Rio Grande da Solidariedade – por Valdeci Oliveira
‘No fim das contas, todos temos alguma parcela de participação nesta tragédia’
No momento em que escrevo este artigo, nos aproximamos do triste patamar de 40 mortos pela tragédia climática que assolou e continua a rondar o nosso estado. Para além dos números – importantes para avaliarmos a dimensão do fato -, o que estamos a assistir são dramas e destruição em escala causadas pelo (terceiro) ciclone extratropical que deixou cidades sob as águas, destruiu infraestrutura, colocou abaixo pontes, acabou com o comércio local e, pior do que tudo isso somado, arrancou do seio de dezenas de famílias seus entes queridos.
E, enquanto ainda choram pelos seus, são obrigados a pensar em como retomar suas vidas com o pouco ou nada que sobrou. Diz-se que é no caos ou na tragédia que reunimos forças, nos obrigamos a buscar energias que sequer sabíamos ter. E que ambos – caos e tragédia – são oportunidades para a união de esforços, para barreiras ideológicas serem transpassadas, para o objetivo comum ser um só e conceitos e protocolos de gestão governamental revistos.
Não desejável é iniciar tal processo buscando culpados, se eximindo de responsabilidades ou conferindo-as unicamente às forças da natureza. No fim das contas, todos temos alguma parcela de participação – maior ou menor – nesta tragédia anunciada cujo resultado é parte de um processo tão complexo quanto longo e que envolve discutíveis conceitos de desenvolvimento econômico, enviesadas formas de encarar o meio ambiente, insanas maneiras de produção, uso de energia, consumo e práticas inaceitáveis de descarte.
Mas essa é outra história. O momento agora é de foco e ações que minimizem a dor alheia, que façam chegar roupas, alimentos e água potável às pessoas, que se criem condições operacionais de retomada – mesmo que lenta – da vida da população atingida de 75 municípios, da reconstrução do que foi destruído, da recriação de estruturas de saúde e empenho nos cuidados sanitários. O que estiver fora desta lista é secundário.
Com o apoio que o governo estadual tem recebido em diversas frentes é possível criar as tais condições necessárias de trabalho que, importante ressaltar, vem sendo executado de forma incansável também pelas próprias comunidades com o apoio de helicópteros da Marinha, da Brigada Militar, da Defesa Civil e de caminhões do exército, que se somam inúmeros anônimos voluntários e voluntárias, a barcos de vizinhos, carros particulares e organizações da sociedade civil que estão empenhadas em arrecadar donativos. A corrente da solidariedade está funcionando.
O Movimento Rio Grande Contra a Fome, força-tarefa estadual por nós coordenada, já se uniu a esse esforço e instalou um posto de coleta no hall de entrada do Parlamento gaúcho, no Centro de Porto Alegre, para receber alimentos, agasalhos e materiais de higiene e limpeza. No interior, a recomendação é que as doações sejam feitas nas unidades da Defesa Civil, prefeituras e quartéis dos Bombeiros e da BM.
E a Mesa Diretora da Assembleia Legislativa, a qual integro junto com outros deputados e deputadas, autorizou o repasse de R$ 20 milhões do orçamento do Legislativo ao governo gaúcho para ser integralmente utilizado nas ações humanitárias. O projeto, construído por todos os partidos e com trâmite emergencial, será votado na próxima terça-feira, 12.
O Tribunal de Justiça também anunciou o repasse de R$ 5 milhões para o mesmo fim e colocou suas 165 comarcas mobilizadas para arrecadar alimentos e agasalhos. E a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a partir da sua regional, lançou uma campanha para arrecadar recursos a serem destinados à população atingida, além de estar atuando no levantamento da situação em que se encontram as famílias nas comunidades e no auxílio com mantimentos às famílias residentes nas Ilhas do Guaíba.
As fileiras dessa espécie de esforço concentrado também contam com a Caixa Econômica Federal, que iniciará a liberação do FGTS por calamidade aos trabalhadores residentes nas localidades afetadas, e com a Companhia Nacional de Abastecimento, que está destinando 5 mil cestas de alimentos. Como reforço, o governo federal anunciou a antecipação de até duas parcelas do Benefício de Prestação Continuada, de um salário mínimo cada uma, a ser pago em até 36 meses, sem juros ou encargos.
Os municípios contarão ainda com repasses federais extraordinários para a rede de assistência social no apoio e proteção à população com a oferta de alojamentos e provisões materiais. Em outra frente, o programa federal Fomento Rural disponibilizará R$ 4,6 mil a pequenos agricultores que tiveram perdas na produção.
A rede de solidariedade está formada com participação social, sinergia e diálogo entre os governos federal, estadual e municipais, que devem organizar o planejamento e a utilização dos recursos públicos.
Mas tudo isso, apesar de importante, não trará de volta quem se foi. Aos amigos e familiares dos nossos irmãos e irmãs que tiveram suas vidas ceifadas, nossa total solidariedade, carinho e desejo de forças e esperança para superar este momento tão triste em suas vidas.
(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria
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