunto como o qual se perca tempo.

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