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Terceira Guerra – por Orlando Fonseca

Conflito está a ocorrer no ambiente virtual: Democracias x Big Techs

Na segunda metade do século passado, muito se especulou sobre como se daria a Terceira Guerra Mundial. Por via de consequência, depois dela viria o fim do mundo, logo, tal conflito seria o final, o Armagedon. Vivia-se a tensão da “guerra fria”, com a formação daqueles dois blocos hegemônicos. Então surgiram os movimentos de contracultura, com seu hedonismo, sem “carpe diem”, e as profecias da era de aquário. Que, por sinal, deveria ser a que estamos vivenciando – e nem sentimos.

No entanto, nos últimos dias, lendo sobre a emergência de uma tecnologia poderosa da inteligência artificial no cybermundo, aliado à constatação da proliferação de bombas semióticas nas redes sociais, carregadas de um venenoso produto capaz de gerar terabytes de fake news, estou pensando que a Terceira Guerra será Democracias x Big Techs. Nada de bomba de nêutrons, batalhas campais ou armas químicas, o que destruirá o planeta serão as mentiras difundidas pela WEB, vulgarmente conhecida como internet.

Em recentes eventos pudemos constatar o potencial destrutivo das falsas informações que circulam livremente por Facebook, WhatsApp, TikTok ou Instagram. As redes sociais passaram a dar amplificadores com alcance global para toda sorte de bobagens e mentiras que o senso comum é capaz de formular.

Nas eleições americana e brasileira, que alçaram Trump (e o trumpismo) e Bolsonaro (e o bolsonarismo) ao poder, respectivamente, nos EUA e no Brasil; na pandemia do Coronavírus com as campanhas antivacina – o que vimos foi toda sorte de platitudes negacionistas, do terraplanismo ao conceito irracional de liberdade de expressão.

Com relação a este último aspecto, hoje está sendo travada, nos parlamentos e tribunais superiores, uma verdadeira guerra conceitual, que busca no pensamento liberal a desculpa para manter a permissividade que rola no ambiente virtual. O que realmente é uma falácia, pois a vida em sociedade se dá mediante um contrato, em que aqueles que admitem viver na comunidade aceitam as regras da ordem social, da legislação, das condutas normatizadas.

E aí é que entra a minha interrogação mais a fundo, nesta despretensiosa crônica: no bojo da questão em torno das redes sociais está a necessidade de assegurar a integridade da vida republicana, do estado de direito. Portanto, o limite para este questionamento são as salvaguardas da democracia. Estando esta ameaçada, revoga-se tudo o que permite a sua derrocada.

Fiquei estarrecido, semana passada, quando li a decisão da Suprema Corte dos EUA sobre o tema. Por um placar de 9 x 0, manteve a interpretação sobre uma lei americana de 1996 que isenta duas redes sociais (que ainda nem existiam) de responsabilidade sobre o que é publicado por seus usuários. O veredito envolve ações que acusam Twitter e Google de serem responsáveis pela recomendação de conteúdos terroristas em suas plataformas.

Não fosse pelo fato de que tais ações foram movidas por familiares de pessoas que morreram após ataques terroristas, e eu até tenderia a minimizar o alcance desta decisão. O que me deixa temeroso é que ela abra margem para que muita coisa pior aconteça livremente, pois mantém a atuação de grupos extremistas nos serviços de tais aplicativos, na internet. Como o Estado, as leis e a repressão não alcançam os usuários, se não forem responsabilizados os veículos de disseminação do discurso de ódio, as democracias estarão a perigo em todo mundo.

Diante das notícias a respeito de ferramentas da Inteligência Artificial cada vez mais poderosas, está se tornando muito arriscado não regulamentar a WEB, as Big Techs (como são chamadas empresas como Google, TikTok, Telegram) e o uso de aplicativos como o ChatGPT. Como se viu pela decisão da Suprema Corte americana, não será um empreendimento fácil.

