Novas façanhas – por Orlando Fonseca
“É preciso repor a verdade histórica sobre o que é virtude”
Nem tão novas assim as tais façanhas, mas o hino rio-grandense precisa ser modificado com urgência, para se adequar à “nova” realidade que encontramos em nosso Estado. Pelo menos dois versos devem receber um tratamento diferente: “Povo que não tem virtude/ acaba por ser escravizador”.
As notícias de ações comandadas pelo Ministério Público do Trabalho em solo gaúcho não deixam dúvida: algo de muito nefasto está acontecendo no campo. Este setor que tem nos orgulhado há décadas, agora serve de motivo para vergonha.
As condições de trabalho análogas à escravidão não recomendam modelo a nenhuma Terra. Sem concessões, se não houver uma atitude radical e definitiva, o passado escravista volta a assombrar o pampa.
Em passado recente, o movimento negro divulgou a sua contrariedade com a letra do hino. A frase poética construída no calor do movimento Farroupilha e modificada ao longo das primeiras décadas do século passado, é, no mínimo, infeliz em sua proposição. Não se pode dizer que existe uma relação de causa e efeito entre a virtude e o fato de um povo ser escravizado.
Se considerarmos a chamada escravidão moderna, com os países europeus fazendo escravos em suas colônias em territórios africanos, esta noção se perde por completo. A falta de virtude, como se pode verificar na história, estava do lado dos colonizadores.
Na antiguidade, quando das lutas territoriais, a população do lugar ocupado tornava-se escrava do invasor. Não por falta de virtude, mas pela ausência de potencial bélico: não tinham exércitos, ou o número de guerreiros era inferior, não tinham armas nem máquinas de guerra.
Na formação dos grandes impérios, houve o caso de líderes, digamos, humanos, que eliminaram esta prerrogativa de suas conquistas. Retomada com toda virulência na escravidão dos povos da África.
Na luta contra o império brasileiro, na histórica Guerra dos Farrapos, os rio-grandenses manifestavam não apenas indignação com a falta de atenção do governo central, mas também erguiam o ideal republicano. Este, entre outros objetivos, era abolicionista.
A população de afro-brasileiros escravos, nos campos do Rio Grande do Sul, lutaram ao lado dos farroupilhas, com a promessa de libertação. O que não se verificou, como se sabe, com o infame episódio da Batalha dos Porongos. Este motivo histórico é que levou o movimento negro questionar a letra do hino do Estado. Agora, nesta despretensiosa crônica, levanto a necessidade disso diante dos fatos vexatórios que presenciamos estarrecidos – em pleno século XXI.
Primeiro com os episódios nas vinícolas da Serra gaúcha, envolvendo três grandes empresas do setor, em Bento Gonçalves – diga-se de passagem, nome de um dos líderes da revolução republicana de 1835. Depois, as notícias do mesmo expediente de escravidão nas plantações de arroz em Uruguaiana. Espero que os raios daquela aurora precursora continuem a iluminar lideranças em favor da liberdade.
Não podemos esquecer que, nas últimas campanhas eleitorais, uma boa parcela – a maioria – do setor agropecuário esteve ao lado de um governo que promoveu o uso de agrotóxicos, facilitou o desmatamento, afrouxou a legislação que protegia os povos originários e os diretos trabalhistas.
Ou seja, não é por acaso que estamos presenciando estes acontecimentos que, graças a uma ação firme do MPT, vieram à tona. O Brasil foi um dos últimos países a abandonar a mão de obra escrava no mundo, e o fez em uma legislação lacônica, que continua a dar margens para a permanência das condições precárias dos descendentes dos escravos, o que se estende a outros trabalhadores.
Logo, o que precisa mudar é a cultura. Urge humanizar as relações entre capital e trabalho, sob pena de continuarmos a ser surpreendidos com fatos iguais ao que o noticiário e as redes sociais espalharam como uma nova façanha nada exemplar de alguns rio-grandenses.
Um hino, cantado a plenos pulmões como uma identificação simbólica poderosa, não pode abrigar noções arcaicas e anacrônicas. É preciso repor a verdade histórica sobre o que é virtude, buscar no ideal republicano e abolicionista o verdadeiro caráter de um povo que almeja, e tem condições, de ser modelo a toda Terra.
(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.
Brasil não foi ‘um dos ultimos a abandonar a mão de obra escrava’. Pode consultar, existe pelo menos uma dúzia depois. Entre abolir e criminalizar existe um bom intersticio ainda. As pessoas têm direito a opiniões, não aos proprios fatos. Algo que muitos ‘debatedores(as)’ e ‘jornalistas’ da aldeia ignoram.
