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Bolsonaristas raiz estão tentando derrubar Costa Neto da direção do PL – por Carlos Wagner

Objetivo é eleger candidatos no pleito municipal. Dia seguinte é outro assunto

Quantos prefeitos de capitais serão eleitos no próximo ano pela influência do ex-presidente Jair Bolsonaro? (Foto EBC)

A imprensa não está atenta à disputa de poder dentro do Partido Liberal (PL) entre os seguidores do ex-presidente da República Jair Bolsonaro e o presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, 73 anos, um dos mais experientes e astutos políticos do Brasil. Costa Neto não esconde a sua irritação com as ações radicais dos chamados bolsonarista raiz e os seguidores do ex-presidente deixam público o descontentamento com a moderação do presidente do PL, em especial com os seus laços de amizade com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Lembremos que Bolsonaro entrou o PL no auge da sua popularidade e poder, depois de fracassar na tentativa de fundar o partido Aliança pelo Brasil. Não conseguiu as 500 mil assinaturas necessárias para erguer o partido. E que foi graças ao prestígio político dele que o PL tem hoje a maior bancada do Congresso (99 deputados federais e 14 senadores).

Mas Bolsonaro não pode dizer que o partido é dele, como tentou dizer, quando era presidente, que o Exército era seu. O partido é de Costa Neto e as regras são as dele. Não é por outro motivo que ex-presidente tem seguido as determinações do partido de usar a moderação nas suas manifestações públicas.

Antes de seguir a nossa conversa vou dar uma explicação que considero necessária para os meus colegas repórteres e os leitores. Em nome do bom jornalismo é sempre bom informar o leitor de onde tiramos as informações. O que vou escrever não é opinião. Vou relatar fatos que consegui na leitura atenta ao que temos publicado nos noticiários, em informações encontradas nas entrelinhas das nossas matérias e nas apurações que fiz conversando com fontes sobre a relação entre Costa Neto e os bolsonarista raiz.

Voltando a nossa conversa. Todas as semanas explode um rolo no colo do ex-presidente. Isso não é novidade para Bolsonaro. Durante as quase quatro décadas em que foi parlamentar (deputado federal e vereador no Rio de Janeiro), ele respondeu a muitas ações na Justiça por ter transgredido a lei, como em 1999, quando defendeu uma guerra civil para matar 30 mil adversários políticos, fazendo o trabalho que a ditadura militar (1964 a 1985) não fez – há dezenas de outros casos publicados na internet.

A estratégia de Bolsonaro era tirar proveito político da confusão e depois ficar quieto num canto até que as redações dos jornais esquecessem o assunto. Agora não é mais assim, porque os rolos em que o ex-presidente se meteu são nacionais e muito sérios, grandes demais, portanto, para serem esquecidos. Cito o maior de todos: o 8 de janeiro, quando bolsonaristas radicalizados quebraram tudo que encontraram pela frente no Congresso, no Palácio do Planalto e no Supremo Tribunal Federal (STF).

O último que explodiu no colo do ex-presidente foi a arrecadação por Pix de R$ 17 milhões entre os seus seguidores para pagar multas na Justiça – há material disponível na internet. E há outros na fila de espera, como é o caso das 1,3 mil páginas do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado sobre a Covid-19 (CPI da Covid), que colocou as digitais do governo da época na morte de 700 mil brasileiros.

Esses rolos todos estão drenando o prestígio político do ex-presidente junto aos eleitores da direita tradicional e os independentes que decidem na última hora em quem vão votar. Como parar essa sangria política?

Para isso há várias soluções sendo discutidas pelos bolsonaristas raiz e pelas lideranças que fizeram parte do círculo íntimo que gravitava ao redor do ex-presidente. O ponto comum entre as soluções estudadas é partir para o contra-ataque. E a mais encorpada no momento é tomar o poder de Costa Neto e transformar o PL em uma espécie de plataforma de lançamento da contraofensiva para defender o ex-presidente perante a opinião pública. E ser também uma pedra no sapato do presidente Lula no Congresso.

Vou resumir uma longa conversa que tive com uma fonte sobre a disputa pelo poder no PL. “Bolsonaro tornou o PL um partido grande. Portanto, tem o direito de usar a estrutura partidária para dar a sua versão sobre os fatos”. Argumentei que ex-presidente tinha sido declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por oito anos e que, consequentemente, estava foro do jogo eleitoral.

Respondeu: “Este é outro assunto. O que é mais urgente é contra-atacar na opinião pública. Os adversários sabem que Bolsonaro vai eleger muitos prefeitos e vereadores e estão tentando destruir a imagem dele”.

Costa Neto não é um inexperiente no jogo político, fui lembrado por uma fonte. Ele sabe que o destino político de Bolsonaro será decidido nas eleições municipais. Se ele conseguir eleger prefeitos de cidades importantes, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, por exemplo, Costa Neto perde o seu partido para os bolsonaristas. Se a atuação do ex-presidente nas eleições municipais for discreta, os bolsonaristas raiz do PL vão ter que engolir Costa Neto ou mudar de partido.

Aos repórteres, em especial aos colegas que estão iniciando a carreira de comentarista político, lembro que durante o governo Bolsonaro (2019 a 2022) aprendemos que ele e os que o rodeiam decidem as coisas no dia levando em consideração o ambiente político daquele momento. Ou seja, não existe um planejamento. É tudo decidido na hora.

E qual é o momento atual? Preservar o poder de Bolsonaro de eleger candidatos nas eleições municipais. O que acontecerá no dia seguinte às eleições é outro assunto. A não ser que aconteça uma negociação entre os bolsonaristas raiz e Costa Neto, eles vão tentar derrubá-lo. Essa é a realidade de hoje (1º de agosto).

PARA LER NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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