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Censo e Bom Senso – por Orlando Fonseca

Contradições de quem reclama da “falsidade” e o mais de milhão de ausentes

Qualquer aluninho do Pré-escolar sabe que, ao final de um passeio, a Profe vai contar a turma pra saber se todos estão prontos para entrar na van e voltarem para a escola. A professora tem o cuidado de não deixar ninguém para trás, e a turminha vai querer participar desta conta. Com certeza, ninguém vai querer largar a mão de ser um desses números, a menos que esteja perdido.

Por isso é que me causa espanto que mais de um milhão de brasileiros optaram, deliberadamente, a ficar fora do Censo 2022. Recenseadores do IBGE foram recusados em 1.000.667 domicílios durante a coleta de dados. E não foram apenas pessoas com baixa escolaridade, ou em domicílios remotos em lugares ermos. Só posso atribuir tal disposição de não ser contado ao negacionismo, que tomou de assalto o país, no último período.

Antes disso, o próprio governo federal (que assumiu em 2019) já havia tomado decisões com a finalidade de desidratar o órgão, vital para que tenhamos conhecimento da saúde da vida Republicana. Dele é que obtemos diagnósticos imprescindíveis para a continuidade de procedimentos, ou o início de um tratamento, se for preciso.

Em meio aos desgovernos da pandemia, passou a mais uma das iniciativas administrativas desastrosas. Inclusive, impactando sobre a coleta de dados, que teve de se prolongar tanto pela falta de bom senso do governo, quanto pelas restrições sanitárias, em face do vírus Covid 19.

Agora leio que vários prefeitos estão insatisfeitos com os resultados publicados. E não é com os casais muito acomodados de suas municipalidades, nem com a fuga de jovens para centros maiores. Mas porque consideram, segundo a fala do presidente da FAMURS, falsos os dados apresentados. Tenho ouvido, ao longo da vida, o testemunho de pessoas que dizem nunca terem sido recenseados.

No meu caso, esta foi a terceira vez que respondi a um Censo nacional. Mas não considero que o meu caso particular possa servir de argumento, pois eu sei que, em termos de estatística, qualquer generalização apressada é uma falácia.

No entanto, dentre muitas prefeituras do Rio Grande do Sul, estão prefeitos correligionários (ou simpatizantes) daquele governo que retirou investimentos do IBGE – alguns o aplaudiram. Este é o resultado da falta de Bom Senso, quando a turma sem-noção toma conta do país.

A verdade dos fatos, o que os números do Censo só fazem confirmar, é que o crescimento populacional do Brasil (assim como se verifica no mundo todo) está em uma curva de desaceleração. A taxa de fertilidade vem diminuindo, e vai se intensificar nas próximas décadas. O número de domicílios com uma ou duas pessoas vem aumentando; a população está envelhecendo, a tal ponto que, até 2050 teremos a maioria de idosos.

Isso implica mais do que bom senso dos governantes atuais e os próximos, provendo condições para estas mudanças radicais da população. Os programas e as políticas sociais terão de passar por profundas transformações, para atender demandas que hoje ainda não são massivas.

Com isso quero dizer que é preciso estar mais atento à democracia no país do que temos sido, como povo, até agora. Desde a redemocratização, em meados dos 1980 do século passado, temos altos e baixos neste longo processo. A consistência de programas para atender à população, para que tenham eficácia e permanência, precisam de continuidade como, por exemplo, na economia o foi o Plano Real.

Entretanto, se, por um lado, garantiu a estabilidade da moeda, por outro, perdeu eficiência no resgate, tanto do desenvolvimento esperado, quanto na diminuição das desigualdades sociais. Portanto, cabe à administração pública conduzir políticas que sigam para além de aspectos econômicos e financeiros.

Para tal, é preciso que os eleitores façam escolhas para além de simpatias pessoais. O que conta mesmo, tanto em um Censo quanto na vida democrática, é o bom senso, aquele que considera e elege projetos políticos que sejam eficazes a fim de que a justiça social alcance todos os que vão entrar nesta conta. De minha parte, como cidadão, não desejo que alguém seja deixado de fora.

(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.

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11 Comentários

  1. ‘[…] projetos políticos que sejam eficazes a fim de que a justiça social alcance todos […]’. Qual ‘justiça social’? A dos vermelhos? Esta é uma platonice que server para tirar o voto dos desvalidos e resolver problema nenhum. Enquanto for conveniente a ‘justiça social’ nunca estará completa. Obvio. Acham que ainda enganam alguém.

  2. ‘[…] resgate, tanto do desenvolvimento esperado, quanto na diminuição das desigualdades sociais’. ‘[…] políticas que sigam para além de aspectos econômicos e financeiros’. Desenvolvimento, diminuição de desigualdades sociais e aspectos economicos financeiros não são incompativeis. Volta o assunto ‘aversão a tecnica e aos numeros’ (que também é ‘negacionismo’), decisões tomadas em gabinete (por cabeças de bagre) tendo como base o ‘qualitativo’ e ‘as boas intenções’. Aversão vermelha a avaliação de politicas publicas, critica ideologica ao ‘positivismo’. Desculpa para desperdiçar dinheiro publico sem criterio nenhum em empreendimentos sem futuro. Vide a campanha para novos campus do IFFar na região, o ‘novo asfalto na estrada para São Martinho’.

