Rio Grande da Solidariedade – por Valdeci Oliveira
‘No fim das contas, todos temos alguma parcela de participação nesta tragédia’
![](https://claudemirpereira.com.br/wp-content/uploads/2023/09/valdeci.jpg)
No momento em que escrevo este artigo, nos aproximamos do triste patamar de 40 mortos pela tragédia climática que assolou e continua a rondar o nosso estado. Para além dos números – importantes para avaliarmos a dimensão do fato -, o que estamos a assistir são dramas e destruição em escala causadas pelo (terceiro) ciclone extratropical que deixou cidades sob as águas, destruiu infraestrutura, colocou abaixo pontes, acabou com o comércio local e, pior do que tudo isso somado, arrancou do seio de dezenas de famílias seus entes queridos.
E, enquanto ainda choram pelos seus, são obrigados a pensar em como retomar suas vidas com o pouco ou nada que sobrou. Diz-se que é no caos ou na tragédia que reunimos forças, nos obrigamos a buscar energias que sequer sabíamos ter. E que ambos – caos e tragédia – são oportunidades para a união de esforços, para barreiras ideológicas serem transpassadas, para o objetivo comum ser um só e conceitos e protocolos de gestão governamental revistos.
Não desejável é iniciar tal processo buscando culpados, se eximindo de responsabilidades ou conferindo-as unicamente às forças da natureza. No fim das contas, todos temos alguma parcela de participação – maior ou menor – nesta tragédia anunciada cujo resultado é parte de um processo tão complexo quanto longo e que envolve discutíveis conceitos de desenvolvimento econômico, enviesadas formas de encarar o meio ambiente, insanas maneiras de produção, uso de energia, consumo e práticas inaceitáveis de descarte.
Mas essa é outra história. O momento agora é de foco e ações que minimizem a dor alheia, que façam chegar roupas, alimentos e água potável às pessoas, que se criem condições operacionais de retomada – mesmo que lenta – da vida da população atingida de 75 municípios, da reconstrução do que foi destruído, da recriação de estruturas de saúde e empenho nos cuidados sanitários. O que estiver fora desta lista é secundário.
Com o apoio que o governo estadual tem recebido em diversas frentes é possível criar as tais condições necessárias de trabalho que, importante ressaltar, vem sendo executado de forma incansável também pelas próprias comunidades com o apoio de helicópteros da Marinha, da Brigada Militar, da Defesa Civil e de caminhões do exército, que se somam inúmeros anônimos voluntários e voluntárias, a barcos de vizinhos, carros particulares e organizações da sociedade civil que estão empenhadas em arrecadar donativos. A corrente da solidariedade está funcionando.
O Movimento Rio Grande Contra a Fome, força-tarefa estadual por nós coordenada, já se uniu a esse esforço e instalou um posto de coleta no hall de entrada do Parlamento gaúcho, no Centro de Porto Alegre, para receber alimentos, agasalhos e materiais de higiene e limpeza. No interior, a recomendação é que as doações sejam feitas nas unidades da Defesa Civil, prefeituras e quartéis dos Bombeiros e da BM.
E a Mesa Diretora da Assembleia Legislativa, a qual integro junto com outros deputados e deputadas, autorizou o repasse de R$ 20 milhões do orçamento do Legislativo ao governo gaúcho para ser integralmente utilizado nas ações humanitárias. O projeto, construído por todos os partidos e com trâmite emergencial, será votado na próxima terça-feira, 12.
O Tribunal de Justiça também anunciou o repasse de R$ 5 milhões para o mesmo fim e colocou suas 165 comarcas mobilizadas para arrecadar alimentos e agasalhos. E a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a partir da sua regional, lançou uma campanha para arrecadar recursos a serem destinados à população atingida, além de estar atuando no levantamento da situação em que se encontram as famílias nas comunidades e no auxílio com mantimentos às famílias residentes nas Ilhas do Guaíba.
As fileiras dessa espécie de esforço concentrado também contam com a Caixa Econômica Federal, que iniciará a liberação do FGTS por calamidade aos trabalhadores residentes nas localidades afetadas, e com a Companhia Nacional de Abastecimento, que está destinando 5 mil cestas de alimentos. Como reforço, o governo federal anunciou a antecipação de até duas parcelas do Benefício de Prestação Continuada, de um salário mínimo cada uma, a ser pago em até 36 meses, sem juros ou encargos.
Os municípios contarão ainda com repasses federais extraordinários para a rede de assistência social no apoio e proteção à população com a oferta de alojamentos e provisões materiais. Em outra frente, o programa federal Fomento Rural disponibilizará R$ 4,6 mil a pequenos agricultores que tiveram perdas na produção.
A rede de solidariedade está formada com participação social, sinergia e diálogo entre os governos federal, estadual e municipais, que devem organizar o planejamento e a utilização dos recursos públicos.
Mas tudo isso, apesar de importante, não trará de volta quem se foi. Aos amigos e familiares dos nossos irmãos e irmãs que tiveram suas vidas ceifadas, nossa total solidariedade, carinho e desejo de forças e esperança para superar este momento tão triste em suas vidas.
(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria
ATENÇÃO
1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.
2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.
3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.
4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.
5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.
OBSERVAÇÃO FINAL:
A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.