Todos os dias para nossa casa maior, a Terra – por Marta Tocchetto
“A Terra é a casa da humanidade; abriga a grande biodiversidade da vida”
É fundamental estendermos o dia 22 de abril para os demais meses e dias do ano. O Dia da Terra são todos os dias.
Da terra vim, para a terra voltarei. Concordando ou discordando com a afirmação é inegável que a espécie humana tem uma forte ligação com os elementos que compõem o nosso Planeta. Em Gênesis, está escrito: “O Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego da vida”. Em outro momento, o mesmo livro reforça a formação dos demais seres: “Formou da terra todos os animais do campo e todas as aves do céu”. A conexão com os elementos da natureza – terra, ar e água – se fundem em perfeita simbiose, a vida.
Tão forte ligação com a natureza não é suficiente para que o homem aja com cuidado, com carinho, com gratidão sentindo a presença da vida em tudo o que está a sua volta. Se a vida depende do equilíbrio, a exaustão do Planeta que nos abriga, o esgotamento e a destruição se nutrem com a ganância, a exploração e a compreensão de que os bens são infinitos. A Terra é a nossa grande casa. É a casa da humanidade. A Terra abriga a grande biodiversidade da vida.
Em dezembro de 2009, a Assembleia Geral das Nações Unidas elegeu o dia 22 de abril como o Dia Internacional da Mãe Terra – simplesmente, Dia da Terra. A data expressa a preocupação com a degradação ambiental e com os impactos negativos na natureza decorrentes da atividade humana. 22 de abril é um dia para promover ações, discussões, reflexões que promovam a vida em harmonia com a natureza.
A ONU no documento “Harmonia com a natureza” reconheceu que o esgotamento dos bens naturais e a rápida degradação ambiental são obras de padrões de produção e de consumo insustentáveis. As consequências são o adoecimento da nossa casa maior, a Terra, e da própria humanidade. Em 2021, o secretário-geral da Organização alertou que “a humanidade declarou guerra à natureza, tão insensato quanto suicida”. Reconectar-se é indispensável, essencial e urgente. É a única forma de garantir a sustentabilidade, a saúde humana e, também o bem-estar do planeta como um todo.
As mudanças climáticas, a perda da biodiversidade e a poluição do Planeta compõem as grandes disrupturas promovidas pelas ações do homem sobre o meio ambiente. O consumo exagerado leva a exploração sem limites para atender necessidades, nem sempre, essenciais ou fundamentais. Modelo que vem provocando o esgotamento de muitos bens naturais e a extinção de muitas espécies. Essas ações também promovem a poluição com a destruição de muitos ambientes ocasionando envenenamento do solo, da água e do ar, sobretudo devido a crescente geração de resíduos.
Priorizar a não geração, em especial a de plásticos, que se constitui uma das principais fontes poluidoras do Planeta, é mais uma urgência para pontuarmos na lista das prioridades. Atitudes simples, como substituir embalagens e produtos descartáveis por retornáveis vai ao encontro da solução para esse grave problema. Muitos países demonstram preocupação com essa situação e estão proibindo a fabricação de produtos plásticos de uso único na busca de conter o consumo insustentável, a complexa geração e as consequências mundiais desse tipo de resíduo.
No Dia da Terra, os clubes filiados à MSL (Liga Americana de Futebol Profissional) usaram o kit “Uma chance, Uma Terra” com camisetas confeccionadas com fibras a partir de plásticos retirados do oceano. O objetivo foi conscientizar para o desperdício desse material e para os impactos causados por ele sobre o meio ambiente. A promoção remeteu à chance que está em nossas mãos para salvar a nossa casa planetária. Apelos à reciclagem também compuseram as mensagens nos uniformes. É essencial que quebremos a indiferença e o desprezo com nosso grande lar, A Terra. “É preciso inaugurar um novo patamar de civilização, mais amante da vida, mais ecoamigável e mais respeitoso dos ritmos, das capacidades e dos limites da natureza”, Leonardo Boff.
A necessidade de repensar o modo de vida, considerando produção e consumo, abandonando o modelo linear é mais do que urgente, passa da hora. O preço que está sendo pago por nós próprios é cada vez mais alto. Estamos rumando para uma situação de irreversibilidade. Mudar a matriz energética para fontes mais limpas e renováveis representa sobrevivência, considerando que as mudanças climáticas são consideradas os mais graves riscos à vida humana. No entanto, os governos ainda insistem em políticas exploratórias de reservas de petróleo, xisto e outros combustíveis que são emissores de gases de efeito estufa.
A astronauta britânica Helen Sharman, ao ver a Terra do Universo afirmou: Gostaria de dizer às pessoas quão desimportante as coisas materiais são para nós. Não estou dizendo que é errado ter um carro vermelho maravilhoso ou a última versão do que você quiser – cada qual no seu cada qual. Mas, a vida não é isso. O que aprendi olhando a Terra do espaço foi que os relacionamentos humanos são o que mais importa na vida. Desde que você tenha o mínimo para sobreviver, a coisa mais importante são os relacionamentos que possuímos: no fim, a família e os amigos são mais importantes que qualquer outra coisa no mundo”.
É fundamental estendermos o dia 22 de abril para os demais meses e dias do ano. O Dia da Terra são todos os dias. Nossa sobrevivência depende da saúde planetária. A visão do homem como centro do universo só tem levado à destruição e à ganância que, certamente, levará à extinção da raça humana.
(*) Marta Tocchetto é Professora Titular aposentada do Departamento de Química da UFSM. É Doutora em Engenharia, na área de Ciência dos Materiais. Foi responsável pela implantação da Coleta Seletiva Solidária na UFSM e ganhadora do Prêmio Pioneiras da Ecologia 2017, concedido pela Assembleia Legislativa gaúcha. Marta Tocchetto, que também é palestrante em diversos eventos nacionais e internacionais, escreve neste espaço às terças-feiras.
Felizmente existem lugares onde a pesquisa é para valer, não somente amontoados fazendo aplicativos de celular com marketing ‘arrojado’. Descobriram, ainda que por acaso, vermes que comem plastico. Ou seja, existe ‘inovação’ e existe inovação. https://www.nationalgeographicbrasil.com/ciencia/2022/08/conheca-o-verme-que-e-uma-arma-contra-a-poluicao-plastica
Hummm….. ‘[…] ao ver a Terra do Universo […]’. A Terra está fora do Universo? Alás, Globo ‘Desmatamento na Amazônia triplica em março, aponta Imazon’. Mudou o governo, mudou o discurso? Compromisso é com ideologia e não com solução de problemas.