Assim como aconteceu por aqui, com as redes se colocando contra a sua regulamentação, e diante do potencial de ação das grandes corporações da internet, será uma guerra com a dimensão daquelas duas que se deram na primeira metade do século passado. Se será o Armagedom, quem sobrar que conte a história pra gente (ou para quem sobreviver).

(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.

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13 Comentários

  1. Resumo da opera é o corno que manda tirar o sofá da sala. Regulamentação, alguma pelo menos, vai sair. Se vai ‘colar’ é outra historia. Normas no Brasil pecam na generalidade no sentido de não serem aceitas por todos(as). Caem de cima para baixo ‘democraticamente’. E um convite a burla. Eis a maior inimiga da democracia, a ideia de que não funciona. Um fala com o outro, outro fala com o um e concluem que ‘não está funcionando para mim também’. Além disto ‘é muito cara’. Alas, ‘ministros gostam de lagosta e vinhos finos’. E tem o cartão corporativo! Há que se ter cuidado. Censura, como o comunismo, não tem ombro.

  2. Nota-se a preocupação de colocar no mesmo balaio ferramentas de comunicação com inteligencia artificial. Vermelhos são ‘control freaks’ convictos. Aversão pelo avanço tecnologico da IA. Azar deles, não vão conseguir parar o tempo e nem deter o avanço da humanidade (que pegou um caminho diferente do que queriam). No maximo vão conseguir atrasar o pais. Levar toda a população para a submediocridade que acham tão normal.

  3. O que é ‘discurso de ódio’? Governo do PT é um amontoado de incomPeTentes que só sabem fazer c@g@d@s, com idéias ultrapassadas e sem qualquer noção de como o mundo funciona atualmente. Isto é discurso de ódio? Não existe maior perigo para a democracia que os vermelhos. E isto? Sim, porque tentar utilizar um ou dois casos ianques para mudar a legislação no Brasil, bota espantalho nisto.

  4. Ações contra Twitter e Google também eram ações de indenização. Familias de atingidas por atentados no caso do Twitter. Um aconteceu em Paris e outro em Istambul. Se o Estado Islamico tem conta no Twitter tanto melhor para a CIA e similares. Obvio. Truquezinho barato aqui é pegar a exceção para fazer a regra. Alas, para o Google sair do pais não custa muito. Com a carga tributaria para fazer um dolar aqui a empresa tem que faturar sete ou oito reais. Brasil é mercado secundário. Se acontecesse iria fazer o que? Como a China? Criar a Googlebras?

  5. EUA. Um dos engomadinhos do debate da CNN falou algo como ‘Fox foi multada por fake news’. Ou mentiu ou esta mal informado. Fox, alguém por lá, afirmou que os fabricantes de urnas eletronicas haviam alterado as maquinas para mudar o resultado da eleição. Uma fabricante abriu um processo de difamação e aconteceu acordo. Um segundo fabricante está com ação para ser julgada. Unica participação do Estado foi via judiciario, não aconteceu ‘multa’.

  6. Raciocinio circular, falácia. ‘pois a vida em sociedade se dá mediante um contrato’. ‘aqueles que admitem viver na comunidade aceitam as regras da […] da legislação, […]’. ‘[…] está sendo travada, nos parlamentos e tribunais superiores, uma verdadeira guerra conceitual, que busca no pensamento liberal a desculpa para manter a permissividade que rola no ambiente virtual’. Numa democracia a legislação é produzida nos parlamentos (não nos tribunais superiores, pelo menos na teoria), o pensamento liberal é uma corrente de pensamento admissivel numa democracia e justifica (não ‘desculpa’) a liberdade (não ‘permissividade’) nos ambientes virtuais. Da mesma forma que os admiradores de Ortega, Chavez, Maduro e Kin Jon Un defendem o controle da opinião publica, discurso unico e unissono. Opinião propria é coisa da Globo, coisa que os militantes não tem, tanto que ficam repetindo incansavelmente sempre a mesma m. Resumo é que as regras numa democracia devem ser escolhidas por consenso, não impostas pelo governo de plantão. Muito menos por autoritarios.