Cultura vai mudar, mas não como os ‘sabios de ar-condicionado’ desejam. Relação capital-trabalho (ideologia já é dificil encaixar no que existe hoje por ultrapassada) é a melhor possivel na conjuntura atual. Não vai melhorar por decreto. Hino tem que ficar como está. Para lembrar como era. Vermelhos não tem respostas para o futuro vivem tentando ‘consertar’ o passado. Problema sério de ego também, tem até ministro do STF que se julga fiscal do ‘processo civilizatório’. O que é comico!
‘[…] permanência das condições precárias dos descendentes dos escravos […]’. Não só eles, obvio. Pergunta que fica é se os meses do ano que a população brasileira trabalha para sustentar um Estado que pouco dá em retorno também não é escravidão. Ou seja, não as relações capital trabalho precisam ser mudadas, o que precisa mudar é a relação Estado-cidadão(ã). Talvez implementar a Republica.
Casos da Serra e de Uruguaiana são isolados, não ‘culpa’ dos 11 milhões de gauchos e gauchas. Simples assim. Não existe canto do planeta isento de barbaridades (que variam conforme quem assiste). Batalha de Porongos, um monte de teorias da conspiração viraram historia (historiadores são majoritariamente vermelhos).
Isto mesmo, agronegócio apoiou o Cavalão e ‘tem que levar pau’, grande novidade. Primeiro é direito deles apoiarem quem achar melhor. Segundo, vermelhos podem falar o que quizerem, não tem importancia. São insignificantes. Alas, pessoal do Sala da Fralda Geriátrica já devia saber disto. Alás, Claudemir com P., o pagador de comédias, não reclama mais dos preços do mercado! Os preços não mudaram, mudou o governo! Alás, dizem que a ditadura perseguiu o balizense (ele gosta de contar a propria vida como se fosse interesse geral), só se fala noutra cousa.
Nem sempre os conquistados viravam escravos. Em muitos lugares, inclusive entre os indigenas brasileiros, os conquistados viravam churrasco. Vide Hans Staden e os Tupinambás/Tamoios.
Verdade é que não existem muitos exemplos historicos de povos inteiros serem escravizados. Se é que exista algum. E a virtude? Anos atrás a BBC produziu um documentario sobre Helena de Troia. Na Turquia a apresentadora fala com um historiador grego. Debatem sobre o conceito de ‘herói’. Entrevistado se irrita visivelmente e discorre um certo tempo sobre o assunto. ‘Herói’ vem do sanscrito ‘vira’, aquele(a) que contribui mais. Contexto é tribal proto indoeuropeu. Não resulta só no ‘herói’, Hera soberana dos deuses gregos vem da mesma raiz. Passando para Roma ‘vir’ é a palavra para homem, daí ‘viril’ e as qualidades masculinas. O que leva ao Direito Romano que previa escravidão. Até quando foi utilizado? Total zero, qual a acepção de ‘virtude’ foi empregada no hino a epoca do acontecido (não as interpretações atuais)? A Maquiavélica?
‘[…] tem nos orgulhado […]’ quem cara-pálida? Por que um setor economico particular deveria ser ‘motivo de orgulho’? Para algumas bolhas de baixa racionalidade tudo é muito ‘emotivo’. UFSM? Orgulho. Santa Maria? Orgulho. Comércio local? Orgulho. Que vira uma palavra vazia para preencher espaço. Oeste de SC também tem orgulho dos porcos e galinhas. Centro-Oeste do agronegocio. Se o comum e mundano é ‘motivo de orgulho’ não existe nada de excepcional. Viva a mediocridade! Objetivo inalcançavel para alguns.
Movimento negro (onde também existe gente séria) criou uma artificialidade. Quem foi escravizado na Africa foram individuos e não povos. Tanto que continuaram a existir por lá. Zanzibar no Oceano Indico comercializava entre 40 e 50 mil escravos por ano no século XIX. No outro lado até 1600 (mais ou menos) algo como 5 milhões de escravos passaram por Timbuktu. Bem diferente do que concepção biblica dos judeus no Egito (desconfio que não haja evidencia historica disto). Parecido com o que os Vikings fizeram em Dublin na Irlanda durante o periodo medieval. Pano de fundo é a ideologia vermelha, ‘divida historica’, etc. O futuro visto no retrovisor, revisar/reescrever o que passou para mudar o presente.
Kuakuakuakua! Vermelhos e suas ‘provocações’. Sempre engraçado! No mais das vezes superficiais e ignorantes. Para começo de conversa não é uma minoria que decide o que deve ser ou não o hino. Segundo, pelas gerações que vem ai o hino deve perder importancia.