O xis da questão – por Orlando Fonseca
E a questão do xis: Santa Maria faz o melhor Xis? Somos a capital do Xis? Ao longo dos anos 70, do século passado, nossa cidade foi sendo ocupada por estudantes vindos de várias regiões do Estado. Era o pessoal que vinha em busca de uma vaga na universidade federal (a primeira fora das capitais). A galera que chegava vinha preocupada com o xis da questão, mas isso tinha a ver com o vestibular e sua novidade das provas objetivas. Trazia na bagagem também o gosto pelos lanches rápidos, saboreados no corre-corre da rotina em lanchonetes ou lancherias (a moda dos trailers e, depois, das Lojas de conveniência veio devagarinho). E foi por aí que se criou em Santa Maria a cultura do consumo de cachorro-quente e cheeseburguer. Este último assumindo, rapidamente, o apelido de Xis.
Quanto às perguntas acima, para mim, deixaram de ter algum peso, por conta do Festival do Xis, realizado neste final de semana. O público que lotou o espaço na Vila Belga estava ávido pela iguaria não deixou dúvida. Foram três dias de muita música (outra característica desta cidade ocupada pela juventude), cervejas artesanais (cada vez melhores) e o famoso item do fast food, produzido por diferentes empreendedores, mas com uma característica fundamental: é de Santa Maria. Ou seja, esta cidade pode, sem qualquer cabotinismo, autoproclamar-se – de boca cheia, diga-se – Capital do Xis. Observando o entrevero – aliás, nome de um tipo do produto do festival – algumas perguntas ainda passavam por minha cabeça, enquanto devorava um completo no capricho. Quem terá feito o primeiro por aqui? Que ele veio de outras localidades, com as variações do famoso cheeseburguer americano, parceiro do hot dog, isso é certo, no entanto, está aí para ser contada esta história gastronômica.
É um item do nosso patrimônio histórico, cuja publicidade se fez boca a boca, com paladares sendo agraciados com um sabor para além do pão, do queijo e de todos os demais ingredientes. Tem Santa Maria no meio, com sua noite efervescente, as suas noitadas alegres; o lanche que virou refeição ao final do expediente, de uma jornada de trabalho, de uma tarde de aulas, pesquisas e estudos. Falando nisso, podemos dizer que temos um “terroir”? À maneira de produtos naturais, como vinho e óleo de oliva, que tiram do solo os elementos minerais de seus traços e notas, nosso famoso Xis carrega o quê? Muito provavelmente, nosso “terroir” do Xis é imaterial. O ambiente juvenil, a cultura da festa, da saída da festa, da saída para um fim de tarde na boa é que entram no segredo deste tempero que torna único o produto.
Outra pergunta que girava sem resposta era: quando é que o Cheese virou Xis? Será que aportou assim, da mesma maneira que chegaram outros modismos do centro do país e do mundo? Por ter sido, na primeira metade do século XX, um grande entroncamento ferroviário, chegou pela Gare um punhado de ideias e fenômenos culturais. Ali mesmo, no local em que se realizava o festival, temos a beleza da Vila Belga, com sua arquitetura peculiar. Ao longo da Avenida Rio Branco e adjacências (espaços totalmente ocupados pelos carros, difícil achar uma vaga nos dias do festival) as fachadas em “art déco” vieram numa dessas jornadas que nossos conterrâneos fizeram por Rio de Janeiro e São Paulo, nas décadas de 30 e 40.
Todos por ali tinham uma história para contar de amigos que vêm visitar a cidade, fazendo questão de provar, outra vez, o nosso Xis – “o melhor do país”. Quando em outras oportunidades, antigos residentes, em sua passagem por aqui, iam tirar a saudade do Galeto “al primo canto” do Augusto (este também saudoso), hoje é o Xis que ocupa a memória afetivo-gastronômica de quem já passou pelo centro do Estado. Xis, cerveja artesanal e rock and roll, ingredientes mais do que saborosos para dar vida a um festival. E como a cidade tem talentos musicais para agradar a todos os gostos! Talvez não possamos entrar na polêmica do Xis coração. Agora, podemos com certeza dizer, de boca cheia, que o Xis do Coração (do RS) é o melhor.
(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.
Santa Maria não tem só o xis. Se falar em pastel grande muita gente sabera do que se fala. Pizza cada um tem sua Mania. Coisas que não ficam devendo para ninguém. Há quem defenda um polo turistico na cidade. Não creio, é um ramo competitivo, não há por aqui algo muito diferente ou particularmente ‘bom’ para justificar o deslocamento. Há quem defenda criar uma ‘Gramado de segunda linha’ para quem não tem como ir na original. Também não é ‘criativo’, por exemplo, construiram uma replica da Fontana de Trevi no interior de SP. Achei medonho. Total zero, não há turismo sem gastronomia. Alas, em alguns lugares o destino turistico é a gastronomia. Vide sanduiche de mortadela do Mercadão de SP. Vide Bairro Santa Felicidade de Curitiba (onde fica o Madalosso, maior restaurante da AL).
