Grande renúncia – por Orlando Fonseca
Ainda vamos coletar inúmeros casos de efeitos colaterais da grande pandemia de Covid-19, que assolou o mundo entre 2020-2022. E não falo das vacinas, que foram uma resposta rápida dada pela comunidade científica mundial, em uma cooperação não vista até então. Creio que o negacionismo deve continuar em mentes empedernidas, porém é da juventude que se recebe o sinal mais positivo. Em um fenômeno conhecido, nos EUA, como a Grande Renúncia, jovens se desligaram de suas antigas empresas, em uma avalanche de demissões. Voluntariamente resolveram buscar qualidade de vida em empregos com faixas salariais menores, mas menos estressantes. Semana passada, os jornais repercutiram a existência de fenômeno semelhante na China. Neste dia 1º de Maio, no qual se celebra o Trabalho e os Trabalhadores, é um bom tema para reflexão.
A pandemia avançou com seus números trágicos de mortes repentinas e, à medida em que era vencida, deixou sequelas graves, tanto nos aspectos físicos e fisiológicos como mentais e psicológicos. Por um lado, os protocolos de distanciamento trouxeram consigo problemas sociais, mas por outro, novas perspectivas quanto ao modo de viver no ambiente urbano. A paralisação de atividades econômicas provocou falências, mas também a busca por alternativas econômicas e profissionais. A demora dos governos em propiciar subvenção financeira, consolidou, entre outras coisas, a afirmação do home office como um modelo permanente.
A Grande Renúncia (Big Quit, em inglês) começou no início de 2021, em uma tendência crescente de funcionários se demitindo de seus empregos. Tais atitudes foram uma resposta à pandemia, com o governo americano se recusando a fornecer as proteções necessárias aos trabalhadores, e com a estagnação salarial diante do aumento do custo de vida. Em novembro daquele ano, 4,5 milhões de trabalhadores se demitiram no Estados Unidos, número quase três vezes maior do que nos meses anteriores. Em especial, o fenômeno se verificou na faixa dos mais jovens, grupo já afetado pelas mudanças de uma sociedade totalmente conectada. Isso lhes deu uma maneira peculiar de ver a realidade, propiciando-lhe a virtude da resiliência: capacidade de adaptar-se a um mundo em constante mudança. E esse grupo não viu problema em mudar-se para empregos mais simples, com salários reduzidos. Muito pelo contrário.
Algo similar vem se verificando agora na China, epicentro da disseminação do vírus da Covid 19. Lá, os protocolos foram rigorosos, pela tolerância zero com a contaminação. É bem possível que as coisas tenham motivações mais profundas e raízes em um passado pouco conhecido do ocidente, pelo forte controle estatal das informações naquele país-continente. Devido às longas jornadas de trabalho, ao excesso de horas extras, gerentes dominadores, burnout, ambientes hipercompetitivos, muitos trabalhadores buscaram opções por rotina mais simples, visando melhor qualidade de vida. Vários fatores provocaram uma desaceleração na economia chinesa, o que fez diminuir a perspectiva de mobilidade ascendente para uma geração que conheceu apenas um crescimento explosivo. Assim, impulsionados pela pandemia, os trabalhadores repensaram suas carreiras, as condições de trabalho e objetivos de longo prazo. Ainda que algumas empresas tentassem trazer seus funcionários de volta para o trabalho pessoal, a liberdade de trabalhar em casa e a flexibilidade de horários motivou a procura por ocupações mais simples, na tentativa de equilibrar a vida pessoal e a atividade profissional.
É certo que a humanidade tenha aprendido mais em tempos difíceis, de guerra ou de peste, do que em tempos de paz. A necessidade é a mãe da invenção e da criatividade. Ainda não sabemos a extensão que terá a convalescença da Covid-19 no mundo, mas algumas coisas já se tornaram aprendizado positivo. Como a cooperação universal em torno de métodos científicos, e agora, a busca por melhores condições para a prática laboral. Renúncia que alia resignação e ressignificação dos conceitos de trabalho e de trabalhadores.
(*)Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.
Um dos problemas brasileiros. Gente que nunca fez nada util (burocratas na maioria) vendendo utopias que não estão no horizonte. Ideologicamente não têm ferramentas para enfrentar o presente ou o futuro, refugiam-se nos costumes e nos problemas da revolução industrial. Soluções simples (e erradas) para problemas complexos. Religiosamente vendem o Céu na Terra. Nada importa, só a relgião/ideologia. Outro dos problemas brasileiros? Na Era do Conhecimento uma população de ignorantes. Os que deveriam gerar conhecimento (o sistema também não ajuda, é verdade) se escondem atrás do marketing para justificar os postos de trabalho e os orçamentos. Na conjuntura atual em breve seremos um pais de poucos jovens tentando sustentar muitos velhos(as) num ambiente que a inteligencia artificial vai destruir postos de trabalho que não exigem muita qualificação (vai criar outros postos qualificados, é vero). E não tem milagre, alguém vai ter que fazer o serviço, puxar o cabo da enxada. Não tem como ficar todo mundo no ‘assim não brinco’. Também não vai cair do Céu no colo do Estado. Ou como diziam antigamente, não existe almoço grátis.
Noticias que vem da China não são muito confiáveis. De qualquer maneira muita coisa ‘retorna ao normal’ por lá.
Protocolos da pandemia na China chegaram a beira da revolta popular. ‘[…] longas jornadas de trabalho, ao excesso de horas extras, gerentes dominadores, burnout, ambientes hipercompetitivos,[…]’ para os servidores publicos qualquer coisa associada a palavra ‘trabalho’ é um inferno! Kuakuakuakua! Problemas existem, obvio, mas não são a regra.
A tal ‘grande renuncia’ não passou de pouco menos de 3% da força de trabalho. Na area da saúde o problema foi mais sério, falam em 20%. Mudaram de área. O que ‘deu ruim’ para os da geração Z. Muitos tentaram voltar para o mercado de trabalho e não conseguiram. Geração mimimi um problema que se resolve por si proprio. Um detalhe que muitos esquecem, conseguir entrevista é dificil. Passar na entrevista mais ainda.
Pandemia é assunto superado. Escolher fatos historicos e ficar carregando na mochila (só os que interessam) é passatempo de alguns. Para outros perda de tempo.