  7. ‘Ameaça a democracia’. Debate na CNN ontem. Pessoal do juridico. Falam em ‘tempos excepcionais’ requerem ‘medidas excepcionais’. Ou seja, para salvar o sistema pode-se violar as regras do proprio sistema. Sem tiro no pé, em toda a esculhambação que está o pais unica instituição certa é o Judiciário. Tudo ‘normal’ (discurso padrão). STF evitou o ‘golpe’ (não exatamente nestas palavras). Lamentavel, se os ministros do STF de 64 soubessem disto poderiam dar um ou dois canetaços e evitado a ‘Redentora’. O que traz a tona o assunto ‘especialistas’, gente muito famosa, muito diplomada, muito engomada, muito respeitavel e muito tapada.

  8. Negacionismos e terraplanismos são o alvo/espantalho de alguns. Por outro lado temos pessoas que ainda acreditam no comunismo, gente que defende a ‘teoria monetária moderna’ (puro negacionismo economico, receita para hiperinflação). Alas, algum imbecil por ai falou que ‘os governos dos EUA se endividam desde sempre sem problema nenhum’. Primeiro, para quem não notou, Brasil não é os EUA. Segundo, ‘The Economist’ duas semanas atrás alertou que os governos das economias desenvolvidas (as que importam) estavam gastando demais e isto tem o potencial de dar KK. Não pouco diga-se de passagem. Terceiro: Plano Real tinha um tripé, meta de inflação, superavit primario e cambio flutuante. Efeaga andou mexendo no ultimo para se reeleger e deu KK.

  9. Quanto ao quesito ‘bobagens’, cada um gasta seu tempo como bem lhe aprouver. ‘Bobagem’ é subjetivo. Alas, as pessoas precisam de uma valvula de escape. Nem todos podem ser ‘intelectuais’ de esquerda com problemas sérios de constipação que se acham palmatória do mundo. Simples assim.

  10. Bobagens e mentiras? Molusco com L., o honesto, falou com o FMI para dar ‘uma força’ para a Argentina. Segundo ele a pandemia e a seca avacalharam a economia dos hermanos. Mentira, Argentina terminou 2019 com 54% de inflação ao ano. Por aqui caiu o preço dos combustiveis. Poderia ter sido feito duas semanas antes (basta olhar os dados), governo adiou a medida para coincidir com o anuncio da nova politica de preços da Petrobras e fazer parecer que eram efeito e causa.

  11. Bombas semióticas? Kuakuakuakuakua! Roland Barthes analisando anuncio de macarrão. Kuakuakuakua! Lembra a bolha dos intelectuais franceses, Chomsky e Lacan, o impostor. Sokal e as imposturas academicas. Pseudo-ciencias.

  12. Por partes. Big Techs não são tudo a mesma coisa. Obvio que estão sendo utilizadas como espantalho para calar a dissidencia. Facebook é uma rede social. Ja envelheceu, migraram para o Instagram os mais jovens (ou seja, mais imagem do que texto). Zuckerberg tentou emplacar a Meta, mas não decolou. Pessoal migrou para o Tik Tok (videos curtos, os 140 caracteres do Twitter em imagens). E outros menos cotados (Discord, etc.). Telegram é uma ferramenta de troca de mensagens (não muito diferente na finalidade do SMS).

  13. Era de aquario foi só mais um chute, otimismo idealista que popularizou-se depois do filme ‘Hair’ que foi baseado num musical da Broadway. Alas, o Veppo quando lecionava literatura volta e meia contava uma historia (o que lembra a pandemia, professores reclamando do contato com os/as alunos(as). Talvez porque em alguns dias o animo da turma não era o ideal. Certa vez foi chamado para atender uma moça, ele era psiquiatra. A criatura teve a brilhante idéia de assistir ‘Hair’ no Independenia e comer alguns cogumelos antes. Não entrou em detalhes, citou o caso no meio de outra historia, um obiter dictum.

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