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Quando a narrativa é falsa – por Michael Almeida Di Giacomo

Seja quem for a vítima, “o resultado é um contexto de difícil reparação”

É por meio da disseminação de narrativas falsas que se tem uma das formas mais eficazes de desconstruir um fato, uma imagem pessoal, descredibilizar uma Instituição – pública ou privada.

Essa é uma prática muito comum nos dias atuais – onde a opinião de cada um de nós, por meio das redes sociais, ganha uma amplitude jamais vista na história das relações interpessoais e das comunicações de massa, no modo off e on-line.

Voltando um pouco no tempo, na ideia de reforçar a implantação de um estado totalitário, Joseph Goebbels, ministro nazista, disse que “uma mentira dita mil vezes torna-se verdade”.

O regime praticava por meio da propaganda, um efeito de “ilusão da verdade”.

Hoje, a narrativa falsa, disseminada por pura má-fé, ou por uma massa acrítica, tem alcance de milhões de pessoas em tempo real. O resultado é um contexto de difícil reparação, pois o receptor acaba tendo como verdade um contexto minimamente construído para lobotomizar todo um segmento social.

Um exemplo recente foi a divulgação do Grupo Bandeirantes de que a diária do hotel em que o presidente da república havia se hospedado em Londres poderia chegar a 95 mil reais. Adiante, a matéria foi desmentida, uma fonte informou que não passava de 40 mil. E, por fim, a própria mídia da Band reconheceu em nota que o valor, no máximo, chegaria a 37 mil.

Contudo, a “ilusão da verdade” já estava posta. As redes sociais já tinham centenas de milhares de manifestações condenando a presença do presidente em um hotel com diária de 95 mil reais.

Agora, o Google.

Também no mesmo evento – coroação do Rei Charles III – quando qualquer internauta lançava no buscador da plataforma o termo “Lula coroação”, era sugerido “Lula corrupção”. A gigante da tecnologia digital, disse ser um erro do algoritmo de busca.

Note, são dois “erros”.

Um causado por uma mídia convencional, outro por uma plataforma de comunicação – que afirma ter por foco a publicidade, entre outras ações na área de tecnologia. Os dois fatos, concomitantemente disseminados, formam uma narrativa falsa que esteve a permear o debate público por milhões de pessoas nos últimos dias.

No Brasil, é bom registrar, nem a mídia convencional, nem as gigantes da tecnologia, aceitam qualquer debate sobre regulação.

Enquanto isso….

(*) Michael Almeida Di Giacomo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Mestre em Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público. O autor também está no twitter: @giacomo15. Ele escreve no site às quartas-feiras.

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7 Comentários

  1. ‘Enquanto isso….’. Das utopias. Pessoal do juridico faz poucas coisas. Reuniões, discursos e produção de textos (esfregando a barriga na mesa no ar condicionado). Ninguém vai negar que ocorrem absurdos neste campo tambem. Dai acontece uma greve dos roteiristas na Ianquelandia. Dai o presidente do Senado propoe (PL da Censura é do Alcolumbre) a PL 2338/23 ‘Dispõe sobre o uso da Inteligência Artificial’. Como todo prejeto tem suas definições e uma ‘principiologia’ para dar margem para enr@b@r os outros depois. Se na PL da Censura havia previsão do ‘Soviet da Verdade e da Transparencia’ neste outro também não falta. ‘O Poder Executivo designará autoridade competente para zelar pela implementação e fiscalização da presente Lei.’ Causidicos(as) não têm formação em computação ou matematica avançada para entender IA. Mas podem usar ‘especialistas’ escolhidos a dedo. Afinal, politicos também vão querer uma beirada.

  2. Regulação? Gostam de citar o que aconteceu na Alemanha ou na Europa. Legislação que ninguém leu, nem eles. Solução simples, vamos trazer deputados e senadores europeus ou alemães. Sim, porque alguém pode não ter notado, deputados federais atualmente fazem os edis da urb parecerem adequadamente alfabetizados. É um show de horrores. Não, não é ‘espelho da sociedade’ (que no Brasil são muitas), meu voto é restrito as fronteiras do Rio Grande (mesmo assim está longe do ideal).

  3. Midia convencional não aceita regulamentação? ‘Jornalistas’ fazem campanha abertamente ao PL da Censura. Basta assistir a CNN. Não é só ideologia. ‘“os conteúdos jornalísticos utilizados pelos provedores produzidos em quaisquer formatos, que inclua texto, vídeo, áudio ou imagem, ensejarão remuneração às empresas jornalísticas”. Problema é que na rede social só fica o link para a noticia. Ao clicar no mesmo acontece o redirecionamento a origem da noticia. Ou seja, Redes sociais captam audiencia para a midia tradicional e ainda teriam que pagar por isto. Mais provavel que aconteça, os links serão bloqueados. Alas, ‘Jornalistas’ estão levando ferro com a mudança de modelo, noutro dia outro passaralho no UOL do grupo Folha.

  4. Não são milhões de pessoas. Coisa que o pessoal da antiga (e alguns nem tão antigos assim). Algumas bolhas. Existem muito mais pessoas interessadas em piadas e dancinhas no Tik Tok do que na diaria do hotel ou na corrupção do dito cujo. Aparentemente o que querem é ‘antigamente era bom, a informação era centralizada, cumpanherada jornalista ajudava, tudo funcionava, gado estava sob controle’. Tanto é assim que querem mecher nos direitos autorais, tirar a remuneração dos youtubers e tiktokers. Fazer passar por um cartório estatal (ECAD da vida) para tirar uma beirada. Mata-se a rede social, ninguém vai produzir conteudo de graça, há que monetizar e o dinheiro volta para os cupinchas da midia que ajudaram a eleger o Desgoverno. Alas, Republicanos da Igreja Univesal andou votando a favor, a Record também quer dimdim.

  5. Google tem quem o defenda. Tem seus problemas. Questão é: nos ultimos 10 anos quem fez buscas a respeito do Rato Rouco foi num contexto mais ligado a corrupção ou a coroação? Sim, porque existem erros de grafia na busca. Alas, se colocassem o nome do Cavalão antigamente as sugestões eram desmatamento na Amazonia e outras coisas boas. Agora a sugestão mais depreciativa sugere as jóias. Vamos combinar, tupiniquins se acham muito importantes, mas para as gigantes da tecnologia Brasil é mercado secundário.

  6. Como se 37 mil fosse pouco. O custo da diária do hotel onde ficou Molusco com L., o honesto, é igual ou maior o que muita gente não ganha em um ano. Alas, quem ganha salário minimo recebe metade disto. Ou menos.

    1. A Esquerda é ótima em criar falsas narrativas. Achar matérias que dizem sobre as corrupções do Lula é fácil; difícil é o trabalho da mídia em tentar esconder toda a sujeira por debaixo dos tapetes; como fazem.

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