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Explosão de alegria – por Orlando Fonseca

“Olhando para a frente, é possível retomar a esperança", escreve o cronista

Não sabemos, exatamente, se há alguma bomba-relógio em algum canto escondido de Brasília, pronta a estourar, logo depois de primeiro de janeiro. A que foi desarmada pela PF é apenas um leve indício do que a insanidade que tomou conta do país é capaz de fazer. Em frente aos quartéis, tem gente pedindo nada mais nada menos que um golpe.

E a virada do ano é justamente a esquina do tempo em que se olha o passado e o futuro, sob os auspícios do antigo deus Janus, que empresta o nome para o mês que se inicia. Deus bifronte, capaz de olhar para frente e para trás. Dele advém a prudência para esses dias, em que obscuras transações põem em risco a democracia em nosso país. É bom olhar para os dois lados antes de atravessar.

Desde a campanha eleitoral de 2018, propagou-se a falácia de que o PT havia quebrado o Brasil. A equipe de transição do governo que começa, no entanto, encontrou dados e fatos de que, ao contrário do legado de três mandatos e meio, quem deixa quebrado o país é o governo que foi, legitimamente, desalojado pelas urnas.

Para não deixar dúvidas, basta que se consulte o que têm divulgado os maiores jornais e revistas brasileiras: houve um desmonte das políticas públicas no país, em todos os setores. Ainda virão a público os números do desastre, mas é um dos piores (se não o pior dos) governos da nossa claudicante república.   

Malgrado tenha enfrentado, da forma que conhecemos, uma pandemia severa, não foi apenas na área da saúde que os estragos remanescem. Ainda vamos sentir os efeitos colaterais desta péssima gestão por muitos anos, devido a uma difusão – não contrariada pelos órgãos oficiais – de notícias falsas e posições negacionistas.

O esquema vacinal brasileiro retrocedeu décadas, e crianças estão à mercê de doenças tidas como erradicadas. O SUS precisa ter a sua estrutura reerguida em bases originadas na sua proposta da Constituição de 1988, tendo sido criado dois anos depois.

Graves problemas na educação, na ciência e tecnologia, na segurança e nas políticas de proteção às minorias. O Brasil voltou ao mapa da fome, com mais 33 milhões de brasileiros abaixo da linha da miséria. Muita coisa há para ser feita em pouco tempo.

Segundo pesquisa do Instituto Genial/Quaest, os eleitores identificados tanto com Lula, quanto com Bolsonaro, sabem que o caminho é o fortalecimento do regime democrático. Segundo o levantamento, 75% dos dois lados apostam que a democracia é a melhor escolha.

A pesquisa também aponta dados importantes para uma análise do Brasil polarizado que tenta se reconstruir: a compra e a posse de armas, incrementadas pela política armamentista de Bolsonaro, é rejeitada por 73% dos que dizem apoiar Lula e por 67% dos bolsonaristas.

Um bom caminho para que se minimizem os dados da violência urbana que tomou de assalto o país. O debate econômico-social precisa ir além do “mito da responsabilidade fiscal”, pois há maiores urgências quanto à fome, o desemprego e à destruição dos serviços públicos.

Foi um ano de perdas para a cultura, não apenas pela morte de grandes nomes da música, do teatro e da literatura, mas porque o desmonte do setor chutou a produção para um plano secundário, quando não produziu estragos tremendos, como nos casos da Fundação Palmares e Ancine. Foi um ano de perdas para o futebol, quando a nossa seleção deixou escapar o hexa, mais uma vez.

São exemplos de setores que precisam de um novo olhar, não apenas do poder público, mas especialmente que precisam navegar nas águas pressurosas de um novo tempo que se inaugura na vida nacional. Fala-se em uma ressignificação do mundo globalizado, portanto será necessário reforçar os elementos das identidades locais, assim como seus arranjos produtivos, porque a realidade econômica será outra, em poucos anos.

Olhando para a frente, é possível retomar a esperança que havia há poucos anos, quando esta venceu o medo. Basta que se desmontem todas as bombas – materiais e semióticas – que possam estar escondidas nos desvãos da nossa democracia. Explosão só mesmo de alegria. Desejo a todos um ano próspero e pleno de boas realizações!

(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.

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6 Comentários

  1. Uma barata se pisa, não por conta de um vinculo afetivo, mas porque é um inseto que habita o esgoto e transmite doenças. É de praxe desejar a todos que não sejam Vermelhos ou simpatizantes um bom 2023 com muita saúde! Também um bom creme para as mãos, porque vai ser necessario puxar muito cabo de enxada para pagar a conta que os parasitas politicos irão criar.

  2. ‘[…] águas pressurosas de um novo tempo que se inaugura na vida nacional’, ‘[…]erá necessário reforçar os elementos das identidades locais, assim como seus arranjos produtivos,[…]’, ‘[…]porque a realidade econômica será outra, em poucos anos[…]’ Material de bola de cristal. Bastante ‘cientifico’. Deve ser Ph.D. em economia. Também. Muro de Berlim caiu faz tempo. Não é um pessoal que vive olhando no retrovisor que vai dizer como sera o futuro.

  3. Alguem afirmou que ninguém é mais facista do que um antifacista. Obvio que haverão perseguições a Cavalistas (‘derrotamos nas urnas agora precisamos derrotar nas ruas’). Pessoal das armas vão ter as mesmas recolhidas de um jeito ou outro (o referendo la atras foi coisa da Globo). Cavalão vai ter alguns processos nas costas e alguns pedidos de prisão (os detalhes formais não importam) como Temer teve prisão pela SWAT da PF no meio de uma rua movimentada. Vão tentar alguma regulamentação da imprensa e da internet para criar imagem do ceu na terra e de maioria falsificada (diversidade fenotipica, diversidade sexual, tudo bem; diversidade de ideias não).

  4. Ancine (Palmares não sei do que se trata) sempre foi um feudo. Patotinhas ganhando dinheiro publico de renuncia fiscal (que faz falta na saude e educação) para se locupletar e produzir audiovisual que é vista por muito poucos devido a baixa qualidade.

  5. Equipe de transição, 33 milhões na miseria, tentativa de ‘fazer colar’ narrativas (não é elegante chamar os outros de mentirosos e sem vegonhas). Conversinha mole de ‘terra arrasada’ tem apoio dos ‘ maiores jornais e revistas brasileiras’ (assim mesmo, no generico). Pesquisas furadas (para simular ‘maiorias’) que nunca estao corretas no periodo eleitoral usadas como ‘argumento’ para impor ‘politicas publicas’.Em 2016 o Brasil atingiu o numero historico de 62.517 homicidios, mais de 30 por 100 mil habitantes. Numero reduz desde la, pouco mais de 47 mil ano passado, pouco mais de 30 mil nos primeiros nove meses do ano. Governo de esquerda significa segurança publica frouxa. Todo mundo sabe que a vagabundagem aprisionada votou majoritariamente num candidato e todos sabem quem é. Fatos.

  6. Kuakuakua! Não da para ensinar truque novo para cachorro velho, como dizem os ianques. Desemprego no final do governo Dilma, a humilde e capaz, foi de 11,3%. Atualmente esta perto dos 9%. Inflação no desgoverno Dilma, a humilde e capaz, terminou la pelos 9% em agosto de 2016 (vindo de 10,7 em janeiro). Deve fechar este ano perto dos 6%. Dilma, a humilde e capaz, não teve pandemia e nem Guerra da Ucrania. São fatos.

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