  3. ‘[…] bom senso dos governantes atuais e os próximos […]’. Não vai rolar, nunca tiveram e não esta no horizonte começarem a ter. ‘Os programas e as políticas sociais terão de passar por profundas transformações […]’, também não vai rolar, o padrão é empurrar com a barriga até virar um problemaço. Menos gente pagando de mais gente aposentada. Vagas sobrando nas universidades e similares. Mais gastos com saúde. Não é assunto novo e já foi comentado muitas vezes. Alas, quem falava muito sobre o assunto era Carla Kowalski, candidata a vice na chapa do Behr anos atras.

  4. Tive problemas para responder o Censo (tres tentativas). Desencontros não são raros segundo a minha bolha. Nos afazeres e perrengues diarios não é prioridade. Os resultados tem um erro, IBGE sabe disto. Em muitos lugares do Brasil é complicado, periferias das grandes cidades onde o crime domina, cafundos da Amazonia.

  5. ‘No meu caso….’. Problema da indução. Alas, escrevi um livro, ‘Chupinhando Harry Potter e a Caverna do Dragão’. Já tem 850 exemplares encomendados, certamente será dos mais vendidos.

  6. Prefeitos sabem que os resultados do Censo implicam na diminuição de certos recursos. Bateu no bolso, dai a grita. Simples assim. Esperar argumentos racionais no Brasil é otimismo demasiado. Apelo emocional é mais facil e funciona na maioria dos casos.

  7. Governo anterior acabou. Embora o censo seja necessario quando falta dinheiro de algum lugar deve ser cortado. Vermelhos não sabem o que é isto, para eles tudo é prioridade, tudo é ‘extremamente necessario’, tudo tem que ser feito ao mesmo tempo, ‘duela a quem duela’. O que leva a outra questão, empresas privadas tem acesso a informações sobre a população praticamente em tempo real. Problema é que se o Estado faz isto vira vigilancia.

  8. Palpite, só um palpite. Redes sociais giram em torno de engajamento e nichos. Volta e meia sai um baile tematico na urb. Moulin Rouge saiu outro ano. Por que não um baile dos ferroviarios? Lembrando a epoca da aldeia onde a ferrovia era importante? Muito brega? Muda-se o nome. Concurso fotografico do Art Deco. Permitiria-se, uma possibilidade, retoque das fotos via Photshop para dar uma perpectiva do futuro. Banners com as melhores fotos nos shoppings da aldeia. Até poderia-se colocar fotos de Miami junto para destacar as semelhanças. Na mesma toada, museus fechados e só as escolas visitam. Por que não pegar pessoal de audiovisual e fazer visitas guiadas (por alguem minimamente carismatico) de cada sala. Videos curtos disponibilizados no Youtube. Algo deste tipo pode até já existir ou estar acontecendo, não se sabe (a passo de tartaruga, pode ser). Total zero, divagações.

  9. Alas, vejamos o Distrito Empulhativo. Centro historico caindo aos pedaços. Uma hora teria que ser arrumado. O que o pessoal do paço municipal resolveu fazer? Embalou para presente e marketou em cima. Lançou uma candidatura. Promoveu o congraçamento de algumas patotinhas da urb. Soviet do Ego Inchado marchou e abraçou, ‘nós somos o exemplo!’. Enquanto alguns falaram em aglutinação outros resolveram utilizar uma palavra da moda ‘pertencimento’. Adesão ao que foi oligarquicamente definido. Algo que por si só discutivel, as pessoas podem decidir que a tal coisa não lhes pertence (adesão não é compulsoria). Logo fica um assunto da classe media ‘esclarecida’ da aldeia.

  10. ‘[…] obtemos diagnósticos imprescindíveis para a continuidade de procedimentos, ou o início de um tratamento,[…]’. Obvio que não. Politicos(as) tem aversão a numeros, a tecnica. Grande parte das politicas publicas é com base no que dá mais voto, no que dá mais ‘comissão’, no ‘achismo’ e no ‘qualitativo’. As decisões são tomadas no ar condicionado por grupos restritos; cria-se uma narrativa para justificar e empurra-se goela abaixo da população. Simples assim. Não adianta descrever a teoria, fingir que ‘está funcionando’ e ignorar o que a grande maioria está enxergando.

  11. ‘ Só posso atribuir tal disposição de não ser contado ao negacionismo, que tomou de assalto o país, no último período’. As limitações cognitivas do autor são bastante evidentes. Alguns certamente acham uma aporrinhação. Outros com medo de golpes/assaltos (aconteceram). Maioria acha que ‘não dá nada’, desconhece a multa salgada. Possivelmente algum(a) recenseador(a) registrou recusa onde estava dificil conseguir fazer o trabalho. Ou seja, inventou-se uma ‘regra geral’ que coaduna-se com um chavão politico. Tentativa infantil esteril de ‘influenciar’ opinião alheia e reassegurar a militancia (que não tem capacidade de raciocinar sozinha). Vida de intelectual organico é esta mesmo.

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