Gastronomia, a verdadeira,, da urb é pobre. Um pouco mais de tecnica pelo mesmo custo faria bastante diferença. Italia e França são famosos por restaurantes pequenos utilizando produtos locais. Santa Maria tem movimento pela agricutura familiar. E só ligar os pontos.
‘[…] as fachadas em “art déco” […]’. Grande maioria não da a minima para isto. Se fosse na Gare ou no Parque da Medianeira apareceriam de qualquer maneira. Cacoete vermelho, acham que a repetição muda alguma coisa. Comunas, aqueles que ‘não existem’, gostam de soltar em debates por aí: ‘é um problema do capitalismo’, ‘este problema é causado pela maneira que a sociedade está organizada, devemos repensar alternativas’, ‘deve ter outra maneira de fazer isto’, ‘o capitalismo mudou esta mais ‘consiente”. E daí para ‘capitalistas são maus, egoistas’ e ‘a culpa é dos bancos e dos rentistas’. Ou como disse uma vermelha num canal gastronomio outro dia ‘temos que romper estruturas para criar novas’. Pessoal que vive em Narnia é engraçado!
O que leva a outro assunto, ‘existem x mil pessoas passando fome no Brasil’. Tortura-se os numeros e tortura-se os conceitos. ‘Insegurança alimentar’ virou ‘fome’. Existe uma diferença sutil, insegurança alimentar é indisponibilidade de alimentos ‘saudaveis’ ou ‘adequados’. Obesidade pode ser sintoma de insegurança alimentar. Alas, lembra uma comunista de Tik Tok ianque (eles também tem gente que vive em Narnia). Noutro dia publicou um video dizendo que ‘as condições para a derrubada do capitalismo nunca foram tão boas’ e que ‘outras nutricionistas deveriam entrar em contato com ela para discutir como alimentar a população depois da revolução’. Geração ‘woke’. Chacota maior foi motivada pela presunção. ‘Vai haver uma revolução, vou sobreviver e me tornarei uma lider’. Só dando risada mesmo.
Terroir? Xis são dois pedaços de pão com, para horror das nutricionistas, um monte de comida superprocessada dentro. Sem a malandragem do hamburguer artesanal, menos comida, mais chique e mais caro por conta da ‘griffe’. Cerveja artesanal existe em todo lugar, mas esta pode ter peculiaridades.
Festival não foi péssimo. Mas é bom continuar acontecendo e ocorrer aperfeiçoamentos. Concurso de melhor xis é importante porque melhora o nivel médio da qualidade. Porém desdobrar em eventos menores é algo a ser pensado. Melhor xis no centro, na região oeste, de Camobi. Final com comissão julgadora. Esta historia de formulario online com ganhador unico fica parecendo marmelada. Até porque a grande maioria não se da ao trabalho de prencher formulario (ideia de burocrata).
Xis da terrinha é o melhor? Subjetivo. Para os que nunca saem da aldeia provavelmente, não conhecem outros. O importante do Festival é que aconteceu e atraiu publico, numeros não interessam até porque são sempre inflados. E o que a casa tem para oferecer e na falta de coisas realmente ‘boas’ e ‘notaveis’ elogia-se o que tem, ‘melhor do mundo’. Nesta hora algum(a) imbecil pensara em ‘pertencimento’. Ao que se replicaria ‘SM tem 270 mil habitantes, a grande massa não tomou conhecimento’.
Xis, diz a lenda, foi para a Ianquelandia levado pelos imigrantes de Hamburgo, Alemanha. Em Terra Brasilis tem os mais variados matizes, o esporte preferido dos locais é ‘avacalhar’. Acham que é ‘criativo’. Xis com porção de chucrute acompanhando. Xis aberto com um balde de batata frita em cima. A imaginação é o limite. Não esquecendo a pizza doce (incluindo a de sorvete) e o cachorro quente com pure de batatas dentro.
‘Sem nenhum cabotinismo’, kuakuakuakuakuakuakua! Imagine ‘com cabotinismo’! Alas, se fizessem um ‘Festival do Cabotinismo’ iria muito mais gente, é uma das principais caracteristicas da aldeia. Da classe média alta e das patotinhas não faltaria ninguem! Kuakuakuakuakua!