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Loucuras do Geremildo – por Marcelo Arigony

Esse amigo é mais que hiperativo. Ele é no mínimo, diferente. No mínimo!

Encontrei o Geremildo. Tava descabelado com uma cara de louco que só ele. Injuriado mesmo. Me viu, nem cumprimentou, e já largou:

– Discorde, cresça, faça do seu jeito. Não seja bobo dos outros. Tão nos tirando pra otário!

– O quê?

– Sim. Que droga é essa que tem que ficar tomando água? Todo mundo gastando com água mineral. Uma vez fui a Paris, e lá nos restaurantes colocam água da torneira, em uma garrafa de vidro, em cima da mesa. E não cobram por isso. Todos são iguais na água. Lá em Santiago, quando guri, nunca tomei água. Só mate, desde que fui desmamado da mãezinha Lindaura, aos seis anos de idade. Meu intestino funciona como um relógio. E tô bem vivo, já na segunda metade do campeonato.

– E Melancia com uva. Deus-o-livre. Melancia com leite então, morte por disenteria. Pior que uga-uga!

– O café da manhã é a refeição mais importante do dia! Sei! Sempre discordei, mas nunca disse nada pra não criar celeuma. Quando me fizeram tomar café cedo, passei o resto do dia empanturrado. Nunca gostei de tomar café da manhã. Odeio o tal café na cama. Sem escovar os dentes. Que nojo! Café da manhã só em hotel. Esse sim! No mais, gosto mesmo é de acordar tarde, e só tenho fome ao raiar das dez e meia. Aliás, não falem comigo antes das dez e meia. Se falarem, não estão falando comigo.

– Tem que dormir cedo. O cacete! Cada um no seu ritmo. (Agora) são duas da manhã e meu cérebro não tá cabendo na caixa. Poderoso, fervilhando, cheio de ideias. De manhã eu não sei quanto é o quadrado do número primo.

– Passaram a vida toda me mandando dormir cedo. E acordar cedo. Já me tiraram pra dorminhoco, sem saber que eu durmo cinco, máximo seis horas por noite. Muito menos do que aqueles que jantam às seis, dormem com as galinhas às oito, e acordam às cinco ou seis da manhã. Tão dormindo quase dez horas por dia e vem dizer que eu durmo demais. Aliás, são uns desocupados. Quando estão indo dormir meu dia tá só na metade.

– E agora os cientistas descobriram essa tal sociedade B. A ciência explicou que tem esse pessoal que dorme mais tarde mesmo. Ah a ciência. Agora é tarde. Já me encheram o saco a vida toda.

– E a TDAH? Passaram a vida dizendo que eu conversava na aula. Que não prestava atenção. Que ficava fazendo outras coisas. Também. Cada chato que me aparecia pra dar aula. Eu louco pra viver, aprender e fazer coisas interessantes, e tendo que fazer continha de 2+3, 2 x 5. Agora a ciência descobriu que tem umas pessoas diferentes mesmo. Ah a ciência de novo salvando.

– Diz que tem uma tal ritalina, pra concentrar, melhorar o foco. ♫Nunca vi nem tomei, eu sou ouço falar ♫. E se sou hiperativo isso me ajudou muito. Consigo fazer duas, três coisas ao mesmo tempo. Agora com o celular é uma droga, porque as pessoas não entendem.

– Sabe o cara que quando fica mal do fígado tem vontade de comer ovo frito? Dois ou três, com a gema mole. Sou eu! Incompreendido a vida toda, mas a natureza é sábia. O corpo sabe o que tá precisando.

– Sempre achei que empurravam vitamina como estratégia de marketing pras pessoas jogarem dinheiro fora. E hoje a gente consegue googlear e descobre que um prato de sete cores preenche todas as necessidades nutricionais. De lambuja a vitamina ainda sobrecarrega rim e fígado. Suplemento de academia pior ainda. A não ser que tu seja o Schwarzenegger. Maluco beleza eu!

– Também tenho dúvidas sobre a água mineral. Uma vez prendemos um pessoal que engarrafava na torneira de casa pra vender. Água boa é da CORSAN. Colchões terapêuticos, ozonizadores, guaraná cerebral, pirâmides… louco mesmo!

– Minha mãe dizia que o dinheiro não traz felicidade. Nunca concordei. Brigo com ela até hoje sobre esse paradigma. Ainda não resolvemos a contenda, mas ainda tenho esperança de convencê-la de que sem dinheiro a tristeza é beem pior.

Tenho um amigo chamado Raul, para quem os maiores rios do mundo são o Mississipi, o Amazonas e o Oceano Atlântico. Cara inteligente, músico, escritor e poeta. Na época era criança e não entendia nada. Por que ele dizia essa loucura?

Mas hoje entendo perfeitamente. Na verdade dele são esses. E daí. Cada um com as suas verdades. O Raul sabe mesmo das coisas.

(*) Marcelo Mendes Arigony é titular da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP) em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.

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Um Comentário

  1. Agua da torneira ‘de graça’ na França é lenda urbana. O custo esta embutido no serviço. Alguém tem que pegar um copo, encher na torneira e levar até a mesa. Os autoctones entretanto preferem agua engarrafada. O resto do texto? Troféu Seinfeld. Perde-se tempo lendo um amontoado de coisas escritas sobre nada. Alas, explicita ou implicitamente a palavra mais utilizada é ‘eu’. Parece até que a criatura é da Baliza e não de Santiago.

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