Para onde caminha o mundo? – por Leonardo da Rocha Botega
O enfraquecimento da ONU, o recrudescimento dos conflitos e ainda mais
Para onde caminha o mundo? Esta talvez tenha sido a pergunta que mais desafios impôs aos historiadores ao longo desse, ainda não findado, ano de 2023. Ano em que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, um dos principais instrumentos do pacifismo internacionalistas produzidos no “breve Século XX”, completou 75 anos. Ano marcado também pela crescente instabilidade no cenário internacional.
Apesar de não ter a capacidade de fazer um exercício de “futurologia”, o estudo da História, partindo de uma noção que interligue a longa, a média e a curta duração, a estrutura e a conjuntura, produz importantes apontamentos para a reflexão sobre as tendências do mundo atual. Entre esses apontamentos, o que mais chama atenção é a rápida escalada dos conflitos armados pelo mundo nesses primeiros anos da década de 2020.
Em artigo recentemente publicado no Journal of Peace Research, intitulado Organized violence 1989–2022, and the return of conflict between states, Shawn Davies, Therése Pettersson e Magnus Öberg indicaram que 2022 foi o ano que ocorreu mais mortes por conflitos armados desde o genocídio de Ruanda em 1994.
Ao todo foram contabilizadas 237 mil mortes em 2022. Um recorde negativo que foi puxado pela Guerra na Ucrânia e a pela Guerra do Tigré na Etiópia. O conflito Rússia e Ucrânia vitimou mais de 81.500 pessoas até o final do ano passado, enquanto que o conflito entre as Forças Armadas Etíopes e a Frente de Libertação do Povo do Tigré (TPLF) fez 101.000 vítimas fatais.
Em seu relatório anual, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) divulgou que o número de pessoas deslocadas por guerra, perseguição, violência e violações de direitos humanos atingiu o recorde de 108,4 milhões no final de 2022. A Guerra na Ucrânia e o aumento do número de refugiados afegãos, após o retorno do Talibã ao poder, foram considerados fatores fundamentais para esse aumento. Segundo a ANCUR, em maio de 2023, esse número aumento para 110 milhões, sobretudo, devido a escalada do conflito no Sudão.
Além daqueles amplamente televisionados, como a escalada da ofensiva de Israel na Palestina e a Guerra na Ucrânia, o mundo vivência conflitos armados em grandes escalas em Burkina Faso, Somália, Sudão, Iêmen, Mianmar, Nigéria e Síria. Sem contar as dezenas de conflitos de média e pequena intensidade que vêm ocorrendo em diversas partes do globo. O que demonstra uma forte instabilidade global.
Diferente de uma ordem global pacìfica ancorada no livre mercado, na globalização e na Pax Estadunidense, conforme previam entusiastas do fim da Guerra Fria como Francis Fukuyama, as primeiras décadas do Século XXI tem apontado para um outro caminho. A decadência da hegemonia estadunidense, a avalanche de manifestações xenofóbicas e nacionalistas, a falência da globalização neoliberal, a crescente descrença na democracia e a emergência climática tem ampliado as incertezas de um “mundo confuso e confusamente percebido” como brilhantemente o caracterizou Milton Santos.
Para piorar a situação estamos cada vez mais longe de encontrar uma saída para a crise da governabilidade que tomou conta do mundo com o enfraquecimento da Organização das Nações Unidas como órgão de mediação. Desde sua fundação, para o bem ou para o mal, a ONU se caracterizou como o espaço de resolução de conflitos. Foi nas décadas de 1960 e 1970, período marcado pelo auge dos debates na ONU, que o Século XX, um dos mais violentos da história, teve seu menor índice de mortos por conflitos armados.
Com o enfraquecimento da ONU nesse início de século, regressamos a uma situação peculiar que lembra a virada do Século XIX para o Século XX. Naquela ocasião, às grandes potenciais mundiais apostaram na construção da “guerra para acabar com todas as guerras”. Os resultados foram catastróficos. A instabilidade de hoje se assemelha àquela, produzindo uma estranha sensação de repetição.
Porém, a História não se repete ou, como bem dizia o velho mouro Karl Marx, se a história se repete, “a primeira como tragédia, a segunda como farsa”. A farsa de hoje é imensamente mais destrutiva do que a tragédia do passado. Nesses 75 anos de Declaração Universal dos Direitos Humanos os principais atores internacionais demonstram cada vez mais que essa deixou de ser (se é que um dia foi) o paradigma a ser buscado nas relações internacionais.
(*) Leonardo da Rocha Botega, que escreve regularmente no site, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964).
‘A decadência da hegemonia estadunidense […]’. Que vai ter resultados negativos também. Alas, o pais inteiro esta em decadencia. ‘[…] a falência da globalização neoliberal,[…]’ que a China surfou e aproveitou muito. ‘[…] a crescente descrença na democracia […]’ que deixou de apresentar os resulados que dela se esperavam e criou castas de previlegiados mundo afora. ‘[…] e a emergência climática […]’ que foi instrumentalizada politicamente pela esquerda e deu no que deu. Tentaram ‘acabar com o capitalismo’. Sugeriram soluções ‘faceis’ para problemas complexos sem levar em conta as consequencias. Até a dieta alimentar de multidões tentaram mudar. Alas, ultima COP deu em nada. De novo. ‘Idealistas’ mais atrapalham, desperdiçam tempo e energia do que outra coisa. Não entendem que a melhor solução é a possivel.
Historia começou desde Marx (que não é o Grouxo) a servir como ferramenta politica. Cronica dos fatos se perdeu para ‘encaixar’ na ideologia. Uns começaram a fazer previsões, o ‘se repete’ virou dogma. O que resultou em muita forçação de barra para confirmar a fala do ‘Profeta’.
Donde se chega no aspecto ideologico. ONU nunca teve como objetivo virar um ‘grande Parlamento planetario’ onde existiria ‘um pais, um voto, todos iguais’. Coisa de nefelibata.
Falhas da ONU não são de hoje. Vide Balcans. Vide invasão do Iraque. Porem a função da instituição não era prevenir guerra. Sempre foi evitar um holocausto nuclear. Os bagrinhos que se lasquem.
‘Declaração Universal dos Direitos Humanos’. Coisas de gente que vive esfregando a barriga na mesa num gabinete com ar condicionado. Esqueceram de combinar com os russos. Literalmente. Guerra Fria 2.0. Em certo grau é verdade. Alas, a Declaração da Revolução Francesa precedeu o Terror.