O Pedágio e a Tarjeta – por Marcelo Arigony
“Cada carro tem que parar na cancela. Não vejo sentido nisso...”
Pagar pedágio é algo que incomoda. A gente já paga um IPVA bem salgado, taxa de transferência, seguro obrigatório, seguro privado, imposto sobre o valor do carro, na gasolina, no óleo, e no pneu. Aí os caras vêm cobrar pedágio em estradas não duplicadas, cheias de buracos, e com precaríssima estrutura de apoio. Se greve de fome adiantasse eu ia fazer. Como não adianta, resta pagar o pedágio.
Aí vem outro problema. Além de ser penoso e arriscado viajar, pela quantidade de trânsito naquelas estradas não duplicadas, e pela quantidade daqueles buracos e obras nas vias de circulação, ainda tem fila nos incontáveis postos de pedágio. Vejam só.
Mas para aliviar essa dor, um dia desses o meu banco ofereceu uma tarjeta para colar no para-brisa da minha caminhonetinha, e automatizar a passagem em praças de pedágio, cancelas de estacionamentos em shoppings, etc. Achei interessante. Estavam oferecendo de graça, coisa rara. Resolvi aceitar.
Depois tive alguns dissabores. A tarjeta que era de graça passou a ser cobrada mensalmente. Tive que fazer vários contatos com a operadora, e o que resolveu mesmo foi uma reclamação no site “Reclame Aqui”. Por enquanto solucionaram a cobrança indevida, embora algo me diga que logo eles vão querer cobrar novamente.
E no shopping Praça Nova, em Santa Maria, a tarjeta não abre a cancela nem com reza brava. Em algumas cancelas de pedágio em viagem também não abre. Quando o carro chega perto do brete, aciona um alarme sonoro e um flash vermelho, e vem uma moça correndo pra levantar aquela pingola, porque o sem paciência do carro de trás já tá xingando e buzinando.
Aí puxei escassas reminiscências do final da década de 1970, quando meu pai tinha um Passat ano 1976 ou 1977, e fomos acampar com uma barraca Santo André num camping que havia em Morro dos Conventos, um pouco pra lá de Araranguá (SC).
O lugar tinha quatro piscinas, e reunia milhares de campistas. O ruim é que o estepe do Passat era embaixo do porta-malas, por dentro. Então quando furava o pneu na viagem tinha que tirar toda a bagagem para acessar. Mas as quatro piscinas compensavam. De sobra.
Essa é a primeira lembrança que tenho da freeway, e de quando fui apresentado aos famigerados pedágios. Faz 45 anos, e a cobrança era como agora. Tirante a inovação da tarjeta – que não funciona direito e cobram abusivamente – cada carro tem que parar na cancela. Não vejo sentido nisso. Tempo e trabalho perdidos.
Todas as placas de carros que passam ali são filmadas. Bastaria mandar um boleto no fim do ano, ou uma vez por mês para quem passou ali. Mas nem tudo está perdido. Corrigiram o estepe no porta-malas do Passat…
(*) Marcelo Mendes Arigony é titular da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP) em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.
‘Todas as placas de carros que passam ali são filmadas. Bastaria mandar um boleto no fim do ano, ou uma vez por mês para quem passou ali’. Pois é, bastaria as pessoas não cometerem crimes e não necessitaríamos de policia. Em muitos paises da Europa (inclusive Alemanha) funciona parecido com o mencionado. Porem mandar boleto para a casa de alguém (não importa a frequencia) tem um custo. Tem gente que irá informar endereço errado. Outros irão reclamar da dificuldade para mudar endereço. Também há os que não pagarão o boleto. Gerando custo de cobrança. Pode, em caso de insucesso, virar multa. Cujos recursos irão parar na conta do governo e não da concessionaria. Toda esta brincadeira vai impactar o custo do pedagio. O que irá gerar reclamação também. Se o resultado final é sempre reclamação negocio é deixar reclamar. Parodiando Paul, ‘Live and let “se lascar”‘.
Não frequento rodovias com pedagio, muito raramente. Sem tempo e trabalho perdidos. Não é uma maravilha?
‘E no shopping Praça Nova, em Santa Maria, a tarjeta não abre a cancela nem com reza brava. Em algumas cancelas de pedágio em viagem também não abre’. O shopping cujos donos não são da patotinha são deficientes mesmo. Quem não tem tarjeta não tem problema com operadora, com saida de shopping e praça de pedágio. Resumo da opera: conheces o Herodes?
‘[…] estradas não duplicadas, cheias de buracos, e com precaríssima estrutura de apoio.’ Pedagio paga quem usa. Quem não vai toda hora para a capital (exemplo é a 287) não se importa com a duplicação ou não. Aumenta o custo das mercadorias consumidas de qualquer jeito (com buracos ou com pedagio). Tanto faz. Mais do mesmo, a classe media alta da urb acha que as conveniencias dela tem que ser paga pelos outros e que o problema é ‘de todos’. Desculpa é ‘o desenvolvimento economico’ (afirmação sem base nenhuma, chute). Mais reclamam da ‘demora’. Alcaide ‘nosso amigo’ leva 4 anos para fazer 100 m de Calçadão, mas aí está ‘tudo certo’, ‘tivemos muitas dificuldades’. Cereja do bolo ‘o importante é que ficou bom’. Reclamões ainda falam das obras. O tradicional (e imbecil) ‘por que não trabalham de noite?’ (muito mais caro) não falta.
IPVA substituiu a Taxa Rodoviaria Unica e a Taxa Rodoviaria Federal de antanho. Que iam diretamente para a conta do DNER (a federal pelo menos). IPVA desconfio que não tem destinação especifica. Seguro tem outra finalidade. Contribuições sobre combustiveis e lubrificantes idem. IPI e ICMS idem. Diferença entre taxa e imposto é bem conhecida.