Nicolau e o Palácio do Céu – por Marcelo Arigony
E então “o melhor terreno era aquele... Mas seria o eclipse da vizinhança”
Nicolau era um famoso conselheiro no reino. E o príncipe Lorenzo precisava se aconselhar. Queria construir um palácio novo. Não um palácio qualquer. Ele queria construir “O Palácio”, com O maiúsculo.
Tomado por um arroubo, pretendia erguer um edifício frondoso, que riscasse o céu vestido de azul; e lá no alto talvez se confundisse com o firmamento. Lorenzo era audacioso. E tinha metais suficientes para seu intento.
O príncipe precisava mostrar força e arrojo. Tinha pretensão de comandar todo o Estado, e o reino estava em ebulição. A eleição se aproximava, e formavam-se chapas de cores partidárias antes não sonhadas. Antigos rivais agora andavam de mãos dadas. Seria uma disputa difícil.
Mas para construção havia um problema ético. A gleba onde seria erguida a faraônica obra era ao lado do Palácio da Guanabara, um local grandioso, que abrigava outros antigos príncipes. E que já fora uma das importantes construções do reino.
A imponência do Guanabara estava ameaçada. Ficaria ofuscado pelo Palácio do Céu, caso o príncipe Lorenzo levasse adiante seu ousado intento. E era questão de tempo.
Lorenzo passou algumas noites sem dormir, preocupado com o imbróglio. Precisava construir o novo palácio. E tinha que ser ali. O melhor terreno era aquele. Melhor vista, melhor aeração, ponto alto do reino. Mas seria o eclipse da vizinhança…
Foi então ter com Nicolau, que o ouviu atentamente, coçou a barba e o bigode, e disparou: – construa o prédio. Faça rapidamente e sem temor. Aqueles que ao lado habitam também o fariam, se estivesse na sua posição.
E as obras iniciaram no dia seguinte…
(*) Marcelo Mendes Arigony é titular da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP) em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.
Nota do editor: a imagem do filósofo e pensador político Nicolau Maquiavel, que ilustra esta crônica, é uma reprodução obtida na internet.
Maquiavel é muito citado, pouco lido e muito menos compreendido. Há teses de doutorado tanto sobre o personagem quanto sobre seus livros. Se alguém acha que vai comprar ‘O Principe’ numa banca de revistas, ler e entender, tem problemas cognitivos. Eu? Perdi meu tempo lendo esta ‘piiiiiiiiii’.