Beatriz Francisca de Assis Brandão (1779-1868) – por Elen Biguelini
A vida da poetisa mineira e de grande participação política nos limites da época
A poetisa mineira nasceu em Ouro Preto em 29 de julho de 1779. Foi a filha mais nova do Sargento-mor Francisco Sanches Brandão e de Isabel Feliciana Narcisa de Seixas, uma família aristocrática de Vila Rica. Segundo os padrões da época, os talentos literários da jovem Beatriz não eram bem vistos, então, seguindo uma educação formal católica e observando a necessidade de formar esposas e não poetisas, seus pais optaram por tentar cortar as arrestas de sua imaginação, limitando seu contato com os livros e com a escrita poética.
Ainda assim, escreveu diversos livros de poesia e foi consagrada na sua posição de autora minera, ao ponto de ter sido proposto, por Joaquim Norberto, em 25 de outubro de 1850, que ela fosse honrada pelo IHGB. O instituto, no entanto, negou a entrada desta senhora por não serem aceitas mulheres em seu grupo.
Foi professora e abriu um colégio para meninas em Ouro Preto (a Escola Pública de Meninas, em 1830), ensinando as jovens não apenas aquilo que era esperado no período, mas também o apreço pelas letras.
Casou-se, mesmo demonstrando não desejar uma união, em 20 de maio de 1813 com o Alferes Vicente Batista Rodrigues Alvarenga.
O casamento não trouxe filhos e também não significou o final da vida literária de D. Beatriz (como assinava), que continuou a escrever. Em certo ponto, seu marido chegou a ser conhecido como o “marido da professora”. Em 1832 pediu o divorcio do marido, poucos dias após este anexar uma execução contra a irmã de sua esposa sobre os bens testamentários do pai de ambas. D. Beatriz se posicionou a favor da irmã, demonstrando que o Alferes não a representava. A traição do marido foi tema de algumas de suas poesias e a justificativa para a separação.
Separada, já com 60 anos, mudou-se para a corte, no Rio de Janeiro. Neste local organizou uma homenagem a Dom Pedro I, no qual cantou uma música de sua autoria, e teve uma participação política ativa (ao menos de acordo ao que era permitido às mulheres).
Faleceu aos 89 anos, em 5 de março de 1868.
Seu primeiro poema publicado surgiu em 1825, no jornal “Abelha do Itacolomi”, mas sua obra figurou em grande número periódicos, incluso da corte carioca.
Além de poesia, escreveu prosa (especialmente referente a educação feminina) e teatro e traduziu.
Suas obras publicadas:
Cantos da mocidade, por Beatriz Francisca de Assis Brandão, volume I. – Rio de Janeiro : Emp. Typ. Dous de Dezembro de Paula Brito, 1856.
“Cartas de Leandro e Hero” (1859, 1861).
Sua obra pode ser encontrada na tese de doutorado de Claudia Gomes Dias Costa Pereira.
Referências:
Lopes de Oliveira, Américo. “Escritoras brasileiras, galegas e portuguesas”. s.l. Tipografia Silva Pereira, 1983, 32
Motta, Laura Oliveira. “A representação da mulher letrada no Brasil oitocentista: a biografia de Beatriz Brandão pelo intelectual Joaquim Norberto”. Aedos, Porto Alegre, v. 11, n. 25, p.37-51, Dez. 2019.
Pereira, Claudia Gomes Dias Costa. “Contestado fruto: a poesia esquecida de Beatriz Brandão (1779-1868)” Pos Graduação em Letras- Estudos Literários -Tese de Doutorado- Belo Horizonte, UFMG, 2009. Acesso via: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/ECAP-7YMPDA
Pereira, Claudia Gomes. “A poesia esquecida de Beatriz Brandão (1779-1868)”. Navegações. v. 3, n. 1, p. 17-26, jan./jun. 2010. Acesso via: https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/navegacoes/article/view/7182/5180
Priamo, Fernanda Pires; Gonçalves, Leandro Pereira; Nogueira, Nícea Helana de Almeida. “Literatura Imperial: a escrita poética feminina de Beatriz Brandão”. Revista de Artes e Humanidades. Contemporâneos, nº8. Maio- Out 2011. Acesso via: https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwjfrLehhtaAAxXcGLkGHeTaAMMQFnoECDIQAQ&url=https%3A%2F%2Fwww.revistacontemporaneos.com.br%2Fn8%2Fdossie%2Fliteratura%2520imperial.PDF&usg=AOvVaw1KfsF7xqbv2TaT9BxOwaYd&opi=89978449
(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.
Nota do Editor: a imagem de Beatriz Francisca de Assis Brandão, que abre este artigo, é uma reprodução obtida na internet.
ATENÇÃO
1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.
2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.
3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.
4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.
5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.
OBSERVAÇÃO FINAL:
A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.