Meus sonhos de guri – por João Luiz Vargas
O cronista e “esta saudade do passado” que não consegue interpretar
Jamais consegui interpretar a saudade que carregamos do passado, principalmente dos anos de nossa infância, nossos primeiros brinquedos, amigos e espaço geográfico. Este desempenha várias tarefas e detém grande poder dentro de nossa atividade infantil, carregada de singeleza e ingenuidade.
Queria volver aos meus anos de guri. Buscar, lá no passado, com meus brinquedos, a solução para vários questionamentos que possuo e não encontro respostas na vida de adulto. Sei que, como criança, já os teria interpretado. Mas, como não é possível, continuo cada dia menos criança e com poucas condições de entender esta vida de percalcos e artimanhas.
Como faz falta aconselhar-me com meu bodoque. No passado, serviu-me como instrumento de diálogo para declarar meus sonhos, pedir ajuda em meus problemas e como hábil armamento, capaz de vencer qualquer obstáculo que surgisse em meu caminho.
Cresci. Vejo que antes a felicidade era encontrada com mais facilidade, sendo uma constante intensa, quase permanente. Agora, quando vem, é efêmera, deixando, ao passar, um vazio onde não tenho meu bodoque para dialogar e buscar com ele a segurança que preciso.
Por isso, esta saudade do passado não consigo interpretar. Quero ver se, deixando de lado a soma dos dias, começo amanhã com minhas atividades dentro da disposição infantil. Ingênua e singela. Quero a presença segura e protetora do meu bodoque para o enfrentamento com o mundo.
(*) João Luiz Vargas, prefeito de São Sepé (ex-deputado, ex-presidente da Assembleia Legislativa e ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado), escreve no site às sextas-feiras.
Sim, os bonequinhos feitos com o barro do Grande Diluvio.