Tenho um sestro com perdulários, tipo um transtorno obsessivo, eu confesso. Então fico esperando o natal para ir à forra. A ceia de natal neutraliza eles. Nenhum efeito de seus arroubos sobrevive à mesa natalina. Ali eles podem extravasar sua perdularidade travestida, que não adianta, não haverá efeito algum.
Tô falando daquele pessoal que deixa o ar condicionado ligado com a janela aberta, que deixa todas as luzes da casa acesas, e o chuveiro ligado por dez minutos – pra esquentar o banheiro antes de entrar no banho. Tô me referindo a quem come só o miolo da melancia, e põe o resto fora.
Digo dos que põem o tubo da pasta de dentes e o do xampu fora antes de acabar por completo. Falo daqueles que enchem um cocho no café da manhã do hotel, no buffet livre e no espeto corrido, e depois deixam tudo no prato.
E tem o pior tipo. Aquele que vai em rodízio de pizza. Sim, ainda tem gente que vai em rodízio de pizza. Tenho amigos que vão! Uma vez fui. Era aniversário de uma sobrinha e eu não consegui escapar. Então você mal senta e um garçom já atira um pedaço de pão quente com uns resquícios de queijo por cima, tipo assim sem nem perguntar.
Se você não se apressar para virar o prato, ele joga por cima da mesa mesmo. E a pergunta só vem depois que a fatia já aterrissou: – Mussarela? Mas aí aquele arremedo de pizza já tá ali, e no trajeto já respingou gordura pela mesa e por tudo. Se der sorte não cai na sua cabeça.
Outro garçom já traz meia dúzia de coca-colas e larga na mesa. Pior que ainda pergunta se quer coca normal ou diet. Que adianta? E segue um préstito, atirando pizza em cima da gente: – Calabresa? Vai calabresa? Presunto? Napolitana? Mais uma calabresa? Bacon? Vai bacon? Coca Diet? Mais uma coca? Latinha ou 600 ml? Vai portuguesa? Calabresa? Vai mais uma calabresa?
Acho mesmo que eles fazem uma aposta lá atrás do balcão. Cada um casa dezão e quem conseguir empurrar mais pão com queijo na gente leva a burra toda.
E aí vem uma garçonete com uma bandeja diferente, e larga uma travessa de batatas fritas. Outra traz polenta. E um garçom grita: – Espaguete? Carbonara? Alho e óleo? – Frango com bacon? Calabresa? Vai mais uma de calabresa? Mais uma coca diet? Coca Diet? Guaraná? Ufa.
Como alguém pode comer isso tudo em tão pouco tempo e sentir o gosto, apreciar o sabor? Porque se a pizzaria é boa não dá tempo nem de respirar. E no fim o pessoal vai comendo só a cobertura – que chamam de recheio (!) – e vai ficando uma montanha de pão nos pratos. Que beleza!
Mas enfim… na ceia de natal os perdulários são anulados. Cada qual traz um prato, fica aquele monte de comida em cima da mesa, todo mundo come às pampas, até se empanzinar, mas ainda sobra bastante. E cada qual leva um pouquinho pra casa ao final. Dá pra almoçar e jantar sobra da ceia de natal até perto do ano novo…
(*) Marcelo Mendes Arigony é titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.
Quanto aos rodizios que frequentei por ultimo todos tinham uma bolacha igual aos que se usa para o copo não molhar a mesa. Verde de um lado, vermelho do outro. Uma cor significa ‘não quero pizza agora’. Se a ‘novidade’ não chegou na aldeia nenhuma surpresa. Donde se chega no problema da indução. Nas ceias de Natal que o autor frequenta (ou seja, amostra pequena) os perdularios são anulados. Alas, há os que não comemoram o Natal (por razões economicas ou religiosas) e há os que não fazem ceia. Vamos combinar que alguns destes são perdularios/bocabertas e não são anulados. Alas, há, com grande probabilidade (matematicamente falando) os que joguem os restos da ceia no container. Resumo da opera: é de bom grando não ‘pular para as conclusões’ (precipita-las), fazer julgamentos e generalizar sem base.
Outra, criatura deixa porta aberta com ar condicionado ligado. Pode ser o que aflige o transito da aldeia, bocaberta. Não, não adianta fazer ‘campanha de conscientização’, bocaberta não presta atenção. Com smartphone nem se fala.
Perdulario? Depende do ‘mens rea’ da criatura. Costumo espremer o tubo de pasta de dentes até sair a alma de lá. Shampoo? Depois de acabar dá para colocar um pouco de agua quente do chuveiro dentro e usar até o ultimo restinho. Munhequice? Donde se chega no utero da questão (nesta hora as mulheres giram os olhos para cima, algo perigoso dependendo do contexto, e falam ‘horror, horror’). Quem morreu e deixou cada um por ai designado como ‘policia da vida dos outros’? Onde foi parar o ‘fique na sua e nada de mal lhe acontecerá’? Sim, porque é fonte inesgotavel de conflitos.
Teoria da recepção, quem escreve o faz com a lingua dos outros. Simples assim.
Tentar enganar os outros é ‘feio’, defeito de carater. Viatura Blindade de Transporte de Pessoal M113. Um galera de Santa Maria produziu um prototipo de ‘modernização’. Foi testado e aprovado. Na hora de repetir o processo foram feitas exigencias, uma linha de montagem (não poderia ser feito ‘artesanalmente’), etc. Não rolou. Foi aberta uma licitação e a empresa vencedora foi a BAE Systems britanica. Que preparou a linha de montagem no Parque Regional de Manutenção 5 do Paraná. Não saiu daqui por conta das ‘forças ocultas’ ou teoria da conspiração semelhante.
Antes de mais nada mentira tem perna curta. O ‘chip’ da UFSM era bastante moderno. Para a decada de 80 do seculo passado. Ainda teria que ser produzido na Alemanha com dinheiro publico para, se fosse o caso, ser vendido com subsidio por aqui. Alas, pelo que sei as duas ‘design houses’ do Recife ainda funcionam e têm clientes. A fabrica de ‘chip’ de POA custou algo como 1 bilhão de dolares. Quando foi adquirida já era tecnologia defasada, logo não apareceram clientes. Tentaram via governamental criar demanda, Tarso, o intelectual, queria instalar ‘chips’ nos automoveis gauchos, algo do genero.