Neste Natal, o melhor presente é um alimento – por Valdeci Oliveira
“Ter fome é o mesmo que estar condenado por um crime que não se cometeu”
A cada Natal somos tomados pela ansiedade que chega nos dias que antecedem por conta das inúmeras dúvidas que povoam nossos pensamentos quanto aos presentes ou lembrancinhas que daremos aos nossos familiares, parentes ou amigos. O que é para ser algo agradável muitas vezes torna a data um verdadeiro choque de dilemas. Mas isso apenas para uma parcela da população que, mesmo o fazendo dentro de apertados orçamentos e sem entrar em juízos de valor, tem, por sorte ou destino, esse privilégio.
Talvez nesse ano de 2022, principalmente em seu período derradeiro, se nos dispusermos a enxergar um pouco além daquele invisível e simbólico círculo que nos cerca, veremos que nunca foi tão fácil decidir, optar, escolher. Falo da fome alheia, daquela que muitos procuram rotular como normal (talvez como forma de com ela conviver se estranhamento maior), como parte inexorável da existência, pois acompanha a humanidade, em diferentes graus e períodos, desde que esta se entende por gente.
NÃO! A fome, na sua forma estrutural e fruto das escolhas políticas e econômicas feitas pelas sociedades, não é normal nem aceitável. Diferentemente de senti-la, que é o que acontece conosco quando atrasamos uma refeição, conviver com ela, como se fosse biologicamente uma parte do nosso corpo, é o mesmo que estar condenado por um crime que não se cometeu e cujas provas da própria inocência não é possível mostrar.
Certamente não temos como – e não o desejamos – ser os salvadores da pátria, muito menos os iluminados e iluminadas que carregam junto de si a receita definitiva para a cura das chagas da humanidade. Por outro lado, não podemos nem devemos nos comportar como algozes, reprodutores ou cúmplices da condição desumana que a desigualdade social fomenta em cada esquina.
Doar um ou dois quilos de comida pode até ser pequeno para quem tem, mas é grandioso para quem a falta dela é uma realidade constante. E essa agenda somente deve sair da pauta da sociedade no dia em que de fato colocarmos a cabeça no travesseiro e sabermos que ninguém estará indo dormir com o estômago vazio. Trata-se de uma tarefa que devemos assumir de forma coletiva – e talvez utópica.
E o Natal, pelo seu simbolismo, será sempre uma grande oportunidade para isso, desde que tenhamos claro que ele é muito mais que dar ou receber presentes. Natal é espírito, solidariedade, é compartilhar o pão à mesa ou fora dela. Natal é estender a mão – e se preciso o braço – a quem precisa. Natal não combina com fome, com injustiça. Natal representa o nascimento daquele que se despiu de suas vestes para esquentar quem tinha frio, que deu ouvidos às vozes de uma maioria muda, que se juntou aos marginalizados e não se importou de ser confundido ou comparado a eles, que sorriu aos carentes de visão e de fé e deu de comer a quem fome tinha.
Não precisamos ser iguais a esse tal homem de Nazaré, nem sermos santos em busca de uma futura canonização. Basta sermos homens e mulheres, com nossos limites e defeitos, e fortalecermos a consciência de que temos a obrigação – se não a religiosa, pelo menos a moral -, de fazermos, por menor que seja, a nossa parte neste grande e misterioso latifúndio chamado vida.
Neste Natal, fica o pedido: doe alimentos, doe esperança, doe solidariedade para quem precisa de apoio. A Assembleia Legislativa do RS lidera, junto com uma série de instituições públicas, o Movimento Rio Grande Contra a Fome, ação que busca fomentar a doação de comida por meio de várias iniciativas. Quem quiser colaborar com essa força-tarefa, basta acessar o site riograndecontrafome.al.rs.gov.br. Desde já, fica o meu muito obrigado em nome daqueles que vão passar o final de ano longe da insegurança alimentar. E que isso possa perdurar também em 2023.
(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria. É também o atual presidente da Assembleia Legislativa gaúcha.
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