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Problemas reais dos brasileiros e o novo comandante do Exército – por Carlos Wagner

Um dos maiores é o avanço do crime organizado nas fronteiras nacionais

PCC usa armas pesadas na guerra para tornar o Brasil um corredor de drogas para a Europa e os Estados Unidos (Foto Reprodução)

Nos últimos quatro anos, enquanto as Forças Armadas do Brasil estavam tendo as suas estruturas de comando corroídas pelos Generais do Bolsonaro, como a imprensa apelidou um grupo de líderes militares que faziam parte do círculo íntimo do então presidente da República Jair Bolsonaro (PL), organizações criminosas como o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, o Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro, e outras facções menores conseguiram consolidar o território do Paraguai como entreposto da cocaína vinda de Colômbia, Peru e Bolívia.

E também tiveram expressivos avanços em montar uma estrutura criminosa, transformando o território brasileiro em corredor da droga para os mercados consumidores europeus e americanos. Um dos braços dessa estrutura é a presença do PCC e do CV nos garimpos das terras indígenas, como é o caso da reserva dos yanomami, onde crianças estão morrendo de fome, e no contrabando de madeiras da Floresta Amazônica.

Na opinião de vários especialistas em segurança pública, esse problema é grande demais para ser combatido apenas pela Polícia Federal (PF) e pelas polícias militares e civis dos estados da região da fronteira.

A troca do comandante do Exército, o general Júlio Cezar Arruda, pelo seu colega Tomás Miguel Ribeiro Paiva, pode ser uma oportunidade de atrair a atenção das Forças Armadas para o que está acontecendo nas fronteiras com os países vizinhos, em especial com o Paraguai. É sobre isso que vamos conversar.

Antes de começar a nossa conversa tomo a liberdade de relacionar alguns fatos que considero importantes. E advertir os meus colegas, em especial os jovens repórteres, que não estou escrevendo um texto de opinião. Mas sobre fatos que temos publicado e muitos dos quais sou testemunha, porque ando pelas fronteiras do Brasil com os países vizinhos, em especial o Paraguai, desde o início da década de 80, fazendo reportagens e livros, como País-Bandido – Crime Tipo Exportação.

Vamos seguir a nossa conversa. Nos países exportadores de cocaína, em particular na Colômbia, os produtores formaram grandes cartéis. Nos anos 90, essas organizações financiaram a montagem de cartéis de atacadistas de cocaína nas cidades do México, em especial na fronteira com os Estados Unidos, o maior consumidor da droga no mundo.

Em poucos anos, esses cartéis mexicanos ficaram poderosos, e quando o exército se deu conta do problema, já era tarde, o México tinha se tornado um dos lugares mais perigosos do mundo, especialmente para jornalistas – há matérias na internet.

Como PCC, CV e outras facções menores do Brasil entraram nessa história? Em novembro de 2016, depois de um longo processo de negociação, o então presidente colombiano Juan Manuel Santos conseguiu fazer um acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), um grupo paramilitar que nasceu em 1964 e desde então combatia o governo do país.

Na época do acordo, os objetivos políticos das FARC já tinham ido para o saco e a organização se tornara protetora dos cartéis de produção de cocaína – há matéria na internet. O desmantelamento das FARC significou uma oportunidade para as organizações criminosas brasileiras se tornarem relevantes para os cartéis colombianos. E elas aproveitaram a oportunidade.

Nos dias atuais, há regiões no território paraguaio que quem dá as cartas são os bandidos do PCC e do CV, que fazem alianças estratégicas com as facções locais. As autoridades paraguaias não entram nesses territórios sem autorização dos bandidos brasileiros. Um desses locais é Pedro Juan Caballero, município paraguaio separado por uma avenida de Ponta Porã, cidade do oeste do Mato Grosso do Sul.

Vou lembrar três episódios que aconteceram nesse pedaço de fronteira. Em abril de 2010, o senador paraguaio Roberto Acevedo sofreu um atentado praticado pelo PCC, e um dos seus seguranças morreu. O então presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esteve lá e conversou sobre o episódio com o seu colega paraguaio Fernando Lugo. Estava lá e fiz matéria.

Em janeiro de 2020, o Ministério Público Federal (MPF) fechou as portas em Ponta Porã e mudou-se para Dourados (distante 120 quilômetros) alegando falta de segurança para trabalhar. Imaginem só. Se os procuradores da República se sentem inseguros para trabalhar lá, o que dirá o resto.

Conversei longamente com os colegas da região. Em fevereiro de 2020, o jornalista Léo Veras foi morto a tiros por um pistoleiro de aluguel em Pedro Juan Caballero. Na ocasião, fiz o post A ira contra os jornalistas: pistoleiros na fronteira e caluniadores em Brasília.

Eu poderia ficar citando durante todo o dia episódios que mostram o domínio na região do PCC e do CV. Alerto os meus colegas que hoje é comum as grandes quadrilhas de varejistas de cocaína terem os seus representantes vivendo no território paraguaio, porque conseguem negociar diretamente com os atacadistas da droga. Essa prática aumentou o volume de cocaína circulando nas grandes e médias cidade do Brasil – matérias na internet.

Falei lá na abertura da nossa conversa que os problemas de segurança nas fronteiras brasileiras são grandes demais para serem resolvidos pela PF e pelas policiais militares e civis. As Forças Armadas têm estrutura de pessoal e equipamentos que podem ajudar a qualificar a segurança nessas regiões, como fizeram por ocasião da Copa do Mundo, em 2014, e das Olimpíadas, em 2016.

Basta darmos uma olhada no que publicamos sobre a presença dos militares (ativa, reserva e reformados) na máquina administrativa do governo federal para se ter uma ideia da confusão que se instalou entre os funcionários de carreira. Eles, em especial os generais como Braga Netto, que foi candidato a vice na chapa de reeleição de Bolsonaro, não se aproximaram do então presidente por questões ideológicas. Mas por dinheiro. 

Um decreto presidencial permitiu que os soldos dos militares pudessem ser somados aos salários ganhos na função no governo. Antes essa soma não podia passar do teto salarial do funcionário público federal, em torno de R$ 40 mil. Essa loucura toda chegou ao seu auge no dia 8 de janeiro, quando bolsonaristas radicalizados acampados na frente do Quartel-General (QG) do Exército, em Brasília, praticaram atos de terrorismo, destruindo tudo que encontraram pela frente no Congresso, no Palácio do Planalto e no Supremo Tribunal Federal (STF).

Toda essa lambança está sendo apurada por inquéritos que estão sendo tocados pela PF, e mais de mil pessoas envolvidas nos atos de terrorismo estão presas. O novo comandante do Exército, o general Tomás, tem uma longa jornada pela frente para colocar as coisas nos devidos lugares determinados pela Constituição.

PARA LER NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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